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Estratégia prevê uso de algas para criar biocombustíveis

O uso de algas para a produção de biocombustíveis ou de óleos de cozinha e outros produtos comestíveis são algumas das inovações planejadas por Venter no campo da biologia sintética. “Que tal fazer algas com gosto de carne de vaca?”, sugere Venter.

Os cientistas conseguiram há muito tempo introduzir genes estranhos em organismos. Genes bacterianos são introduzidos em pés de milho para torná-los resistentes a herbicidas e insetos.

Mas, até agora, a engenharia genética é em grande parte um processo que consiste em cortar e colar um gene de um organismo em outro. Somente um ou alguns genes são inseridos em uma célula, e são necessários várias tentativas e erros antes que um gene funcione adequadamente em seu novo hospedeiro.

A biologia sintética visa a permitir mudanças maiores e de uma maneira mais eficiente e previsível. Isso faria com que criar uma célula se assemelhasse a projetar uma ponte ou um chip de computador, permitindo aos biólogos juntar componentes pré-fabricados em diferentes combinações.

Na estratégia de Venter, os engenheiros especificariam todo o código genético de uma célula – essencialmente o software que faz a célula funcionar – num modelo computadorizado, introduzindo as mudanças de design como se trabalhassem num processador de texto. Eles então pressionariam a tecla “imprimir”, por assim dizer, e o DNA seria fabricado a partir de seus componentes químicos. O DNA sintético seria então transplantado em uma célula existente, onde seria “inicializado” e assumiria o controle das operações da célula.

Foi isso essencialmente que a equipe de Venter anunciou em maio (veja infográfico nesta página). Ela sintetizou o genoma de milhões de letras de uma bactéria simples, a peça sintética de DNA mais longa produzida até o momento, e o transplantou em um tipo ligeiramente diferente de bactéria, que então começou a se replicar. Um crítico chamou a criatura sintética de Synthia, um nome que começou a pegar.

Venter admite que não está criando a vida do nada, porque uma célula existente foi usada para hospedar o DNA sintético. Mas afirma que é mais correto chamar esta célula de célula sintética. Como o DNA sintético passou a controlar a produção dos componentes da célula, células replicadas perderão gradativamente as características da célula original.

Ética. Venter afirma que durante muito tempo financiou a pesquisa sobre a ética e a regulamentação nessa área e seria preciso estabelecer restrições à possibilidade de células sintéticas ficarem soltas no ambiente.

Independentemente das implicações éticas do trabalho, alguns especialistas dizem que terá um uso limitado na indústria. A criação da Synthia levou 15 anos e custou US$ 40 milhões. A bactéria sintética não é suficientemente resistente para a produção industrial de substâncias químicas.

O mais importante é que o genoma sintético era praticamente uma réplica do genoma de uma bactéria existente. A verdade é que os cientistas ainda não têm um conhecimento suficiente para projetar um genoma do nada. E, mesmo que conseguissem, seria excessivo, afirma George Church, um pesquisador da área de genética de Harvard: “Uma das coisas que estão faltando é uma clara explicação da razão pela qual se queira mudar todo o genoma.”

Venter afirma que sua companhia usará engenharia genética de maneira mais limitada para os seus primeiros biocombustíveis derivados de algas. Mas acrescenta que a capacidade de sintetizar o DNA está crescendo rapidamente. E embora o primeiro genoma sintético tenha “plagiado a natureza”, afirma que os cientistas acabarão aprendendo a projetar genomas.

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