Documento produzido pela Consultoria Agro Itaú BBA aponta que a produção de trigo nacional tem ganhado espaço nas lavouras Brasil a dentro com margens atrativas e tecnologia genética que garantem boas produtividades e qualidades industriais na região Centro-Sul.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) a produção totalizou 9,7 MM de toneladas em 2022, aumento de 27% frente ao ano passado.
Esse crescimento vem acompanhado de novos investimentos em projetos privados de indústrias de etanol de trigo no Rio Grande do Sul, como foi anunciado no ano passado com as novas plantas da BSBios, CB Bioenergia e Cotrijal, têm capacidade de atender 30% da demanda local de etanol.
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Segundo o banco, os projetos envolvem aporte de cerca de R$ 1 bilhão e a capacidade instalada somada das plantas poderá alcançar 300 bilhões de litros do biocombustível por ano.
“No ano de 2022, segundo estimativas do Itaú BBA, no Rio Grande do Sul, o consumo total de etanol (anidro e hidratado) totalizou 892 milhões de litros. A capacidade prevista já atenderia pouco mais de 30% do consumo local”, calculou a instituição financeira.
Na avaliação do banco, o consumo de etanol hidratado pelo Rio Grande do Sul é “baixo”, considerando que o biocombustível tem cerca de 1% de participação de mercado no ciclo Otto (gasolina C e etanol hidratado) do estado ante cerca de 36% reportados em São Paulo.
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“O baixo consumo do etanol hidratado no estado é consequência do pequeno volume produzido na região, que faz com que os preços do etanol não sejam competitivos com o preço da gasolina nos postos”, diz o banco, que segue: “Quando comparamos os preços dos combustíveis, o etanol hidratado nos postos do Rio Grande do Sul apresenta valores acima dos 90% do preço da gasolina C”.
Para o banco, esses números mostram que há uma “potencial demanda” no estado para absorver o biocombustível produzido por essas novas plantas, se os preços forem atrativos para os carros flex. “As oportunidades são promissoras ao novo segmento da cadeia”, ressaltou.
O Itaú BBA pondera, contudo, que há pontos sensíveis no setor, como: o fato de o Brasil ainda ser um importador de trigo; o aumento projetado para a produção de etanol de milho, que deve totalizar 10 bilhões de litros em 2030; a flexibilidade das usinas de açúcar permitir um maior direcionamento de cana para a produção para o etanol; e uma possível queda nas cotações do biocombustível caso haja excesso de oferta de etanol no estado.
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“A título de cálculo, se considerarmos o volume adicional de 300 milhões de litros de etanol hidratado, será necessário um volume adicional de 790 mil toneladas, ou seja, uma adição de 17% na produção do Rio Grande do Sul em relação à produção de 2022”, observa o banco.
Os analistas ainda completam: “No tocante às cotações, embora seja possível lançar mão do mercado futuro para gerir o risco dos preços do trigo, como não é possível fazer hedge de etanol, a gestão de risco da margem é um pouco mais desafiadora”.
O relatório conclui que “o pioneirismo dos projetos de usinas de etanol de milho no Centro-Oeste pode ajudar a enxergar alguns riscos semelhantes encarados com o amadurecimento da indústria.”