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EUA vetam expansão do etanol de milho

O governo Barak Obama divulgou ontem as novas regras para as metas de combustíveis renováveis nos Estados Unidos, que representam uma grande vitória para o etanol de cana brasileiro. Essas regras classificaram o etanol de cana, oficialmente, como mais eficiente na redução da emissão de poluentes que o de milho, produzido nos EUA. Essa classificação abre o caminho para usinas brasileiras concorrerem às cotas de “biocombustíveis avançados” , que serão de 2,2 bilhões de litros neste ano e chegarão a 80 bilhões de litros em 2020.

A Agência de Proteção Ambiental, a Secretaria de Agricultura e a Secretaria de Energia anunciaram as novas referências, segundo os quais o etanol de milho reduz em 16% as emissões de poluentes (em comparação com a gasolina), enquanto o de cana reduz em 44%.

Esses índices levam em conta a emissão de poluentes durante o transporte e a distribuição, pela queima de combustível nas usinas. Mas consideram também o controverso cálculo do uso indireto da terra: com o aumento da demanda por milho ou cana para produzir etanol, aumenta o preço dessas commodities e cresce a área cultivada em outros lugares, o que causa desmatamento e, consequentemente, emissão de poluentes. O cálculo foi adotado pelo governo por pressão de grupos ambientais, preocupados com os efeitos dos biocombustíveis no preço dos alimentos e no desmatamento.

Para ser “avançado”, o combustível precisa reduzir em pelo menos 50% a emissão de poluentes, com tolerância de 10 pontos porcentuais. assim, o etanol de cana, que reduz em 44%, está qualificado para abastecer os 80 bilhões de litros de combustíveis avançados que estão na meta da lei de combustíveis renováveis. O etanol de milho ficou de fora.

Para ser qualificado apenas de “renovável”, o combustível precisa reduzir em pelo menos 20% a emissão de poluentes. Como o etanol de milho só reduz emissões em 16% , está comprometida toda a justificativa ambiental do lobby do milho para receber subsídios e manter tarifas sobre o etanol importado.

Como a regra não é retroativa, as usinas de etanol de milho nos EUA continuarão a funcionar e a fornecer para as refinarias. A regra vale para eventuais novas usinas de etanol de milho, que estão abaixo da qualificação ambiental. Portanto, na prática, fica impedida a expansão da produção do etanol de milho.

CELULOSE É MELHOR

O etanol de celulose é o que promove a maior redução nas emissões, de 128%, mas ainda não é viável comercialmente. A diretora da Agência de Proteção Ambiental, Lisa Jackson, deixou claro que, para o governo , o etanol de milho “é apenas uma ponte, uma transição para a próxima geração de etanol”. O preço do milho no mercado futuro caiu 0,1%, refletindo a esperada queda na demanda.

Essas regras ainda vão passar por um período de consultas de 60 dias e o lobby do etanol de milho promete protestar. “Há um grau enorme de incerteza no cálculo do uso indireto da terra, por isso haverá muita revisão”, disse Bob Dineen, diretor executivo da Associação de Combustíveis Renováveis, que representa os produtores de etanol de milho. Segundo os modelos usados por Dineen, o etanol de milho reduz em até 61% a emissão de poluentes.

Joel Velasco, representante da Unica nos Estados Unidos, comemorou o anúncio. “Confirma que há diferenças entre os biocombustíveis”, disse. Biodiesel de soja reduz em 22% e biodiesel de gordura, em 80%.

As novas referências são parte do plano do governo de usar US$ 786 milhões do pacote de estímulo e US$ 1,1 bilhão do Departamento de Agricultura para promover combustíveis alternativos. O plano prevê o aumento da disponibilidade de etanol nos postos, maior produção de veículos flex e mais ajuda para produtores de etanol em dificuldades, já que muitos foram duramente atingidos pela crise e pela queda dos preços.

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