Mercado

EUA vivem a ressaca do etanol

O boom do etanol dos últimos anos, que desencadeou uma histeria de construções de refinarias, recordes nas cotações do milho, aumento dos preços dos alimentos e esperanças de um novo futuro para a América rural pode estar enfraquecendo.

No ano passado, agricultores da região do Estado americano de Iowa falavam de uma corrida ao ouro do biocombustível e se regozijavam com os preços do etanol e do milho usado para produção atingindo cifras recordes. Mas as empresas e cooperativas agrícolas construíram tantas refinarias tão rapidamente que o mercado do etanol acabou sendo prejudicado pela oferta excessiva do produto, em parte porque os meios de distribuição não acompanharam esse ritmo. O preço médio do etanol no mercado à vista dos Estados Unidos despencou 30% desde maio, declínio que se acentuou fortemente nas últimas semanas.

O fim do boom do etanol possivelmente está à vista, talvez até já tenha chegado, disse Neil E. Harl, professor de economia na Universidade de Iowa, que profere conferências sobre etanol e presta consultoria aos produtores. Esta é uma época perigosa para investidores.

Embora o apoio generoso do governo deva manter a produção do combustível à base do etanol crescendo, a expansão exagerada e mal planejada do setor coloca dúvidas quanto à sua capacidade de atender às expectativas do presidente Bush e outros legisladores, de servir como um importante antídoto à forte dependência do país do petróleo estrangeiro.

E se a situação do etanol piorar, os candidatos à presidência poderão se ver forçados a prometer um maior apoio federal para o setor, particularmente para a região de Iowa, onde em janeiro será realizada a primeira convenção para nomeação dos candidatos à presidência.

Para muitos especialistas do setor, os problemas piores são temporários e foram intensificados pelas dificuldades com o transporte do etanol da região central do país para as áreas costeiras, onde o produto é mais necessário. E mesmo se alguns agricultores que investiram nas refinarias perderem dinheiro, muitos deles estão ganhando muito com os altos preços do milho e outras commodities, que devem continuar elevados por algum tempo.

Mesmo assim, as empresas estão engavetando os planos de expansão e cancelando construção de novas unidades. Se os preços caírem mais, como prevêem muitos analistas, provavelmente ocorrerá uma consolidação generalizada no setor e algumas empresas de menor porte devem fechar as portas.

Os preços em queda do etanol contrastam fortemente com o aumento da cotação do óleo cru, mas ajudam a reduzir os preços da gasolina na bomba. Mas como ele constitui apenas 10% ou menos da mistura, o impacto para o consumidor é marginal.

O Congresso americano, ao baixar legislação para expandir o setor, exigiu muito mais etanol na mistura com a gasolina, um impulso inicial que mais tarde foi estimulado pela proliferação de proibições de uso de um aditivo de combustível concorrente usado para reduzir a poluição do ar.

O setor do etanol, porém, que é tão fortemente subvencionado por incentivos fiscais federais, rapidamente criou inúmeras unidades e se apropriou de uma parte cada vez maior da safra de milho. Muitas usinas entraram em operação nos últimos meses e outras devem ser abertas no fim de 2008. O estoque em excesso do etanol está afetando o mercado. Ao norte de Iowa, agricultores mais prudentes e executivos estão imaginando como reduzir custos e pesando alternativas caso a situação piore.

Não sabemos qual será, em última instância, a cotação do mercado para o etanol, disse Rick Brehm, presidente e diretor-executivo da refinaria Lincolnway Energy. O preço pode cair mais.

Desde que a refinaria de Lincolnway começou a ser construída, em 2005, o preço do etanol no mercado local caiu de US$ 2 o galão para US$ 1,55, segundo Brehm. No mesmo período, uma saca de milho de 27 quilos, representando 70% dos custos de produção, subiu de US$ 1,60 para US$ 3,27. Estamos presos entre duas commodities, afirmou.

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