Mercado

Dívida de usinas sobe, mas despesa com juro cai

Apesar de a dívida líquida das usinas de cana do Centro-Sul ter crescido 16% no exercício 2012/13, para R$ 37 bilhões, a despesa financeira dessas empresas apresentou uma surpreendente queda de 14%, segundo levantamento do Itaú BBA. A oferta de linhas de crédito com juros subsidiados pelo BNDES foi decisiva para esse menor gasto das usinas com pagamento de juros. Mas o cenário ainda é de uma geração de caixa insuficiente para reduzir a dívida, que equivale a cerca de 80% do faturamento setorial.

Na temporada que terminou em março passado, a dívida líquida das usinas do Centro-Sul foi equivalente a 3,13 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), com aumento em relação ao ciclo anterior (2,56 vezes).

O levantamento considera um universo de 63 grupos sucroalcooleiros, que processaram 366 milhões de toneladas de cana na safra 2012/13, ou 70% da moagem do Centro-Sul. “Essas são as melhores empresas do setor. Todas têm acesso a crédito”, diz Alexandre Figliolino, diretor de agronegócios do banco.

O desembolso dessas usinas com pagamento de juros foi de R$ 3,448 bilhões na última temporada, 14% menos que em 2011/12 (R$ 4,028 bilhões). O mercado estima que entre 18% e 25% da dívida total das usinas seja referente a operações diretas do BNDES – que equivalem a 35% dos financiamentos totais ao segmento.

Grande parte da redução das despesas financeiras decorreu das taxas de juros mais baixas do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, que chegou a ofertar um custo de 2,5% ao ano. Mas, de acordo com Figliolino, a própria queda da taxa Selic, que em janeiro chegou a 7,25% – atualmente está em 9,5% -, também colaborou.

Ao segmento sucroalcooleiro também foi ofertada pelo BNDES a linha Prorenova, destinada ao plantio de canaviais, cuja taxa foi reduzida neste ano para 5,5%, ante entre 8,8% e 9% anteriormente.

Figliolino afirma que essa combinação tornou os financiamentos mais baratos ao segmento, justamente no momento em que as usinas mais demandavam recursos para investir, seja para recuperar canaviais afetados por intempéries ou para acelerar a mecanização das lavouras, para cumprir prazos legais para o fim da queima da cana.

Houve também, segundo ele, uma urgente necessidade de ajustes fabris em busca de ganhos de eficiência ou para o aproveitamento de oportunidades de mercado – como a instalação de torres de destilação para fabricar mais etanol anidro (misturado à gasolina), cujos preços estavam remuneradores.

O fato é que, há pelo menos duas safras, o Capex de manutenção (investimentos em manutenção da operação) do segmento praticamente superou o Ebitda. A necessidade de investimento das usinas tem ficado acima das taxas consideradas “normais”, diz Figliolino. Em 2012/13, o Capex de manutenção das empresas da amostra do banco foi de R$ 11,9 bilhões, acima do Ebitda (R$ 11,8 bilhões). Os investimentos equivaleram a entre R$ 27 e R$ 28 por tonelada de cana processada, bem acima do nível de R$ 10 a R$ 15 por tonelada considerado razoável pelo mercado, afirma o executivo.

“Minha avaliação é que o setor aproveitou as taxas de juros subsidiadas para investir. Houve, na verdade, até uma aceleração de investimentos”, diz Figliolino. Mas ele esclarece que o segmento continua sem expandir a capacidade instalada. Em 2013, observa, apenas quatro novas usinas foram inauguradas no Centro-Sul – todas fruto de projetos anunciados já há alguns anos.

Por outro lado, dez usinas deixaram de operar na região devido a dificuldades financeiras que se agravaram após a crise global de 2008. Segundo levantamento do banco, 49 usinas paralisaram suas operações no Centro-Sul desde 2007, o equivalente a uma perda de 48 milhões de toneladas de cana. E 21 grupos estão em recuperação judicial.

Para o executivo, a necessidade de cumprir exigências ambientais, sobretudo vinculada à mecanização de canaviais, deve manter os níveis de Capex ainda elevados na atual safra, a 2013/14. No entanto, ele acredita que nesta temporada, que já está em sua etapa final, o Ebtida vai crescer em função do menor custo. “A produtividade da cana aumentou. O ‘custo caixa’ por tonelada de cana processada deve recuar para R$ 98 em 2013/14, ante R$ 104 por tonelada do ciclo anterior”, diz.

A receita total também deve aumentar 2,3% em 2013/14, para R$ 48 bilhões. No entanto, quando se relaciona esse indicador com o volume processado de cana, o saldo é uma receita de R$ 120 por tonelada, ante R$ 128,4 em 2012/13.

Para o executivo do Itaú BBA, a questão central é que a maior parte dos grupos que integra a amostra têm dificuldades para gerar caixa suficiente para investir na manutenção da operação e pagar as despesas com juros. “Dos 63 grupos estudados, apenas 19 [que somam moagem de 90 milhões de toneladas] têm caixa livre para investir e arcar com despesas financeiras, portanto, têm uma sobra para diminuir o endividamento”.

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