Mercado

É preciso ouvir todos

Já está na hora de usineiros, governo, indústria automotiva e consumidores sentarem-se para uma conversa franca e aberta sobre o etanol. Os consumidores merecem essa atenção, pois a incerteza sobre a oferta do produto no mercado nacional somente é minimizada pela frota, cada vez maior, de carros flex, que possibilita a utilização do etanol ou gasolina. Mas é também a flexibilidade em usar etanol ou gasolina que tem pressionado o mercado do combustível renovável.

Até agora, os produtores de etanol têm usado os números das projeções de safra para pressionar o governo a tomar uma atitude. Mas não disseram ainda o que realmente querem. Negam um desejo latente de rever editado o paternalista Pró-álcool. Como forma de pressão, a Unica, que representa as usinas do centro-sul, responsáveis por mais de 90% da produção nacional do etanol, fez as contas e garante que já nesta safra não haverá cana-de-açúcar suficiente para produzir o álcool necessário para atender a demanda nacional. Serão produzidos 533.5 milhões de toneladas, de acordo com a entidade, uma queda de 4,21% sobre o valor final da safra 2010/2011 (556,94 milhões de toneladas). E, independentemente dessa diminuição atual, a entidade prevê um futuro cinzento e tempestuoso se a produção de cana e os investimentos em novas unidades produtoras não ocorrerem a contento. No entanto, não existe nenhuma projeção catastrófica na oferta de açúcar. Com os preços internacionais nas alturas, a principal fonte de energia vegetal parece que continuará abastecendo os famintos consumidores. O que, ao que tudo parece, não acontece com o etanol.

O que falta, na realidade, é encontrar uma fórmula que atenda todos os interesses, principalmente dos consumidores finais. O governo está certo em tentar mudar os rumos desse debate. A energia é estratégica para o País e não pode ficar à mercê dos humores dos mercados internacionais ou da disposição dos produtores. Ao decidir transferir a questão para a ANP, a presidente Dilma Roussef deu um passo importante. Mas foi uma na ferradura e outra no casco quando a ANP decidiu ouvir os personagens desse imbróglio de forma isolada. É preciso, sim, haver um amplo debate, feito às claras, com a presença de todos, inclusive dos proprietários de automóvel.

Banner Revistas Mobile