Mercado

Em artigo no Post, Lula ataca barreiras ao etanol

Presidente afirma, no jornal americano, que os biocombustíveis só vão virar commodities se comércio não for obstruído pelo protecionismo

O Estado de S. Paulo – 31/03/07

Patrícia Campos Mello, CORRESPONDENTE, WASHINGTON

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou um recado claro para o presidente George W. Bush em artigo que publicou ontem no jornal Washington Post: vamos cooperar, mas continuamos esperando a eliminação da tarifa sobre o etanol e a redução dos subsídios agrícolas.

No texto, o presidente afirma que o etanol e o biodiesel só vão se transformar em commodities comercializadas mundialmente se o comércio de biocombustíveis não for obstruído pelo protecionismo. E aponta para o calcanhar-de-aquiles da política americana de proteção ao etanol de milho: “Os subsídios do programa de etanol de milho dos EUA levaram a uma alta de 80% nos preços dos cereais americanos. Isso prejudica os produtores de carne e soja e ameaça a segurança alimentar global.”

De fato, produtores de carne nos EUA vêm reclamando por causa da alta nas rações para animais. Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), está conduzindo um estudo com universidades americanas para avaliar o impacto da expansão de culturas para combustíveis nos preços dos alimentos. Nos EUA, o cenário é particularmente sombrio: não há muito espaço para expandir a área plantada de milho sem pressionar os preços de alimentos. No Brasil, em contrapartida, há muito espaço para expansão da soja, sem pressionar preços de alimentos, diz Jank.

A alternativa para os EUA é o etanol celulósico, a partir de grama e outros restos orgânicos – mas essa tecnologia ainda levará pelo menos dez anos para vingar, segundo especialistas. Daí o argumento de que os EUA serão obrigados a abrir seu mercado de etanol para importação se quiserem expandir o consumo doméstico consideravelmente.

No artigo, Lula diz também que a expansão dos biocombustíveis só trará prosperidade em nações pobres se for acompanhado de redução de subsídios agrícolas dos países ricos – a grande batalha brasileira em Doha. “Um aumento significativo no valor dos produtos agrícolas e nos lucros com o comércio poderia ser alcançado se os produtores de biomassa de países em desenvolvimento não enfrentassem concorrência desleal de agricultores subsidiados dos países ricos.”

Lula usa o artigo para responder aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba, Fidel Castro, que acusam o etanol de espalhar a fome, por reduzir a produção de alimentos. “A cana não ameaça a produção de alimentos – menos de 20% dos 340 milhões de hectares de áreas aráveis do Brasil são usados para agricultura. Apenas 1% é usado para cana-de-açúcar.” De quebra, rebate as teses de que a expansão do etanol seria uma ameaça à Amazônia. “Etanol não é uma ameaça direta à floresta amazônica, porque o solo da Amazônia não é adequado à plantação de cana-de-açúcar.”

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