Mercado

Embaixador dos EUA nega que acordo de etanol seja vago

O embaixador norte-americano no Brasil, Clifford Sobel, refutou nesta terça-feira críticas de que o acordo de cooperação sobre etanol assinado entre Brasil e Estados Unidos na última semana seja “vago.

Apesar de o acordo ter sido festejado por autoridades brasileiras, usineiros no Brasil criticaram o fato de o acordo não apontar para uma possível redução da tarifa imposta pelos Estados Unidos para as exportações de etanol brasileiro.

E, em outra frente, analistas apontaram para o fato de que o acordo não teve anúncio de investimentos e deve enfrentar obstáculos políticos e financeiros.

“Não acredito que o acordo seja vago, disse Clifford a jornalistas nesta terça-feira depois de um evento para empresários em Washington.

“Transformar (o etanol) num recurso energético, criar o ambiente regulatório e os padrões, conseguir desenvolver um mercado para o futuro, isso é bastante explícito, afirmou.

Geopoliticamente, o acordo sobre o etanol busca ampliar o mercado para o biocombustível e reduzir a dependência de petróleo na América Latina, onde a Casa Branca vê com preocupação a crescente influência do presidente da Venezuela Hugo Chávez, um inimigo das políticas de Washington.

A ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à residência de Camp David em 31 de marco também busca dar um sinal da importância que os Estados Unidos estão buscando dar ao papel regional do brasileiro, dizem analistas.

Nesse encontro, além de aprofundar a discussão sobre o etanol, os presidentes devem firmar um acordo de cooperação entre os fiscos de ambos países, e discutir formas de ampliar investimentos para incentivar a criação de empregos na região, disse uma fonte diplomática brasileira.

Um possível acordo para trocar dados da Receita Federal de ambos países facilitaria, por exemplo, a investigação de processos de lavagem de dinheiro, como os casos que envolvem o ex-governador Paulo Maluf e os bispos da igreja Renascer nos Estados Unidos.

DÚVIDAS

Nesse contexto, os Estados Unidos buscarão enfatizar mais o papel do Brasil com um “parceiro em diversos temas globais, como a redução da pobreza e as negociações comerciais em Doha.

Mas alguns expressam dúvidas sobre o futuro do acordo de etanol e a intensidade do comprometimento de Lula com Bush.

O brasileiro já deixou claro que não pretende ser um interlocutor dos Estados Unidos para conter a atuação de Chávez no continente, diz Michael Shifter, vice-presidente para Política no Diálogo Inter-Americano, um centro de estudos em Washington.

Lula anunciou na semana passada que irá a Caracas para se encontrar com o venezuelano depois da visita de Bush.

“Bush e Lula têm alguma química pessoal, e estão entusiasmados em colaborar para a produção de etanol, disse Shifter.

“O programa promete, mas enfrenta obstáculos políticos e financeiros. Para dar certo, terá que contar com um compromisso sustentado, o que não será fácil, acrescentou.

Levar o acordo adiante será difícil porque Lula quer se relacionar com Bush e com Chávez na mesma medida, disse Shifter. “Ele resiste a adotar um lado e está sempre ansioso para acalmar as coisas, apontou.

E, do lado de Bush, fica a dúvida se o “engajamento dos Estados Unidos com a América Latina é real e será mantido.

Ele só poderá ser comprovado no futuro, depois do tour que o norte-americano fez a Brasil, Uruguai, Colômbia e Guatemala nos últimos dias, e que termina na quarta-feira com uma visita ao México, acrescentou o analista.

Banner Revistas Mobile