Mercado

Estoque vai segurar preço, dizem usinas

A quebra na safra da cana-de-açúcar causada pela seca ainda não é suficiente para sustentar tendência de alta nos preços do etanol, afirmaram ontem representantes do setor industrial que participaram do Fórum Nacional Sucroenergético, em Maringá. Segundo eles, o estoque pode segurar o valor do combustível nas bombas, desde que os próximos meses sejam marcados por clima favorável e equilíbrio entre oferta e demanda.

Segundo o presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), Miguel Rubens Tranin, há produto suficiente para atender o mercado. “O que temos é uma previsão de quebra em virtude da estiagem que tem se prolongado bastante, mas ainda temos produto suficiente para abastecer o mercado. Não há risco de escassez até este momento. Além disso, a perda de produtividade no campo está sendo compensada pela maior concentração de açúcar na cana”, comentou.

Fila de navios deve terminar em novembro

O tempo seco reduz o volume da safra canavieira às vésperas da colheita, mas aumenta a concentração de açúcar na cana e também favorece o carregamento dos navios que fazem fila em Paranaguá para exportar o alimento. Nos últimos meses, aproximadamente metade da estrutura do Porto de Paranaguá tem sido utilizada para embarque de açúcar. Ontem, havia 3 graneleiros atracados e 22 ao largo aguardando o produto. A expectativa da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), no entanto, é que a situação se regularize até novembro.

O superintendente da entidade, José Adriano Dias, informou que a produção que tem abarrotado o porto é a somatória da safra deste ano com o residual da temporada anterior, que estava estocada. “A venda ao mercado externo é feita com bastante antecedência. Como ano passado choveu muito, nós não conseguimos industrializar toda a matéria-prima e tivemos que renegociar alguns contratos. Então ficaram acumulados os contratos de 2010 e os de 2009 que não havíamos atendido”, explicou.

Os fatores climáticos também contribuíram para o congestionamento de navios em Paranaguá. De acordo com o Simepar, o litoral teve dez dias de chuva em julho. O carregamento dos navios é suspenso nessas condições.

O presidente da Coopcana de Paraíso do Norte, Elias Fernando Vizoto, também disse não acreditar em desequilíbrios no setor. “Não há uma definição real de qual é o volume da quebra, até porque se tivermos uma regularização das chuvas isso pode mudar. Ainda não podemos dimensionar o tamanho do estrago em relação à produção agrícola total. O que se precisa realmente é de uma primavera e um verão com chuvas regulares para que a gente tenha uma safra cheia em 2011.”

Segundo o superintendente da Alcopar, José Adriano Dias, a expectativa do setor é assegurar e atender plenamente o abastecimento interno, nem que seja necessário reduzir a exportação e até mesmo a produção de açúcar. “Nós não queremos de maneira nenhuma ameaçar o mercado interno, pois ele absorve 80% da nossa produção.”

Ele ainda salientou que o consumo do etanol está retomando o patamar da entressafra passada. “Com a volta dos preços à normalidade, na faixa de R$ 1,50 e R$ 1,60, o consumidor está voltando a utilizar o álcool”. De acordo com Dias, o consumo mensal na região centro-sul do país está próximo dos 2 bilhões de litros.

Por outro lado, o coordenador do fórum, Luis Custódio Martins, informou que não há expectativa de reduções nos preços do etanol. “Se a oferta for menor que a demanda o preço vai subir. Caso contrário, cair. Mas, estamos vendo que não vai ter perspectiva de baixar. Tudo vai depender da demanda de consumo e da continuação dessa estiagem.”

Quebra ampliada

A quebra da safra da cana-de-açúcar foi um dos principais temas abordados durante o Fórum Nacional Sucroenergético. Na ocasião, a Alcopar informou que diante do longo período de estiagem, a quebra já é de 8% no estado.

De acordo com o superintendente da entidade, José Adriano Dias, essa redução pode chegar a 20%, dependendo da região. “Dos 50 milhões de toneladas que nós tínhamos no início do ano já estamos trabalhando com 46 milhões”, explicou.

O evento em Maringá reuniu representantes de entidades de 14 estados que, juntos, somam 98% da produção brasileira de etanol e açúcar. Na ocasião, os participantes também prestaram uma homenagem ao ex-coordenador e um dos fundadores do Fórum, o paranaense Anísio Tormena, falecido em maio num acidente automobilístico.

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