Mercado

Equipav, enfim, nas mãos da indiana Renuka

Depois de uma longa e estressante negociação, a indiana Shree Renuka e a brasileira Equipav devem anunciar nos próximos dias a conclusão da operação na qual a indiana ficará com 50,79% das duas usinas de açúcar e álcool do grupo Equipav, em São Paulo.

Há meses as empresas travam uma queda de braço para revisar o valor do negócio, finalmente concluído. O Valor apurou com fontes próximas à negociação que o fechamento da operação será anunciado com um deságio de 25% do valor de mercado da Equipav, avaliado no primeiro acordo das duas companhias, anunciado em 21 de fevereiro deste ano.

Na época, o previsto, antes da “due diligence”, era que a Shree Renuka pagaria R$ 600 milhões (US$ 329 milhões) pela participação majoritária nas duas usinas brasileiras. A revisão reduzirá em um quarto esse valor para algo próximo de R$ 450 milhões.

Em 19 de abril acabou o prazo de 60 dias definido entre as duas empresas para concluírem a operação. Aquele foi o momento de maior estresse na transação e surgiram rumores no mercado de que o CEO da companhia indiana, Narendra Murkumbi, teria desistido do negócio. As grandes companhias que tinham disputado a Equipav voltaram a cobiçar os ativos da empresa brasileira – controlada pelas famílias Toledo, Tarallo e Vetorazzo – que enfrentava uma difícil situação financeira.

Segundo fontes do mercado, a própria Equipav, sentindo-se pressionada a baixar seu preço, procurou as antigas pretendentes para sinalizar que a negociação com a indiana poderia não dar certo e que o caminho poderia ser reaberto. “A mensagem era: ainda há chances de fechar com a empresa indiana, mas também pode ser que a negociação reabra”, disse uma fonte uma empresa do setor.

A queda no valor de mercado da Equipav começou a se desenhar durante a “due diligence”, segundo fontes. A empresa indiana teria se deparado com questões importantes que afetaram a atratividade da Equipav como ativo sucroalcooleiro, entre elas, a elevada dependência de cana de fornecedores terceirizados. Além disso, nesse período as cotações internacionais do açúcar derreteram, saindo do patamar de quase de 30 centavos de dólar por libra-peso para 15 centavos de dólar.

Desde o começo, os ativos da Equipav foram bastante disputados por estarem em uma região de São Paulo com elevado potencial para cana e pelas usinas serem tecnologicamente avançadas. Logo após a decisão da Equipav de fechar com a Shree Renuka eram comuns avaliações de que os ativos da companhia brasileira foram superavaliados. O mercado estimou que, em uma referência de preço, a empresa indiana estava pagando cerca de US$ 140 por tonelada de cana de capacidade de moagem, enquanto o mercado negociava naquele momento de alta do açúcar, no início de 2010, algo entre US$ 100 a US$ 110 a tonelada.

A estreia da Shree Renuka no Brasil ocorreu em novembro do ano passado, com a compra de 100% do controle de duas usinas do grupo paranaense Vale do Ivaí. A companhia é uma das maiores de açúcar da Índia, com produção estimada em 1 milhão de toneladas por ano. Tem capacidade de processamento na Índia de 35,5 mil toneladas por dia, o equivalente a 5 milhões de toneladas por safra. Com 100% das duas usinas paranaenses do grupo Vale do Ivaí e mais metade das duas unidades da Equipav, a companhia agrega à sua capacidade de moagem de cana aproximadamente 8 milhões de toneladas por ano.

As duas usinas da Equipav têm instalações integradas de cogeração de energia a partir da biomassa de 203 megawatts (MW) e capacidade de moagem de cana de 10,5 milhões de toneladas por ano. Com endividamento acumulado nos dois últimos anos, reflexo da crise que o setor sucroalcooleiro enfrentou a partir da safra 2007/08 e de investimentos na segunda unidade da companhia, a Biopav, a Equipav teve de ser colocada à venda. No início, os acionistas não queriam abrir mão do controle da empresa, mas cederam pois os potenciais compradores, entre eles a própria Renuka e a Bunge, não concordavam em ser minoritários no negócio. Outros grupos, como Cosan, VREC, Rhodia, São Martinho com a GP Investments também disputavam o negócio.

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