Mercado

Emissões superam R$ 50 bilhões

As captações das empresas no mercado de capitais continuaram mantendo ritmo animado nos últimos três meses, apesar da crise política. Com as novas operações que continuam a ser encaminhadas para aprovação e registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os volumes totais do ano superaram na última semana R$ 50 bilhões, incluídas operações registradas e em análise de ofertas de ações, debêntures, notas promissórias, direitos creditórios e recebíveis imobiliários. O valor é, de longe, um recorde do setor. Antes, o maior volume, de R$ 31,2 bilhões, havia sido registrado em 2000.

De acordo com o superintendente de registro de valores mobiliários da CVM, Carlos Alberto Rebello, no entanto, a expectativa para os próximos meses é ainda positiva. “Pelo retorno que temos dos agentes intermediários, novas operações devem continuar chegando, principalmente agora, que o período de verão e férias está se encerrando nos mercados externos”, disse Rebello.

De acordo com as previsões do superintendente, as ofertas de ações devem passar a ter mais destaque nos próximos meses. “Pelo que está previsto, vamos superar o número do ano passado, quando as ofertas de ações somaram R$ 9,16 bilhões”, avaliou Rebello. “Até agora, foram registradas R$ 7,3 bilhões, porque é preciso contabilizar junto o valor das ofertas de ações e de certificados de depósitos de ações”, explicou. Ele lembra, no entanto, que há duas operações que já divulgaram a quantidade de ações que serão emitidas, o que permite estimar em pelo menos mais R$ 1,5 bilhão o aumento do montante. Além disso, há uma terceira operação já em análise que ainda não divulgou os dados. A maior oferta de ações do ano foi a da EDP Energias, que captou, em julho, R$ 1,17 bilhão.

Mas segundo o superintendente, novas ofertas devem entrar em análise. No site próprio site da da CVM, é possível observar ainda que os pedidos de registros iniciais de companhias também continuam entrando. Os mais recentes em análise são das empresas Paramount (têxtil) e Cosan (do setor de agronegócio, exportadora de açúcar e álcool). Embora o fato de requerer um registro de companhia aberta não implique necessariamente uma oferta de ações subseqüente, muitas vezes pode ser um indicador.

Os números mais recentes do segmento de debêntures também mostram que, pelo menos até agora, as empresas ignoraram a crise política e continuaram preparando várias emissões. Nos últimos 30 dias, cinco empresas mandaram operações para serem analisadas pela CVM. Além disso, outras companhias fizeram assembléias nos últimos dias, para discutir o lançamento destes papéis.

Na última semana, duas operações entraram em análise na CVM: uma emissão de R$ 285 milhões da Aços Villares e outra de R$ 40 milhões da Companhia de Saneamento de Goiás. Há ainda a Elektro, que pretende emitir R$ 750 milhões; a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), com R$ 179 milhões; e a operadora de TV a cabo Net, com R$ 650 milhões.

A próxima deve ser a da Parmalat. Na quarta-feira, os acionistas da companhia aprovaram uma emissão de R$ 800 milhões em debêntures simples não conversíveis em ações. Ao todo, a CVM está avaliando R$ 8,4 bilhões em emissões de debêntures, quase o valor total emitido no ano passado (R$ 9,6 bilhões).

Na avaliação de José Renato Fráguas, diretor da Planner Corretora de Valores, as debêntures têm uma série de características que acabam passando segurança para o investidor. Todas as operações são, por exemplo, avaliadas por agentes de rating.

Além disso, ele cita a figura do agente fiduciário, que procura proteger os direitos e interesses dos debenturistas. Entre suas funções, está a análise das escrituras das emissões, das fórmulas de remuneração e a centralização da comunicação entre a emissora, os investidores e o mercado. A Planner é um dos maiores agentes fiduciários do Brasil. Cuidou, por exemplo, do lançamento de R$ 1,2 bilhão da empresa de leasing do BankBoston e da emissão da Rio Grande Energia, de R$ 230 milhões.

Excluindo as empresas de arrendamento mercantil (leasing), que já emitiram R$ 16 bilhões este ano, a maior parte das companhias está emitindo debêntures para alongar dívidas. Já as leasings emitem para reforçar o caixa, segundo dados da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima).

Ao todo, a CVM já aprovou o lançamento de R$ 25 bilhões este ano, um valor recorde. A Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) prevê que as captações totais nas debêntures chegue em R$ 40 bilhões este ano. “Apesar da crise, o mercado está extremamente líquido”, diz o diretor de um banco responsável pela coordenação de várias emissões.

Mas ferramentas de captação surgidas mais recentemente também têm demonstrado fôlego maior este ano. O caso mais evidente é o dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), cujas captações esse ano já beiram os R$ 5 bilhões, levando em consideração as operações registradas em análise final.

Para se ter uma idéia, em todo o ano de 2004, os volumes registrados nos FIDCs foram de pouco mais de R$ 1,4 bilhão. Também os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) apontam para números que vão mais do que dobrar o valor de 2004, quando o volume foi de R$ 400 milhões.

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