Mercado

Exportação depende de investimentos

Deve levar cerca de três anos para que o Brasil consiga exportar etanol para os Estados Unidos, de acordo com analistas. No curto prazo, segundo Júlio Maria Borges, diretor da Job Economia e Planejamento, é mais provável que o Brasil importe álcool combustível dos EUA. “Para aumentar a área plantada de cana-de-açúcar, precisamos de no mínimo três anos.” Segundo ele, pode acontecer de a exportação para os EUA começar antes apenas se o preço do açúcar no mercado externo cair. “Aí vão produzir menos açúcar e vai sobrar cana para o etanol”, diz Borges.

Neste ano, o Brasil tem sofrido com a escassez de produção de etanol, o que levou à alta do preço. O governo brasileiro deve reduzir o percentual da mistura de álcool na gasolina de 25% para 18% como forma de tentar segurar uma subida maior da cotação, lembra o economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, o que deverá forçar a Petrobras a importar mais gasolina. “A safra de 2011 será pior que a do ano passado e vai continuar faltando produto. Há risco de subir o preço de novo e se hoje o país não produz nem o suficiente para o mercado interno, quanto mais para exportar”, diz.

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, também avalia que o Brasil não tem condições de atender ao mercado internacional de etanol atualmente, mas o fim da tarifa nos EUA será um “estímulo” à retomada dos investimentos no segmento. “Estamos mais para importadores do que para exportadores hoje. Mas temos que entender isso como um estímulo para a retomada de investimentos e da produção”, disse ao Valor. A decisão do Senado dos EUA dará mais “segurança” a novos investimentos, segundo o ministro. “As incertezas no mercado internacional dificultavam os investimentos”, avalia. “Agora, temos certeza de que o mercado está aberto”, disse Rossi.

Para Fábio Silveira, economista-chefe da RC Consultores, houv e um erro de análise dos produtores em relação ao momento em que deviam retomar os investimentos, e isso pode fazer com que o Brasil chegue atrasado no mercado americano. “

A abertura do mercado de etanol é um caminho natural, segundo os analistas. O aumento do consumo americano não poderá ser atendido apenas pela produção local. “Ainda que os Estados Unidos não quisessem reconhecer, era uma posição inevitável em função da limitada área agrícola no país”, diz Silveira. Segundo cálculo do economista, até 2014, os EUA seriam levados a importar etanol, pois os terrenos disponíveis para a ampliação da produção de milho para esse fim estariam esgotados até lá. “Ou eles complementam seu consumo com etanol brasileiro ou desistem do seu programa de uso do combustível”, diz Silveira.

Para Borges, a queda de barreiras ao comércio de etanol é um amadurecimento do mercado global. “O mercado de etanol passou por uma fase inicial em que os países olhavam os seus interesses domésti cos. Agora estamos entrando numa fase onde fica clara a necessidade de exportação e importação do produto, pois ele não pode ser produzido em todos os lugares”, afirma Borges.

A falta de terras disponíveis no mundo para a produção de cana-de-açúcar faz com que o Brasil seja o produtor preferencial do etanol a ser consumido pelos EUA. Há também a África, onde o mercado de terras tem surgido como uma opção interessante, mas considerando um cenário de longo prazo.

No Brasil, a expansão deve ocorrer na região Centro-Oeste e em Minas Gerais. Para os analistas, há potencial para crescer sem esbarrar em questões ambientais. “Devemos ter em breve uma nova rodada de investimento no setor sucroalcooleiro, seja pela escassez existente hoje, seja pela demanda futura, e há áreas disponíveis para plantio no Mato Grosso do Sul, Minas, Goiás, Tocantins”, diz Silveira.

A alta do preço do etanol, que é um problema hoje e traz impacto na inflação, deve ser um fator determinante para impulsionar os investimentos no setor. (Colaborou Mauro Zanatta, de Brasília)

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