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Empresa produz diesel da cana-de-açúcar

Tudo começou com uma doação de US$ 42 milhões da Fundação Bill & Melinda Gates para a Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), desenvolver alternativas que barateassem o custo de medicamentos contra a malária no mundo, em 2003. Por meio de uma reengenharia genética, o grupo de pesquisadores não só encontrou a solução para reduzir o preço do remédio como também descobriu a fórmula para produzir diesel 100% feito de cana-de-açúcar – considerado biocombustível de terceira geração.

Foi assim que surgiu a empresa californiana Amyris, hoje com subsidiária em Campinas, no interior de São Paulo. O projeto foi apresentado no Fórum de Davos, em 2005, e caiu nas graças de megainvestidores, que decidiram financiar a inovação. Entre os sócios da empresa estão os fundos de investimentos Kleiner Perkins (do americano John Doerr), Texas Pacific Group (TPG), Khosha Venture (do indiano Vinod Khosha) e a brasileira Votorantim Novos Negócios. Até semana passada, a empresa tinha uma parceria também com a trading brasileira Crystalsev, mas recomprou as ações da companhia.

A partir do dia 25 de junho, a Amyris vai inaugurar uma planta demonstração para a produção do diesel de cana-de-açúcar em escala maior, que permitirá inclusive a comercialização do combustível. Neste primeiro momento, a empresa vai comprar o melaço (cana esmagada) de outras usinas para fabricar o diesel, afirma o diretor-geral da Amyris, Roel Collier.

O objetivo, no entanto, é adquirir duas usinas para facilitar a produção. “Estamos conversando com alguns possíveis vendedores, mas ainda não fechamos nada.” O executivo também não quis informar o volume de investimento que a empresa está disposta a investir no setor. Ele apenas frisou que, até 2011, a expectativa é produzir 150 milhões de litros de diesel. Isso exigiria entre 2 e 5 milhões de toneladas de cana.

A tecnologia da Amyris pode ser usada não só na produção do diesel de cana-de-açúcar como também na da querosene de aviação e hidrocarbonetos, livres de enxofre. Para chegar ao produto, usa o processo de fermentação da sacarose da na cana, utilizando praticamente a mesma infraestrutura da produção do etanol. “O setor sucroalcooleiro subestima o potencial da cana, a melhor matéria-prima para desenvolvimento de uma nova rota tecnológica de combustíveis renováveis”, diz Collier.

Mesmo caminho está sendo seguido pela BP Biofuels, que estuda nova tecnologia para produção de biobutanol a partir da conversão de açúcares. Por enquanto, as experiências estão sendo feitas no exterior em parceria com a Du Pont. Mas o Brasil está nos planos da companhia, diz o presidente da BR Biofuels, Mario Lindenhayn. Ele destaca que, em 2008, a empresa comprou 50% de uma usina no Estado de Goiás, com capacidade para moer 2,4 milhões de toneladas.

O projeto é duplicar essa capacidade nos próximos anos, além de adquirir mas uma nova unidade no País. “O Brasil tem uma posição privilegiada em biocombustíveis. O mercado interno tem grande potencial de crescimento.” Lindenhayn comenta que a BP também desenvolve tecnologia para produção do etanol de segunda geração na Flórida, onde uma planta será inaugurada em 2012.

Dentro deste “novo” ambiente, é fundamental: estabelecer, em conjunto com outros países produtores, a padronização do etanol; a adoção de alíquota nacional de ICMS para o combustível, evitando o vai-e-vem de notas e o contrabando de combustível; a venda direta das unidades produtoras para os postos de combustível, destacando a obrigatoriedade de instalação de medidores de vazão nas unidades produtoras.

Recentemente, conseguimos vitórias importantes com a aprovação da MP 450/08, em que tive sete emendas aprovadas, que versa sobre maior participação das energias renováveis na matriz energética, principalmente a biomassa da cana-de-açúcar. Assim como, no ano passado, conseguimos aprovar medidas importantes no âmbito da Comissão de Minas e Energia para que fosse realizado o 1º leilão de Energia Reserva.

Agora, temos desafios importantes em transporte e logística, o que pode inviabilizar regiões produtoras inteiras, diante do alto custo do escoamento da produção. Integrante da Frente Parlamentar em Defesa da Infraestrutura Nacional, defendo a agilização das PPPs e a garantia de investimentos previstos no PAC para construção de alcoodutos, ferrovias e hidrovias.

Além disso, acredito que a participação da Petrobras é fundamental neste processo, a partir de parceiras com as unidades produtoras, fazendo uso de transportes intermodais, no sentido de baratear o escoamento da produção e ajudar na comercialização do etanol, com a construção de terminais específicos para o embarque do biocombustível.

O Brasil pode e deve ser gerador dessa tecnologia, e tem especialistas altamente capazes para tanto, mas é preciso investimentos pesados, público e privado, em pesquisa. Os EUA investem US$ 1,5 bilhão por ano em pesquisa para obtenção da tecnologia de produção do etanol de celulose. O Brasil precisaria investir quinze vezes mais do que os atuais US$ 100 milhões anuais para empatar com os EUA. Agora, o grande salto será o etanol de 2ª geração, de base celulósica.

O papel do Brasil pode ser – e será – extraordinário, por isso a importância do Ethanol Summit. Entretanto, para que as expectativas se confirmem, governo e setor produtivo precisam trabalhar juntos, e o Legislativo, avançar a normatização dos biocombustíveis, e, assim, assumirmos a liderança do mercado global de biocombustíveis.

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