Mercado

Exportadores tentam defender-se

O diretor para mercados emergentes da Goldman Sachs, Paulo Leme, criticou a intenção do governo brasileiro de introduzir mudanças na política cambial considerando que o que foi aventado até agora não surge em momento adequado. Sua opinião é compartilhada por diversos economistas que têm dúvidas tanto em relação às medidas a serem aplicadas quanto à sua eficácia.

Com a cotação do dólar se aproximando de R$ 2,30, enquanto há pouco estava abaixo de R$ 2, é oportuno olhar o levantamento feito pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostrando que, no 1º trimestre, em relação ao mesmo período de 2005, os preços dos produtos brasileiros, pagos pelos compradores estrangeiros, aumentaram bem mais do que os preços internos em 27 dos 29 setores analisados. É o caso dos automóveis, por exemplo, cujos preços externos subiram em média 16,4%, ante apenas 1,3% no mercado interno; dos calçados, 7,6% e 3,6%, respectivamente; de móveis, 10%, ante 0,4%; do açúcar, 46,5%, ante 29,3% – e a média dos aumentos dos preços de exportação ficou em 12,1%.

Isso compensou um pouco, para os exportadores, os efeitos desastrosos da valorização do real ante a moeda norte-americana. Cumpre lembrar que a valorização do real teve outras vantagens para a indústria, como na compra de matérias-primas, componentes e equipamentos a um preço menor, assim como no pagamento de dívidas externas. É verdade que essas vantagens não foram generalizadas. Houve exportadores que tiveram grandes perdas de rentabilidade, como no setor siderúrgico, de 25,9%, que foi vítima do aumento do preço do minério de ferro, em razão da forte demanda externa; de 19,9% nos equipamentos eletrônicos; de 16,2% no setor têxtil, em conseqüência da competição da China. Houve forte aumento da rentabilidade em apenas quatro setores: açúcar (19,9%), petróleo e carvão (18,6%), minérios em geral (11,9%).

No caso da agropecuária se registra queda de rentabilidade de 10%, que poderá ser amenizada se houver um aumento da demanda de óleos vegetais para uso como combustível no próximo ano.

O certo é que mudanças na política cambial só podem ser feitas com muita cautela. Uma redução da valorização da moeda nacional ante o dólar repercutirá nos preços internos e só poderá ser compensada por uma redução das taxas de juros praticadas pelos bancos, assim como por uma redução dos gastos em conta corrente do governo central que reduza o crescimento da dívida pública. A medida cambial mais aceitável e eficiente seria a internacionalização das divisas.

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