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Estrangeiro deve ampliar fatia na moagem de cana em 2009

A participação do capital externo no setor sucroalcooleiro do Brasil poderá crescer de forma expressiva em 2009, a despeito da crise financeira. Com R$ 190 milhões em caixa, conseguidos por meio de uma captação, a Tereos, por exemplo, irá expandir sua produção de açúcar e etanol no País e não descarta novas aquisições.

Até o ano passado, o capital estrangeiro já respondia por 12% da moagem da cana-de-açúcar no Brasil, um salto de 11 pontos percentuais sobre a participação desses investidores no início da década, segundo levantamento do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool e do Açúcar de Minas Gerais (Siamig). O total de cana moída no País na safra passada foi de 431 milhões de toneladas. “Se considerarmos a participação dos estrangeiros no conselho dessas empresas a influência é ainda maior. Às vezes não atuam como grupo controlador, mas já fazem parte das tomadas de decisão”, afirmou Mário Campos, assessor econômico do Siamig e autor do estudo. Segundo ele, muitos projetos que serão lançados nos próximos anos têm investimento de capital estrangeiro, mantendo a curva de participação desses grupos cada vez mais ascendente.

Atualmente mais de 20 conglomerados internacionais comandam ou têm participação acionária nas empresas do setor. Isso sem contar a participação estrangeira nas três empresas que possuem capital aberto na BM&FBovespa, os grupos Cosan, São Martinho e Guarani.

Com a possibilidade de venda da Santaelisa Vale, a atuação dos estrangeiros no mercado sucroalcooleiro no Brasil pode se expandir em, pelo menos, 5 pontos percentuais – participação da usina no mercado nacional. Fontes afirmam que Bunge, ADM e Louis Dreyfus estariam na disputa. A controladora da Crystalsev tem capacidade para moer 18 milhões de toneladas de cana.

Entretanto, a Tereos também já declarou estar na ponta compradora, no País. Recentemente a empresa foi apontada como uma das interessadas na aquisição do Grupo NovAmérica, dona da marca União, embora seja concorrente no mercado de açúcar refinado no Brasil. No final do ano passado saiu na imprensa a informação de que a Cosan, ETH (Odebrecht), Cargill e Bunge também estariam negociando a compra de usinas da empresa. A NovAmérica tem um volume de moagem de cana significativo. Na safra 2007/2008, por exemplo, as usinas do grupo esmagaram 7 milhões de toneladas.

Os franceses da Tereos irão expandir sua produção de açúcar e etanol utilizando cana-de-açúcar como matéria-prima e não beterraba, com a qual iniciou a produção da cooperativa em meados dos anos 40. A afirmação foi feita pelo responsável pela área internacional do grupo Tereos, Alexis Duval. Ele também é presidente do Conselho de Administração do grupo brasileiro Açúcar Guarani, do qual a Tereos é controladora desde 2000. Na semana passada, Duval participou da aprovação do aumento da participação da Tereos na Guarani.

O executivo explica que a União Europeia adotou cotas de produção e exportação, o que limita a expansão da produção de açúcar no continente. “Este crescimento apenas poderá acontecer por fusão ou aquisição na Europa. Já no mercado internacional, como no Brasil, o crescimento poderá se dar através de aquisições mas também de aumento de produtividade. O potencial da cana é enorme”, afirma.

Para Duval, o mercado mundial de açúcar é crescente e, no longo prazo, a Tereos pretende expandir as exportações mundiais através do açúcar produzido no Brasil e também em outros países que produzem açúcar a partir da cana. “Vamos investir no Brasil para compensar a redução das exportações europeias”.

Desde que a Tereos assumiu o controle da Guarani, em 2000, a produção de cana do grupo Guarani passou de 3,5 milhões de toneladas para 14,4 milhões de toneladas e, na contramão do mercado, aumentou o volume de cana adquirida por meio de fornecedores. “Em 2000, 40% da cana moída pela Guarani vinha de fornecedores. Hoje, 70% da cana utilizada vem de terceiros”, explica Jacyr Costa, diretor presidente do Grupo Guarani. No Brasil, a média do mercado é de que 40% da cana utilizada pelas usinas vem de fornecedores.

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