Mercado

Etanol faz enfim o Brasil aparecer

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O Brasil apareceu enfim em Davos, curiosamente por meio de uma empresa estatal (a Petrobras), tipo de companhia que jamais ganharia o troféu Miss Simpatia do empresariado que forma a clientela básica do fórum.

Motivo: o etanol ou, mais amplamente, o biocombustível, do qual o Brasil é tão eficiente e abundante produtor que até o senador dos EUA Saxby Chambliss (republicano da Geórgia) curvou-se: “Estamos recebendo lições do Brasil”, em alusão à possibilidade de produzir etanol a partir da cana-de-açúcar, e não do milho, como fazem hoje os americanos.

Foi durante sessão vespertina sobre o futuro de energias alternativas, em sala lotada, certamente porque o alto preço do petróleo torna mais e mais importante entender as alternativas.

Terminada a sessão, o presidente da Petrobras, José Sérgio de Azevedo Gabrielli, tinha à espera um punhado de jornalistas que não puderam entrar no debate, reservado aos participantes do encontro anual, como é a praxe, entre os quais estão apenas alguns jornalistas convidados.

Foi o único brasileiro a ganhar atenção da mídia global, fora, claro, Edson Arantes do Nascimento, mas por ser Pelé, não por ser brasileiro. Atenção natural: o Brasil é o maior produtor de açúcar e etanol, com suas 34 milhões de toneladas e US$ 2,5 bilhões de exportações anuais. Mas, atenção, o etanol entra com uma fatia quase insignificante nesse total.

Tanto que Gabrielli, no debate, disse que “é ruim para o Brasil ser o único país que tem um programa de utilização do etanol como combustível. É preciso construir mundialmente um mercado para o etanol”, afirmou, com um olho no senador Chambliss, na medida em que os EUA impõem restrições à importação desse biocombustível.

O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), também presente no debate, lembrou que, embora a tarifa americana de importação seja baixa (2,5% sobre o valor do bem), há uma sobretaxa de US$ 0,54 por galão.

O mercado mundial desejado pelo presidente da Petrobras poderia aparecer se houvesse a substituição total do petróleo por combustíveis alternativos, hipótese que sobrevoou o debate de ontem mas foi descartada por todos, pelo menos no futuro previsível, inclusive por Gabrielli.

Há no entanto uma alternativa, apontada por Amory Lovins, do Instituto Rocky Mountain, dedicado à promoção do uso sustentável de recursos naturais: “A combinação de biocombustíveis com carros mais eficientes permitiria substituir totalmente o petróleo”, acredita.

Nesse caso, é óbvio que o Brasil, como grande produtor já testado e aprovado, seria o grande beneficiário.

Mas Gabrielli tem boas notícias também para o público brasileiro: primeiro, o preço dos combustíveis não será reajustado “continuamente” para acompanhar a alta do petróleo, embora o presidente da Petrobras repita que, em algum momento, terá que haver o casamento entre preços internos e internacionais.

Segundo: a Petrobras vai contratar mais 9.000 a 10.000 funcionários, para se juntar aos cerca de 50 mil que compõem seus quadros. Além disso, vai comprar uma refinaria em Pasadena (Califórnia), investimento de US$ 1,4 bilhão. (CR)

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