Mercado

Disparam os preços das colheitadeiras

Se é verdade que nos últimos anos as cotações internacionais dos principais produtos agrícolas exportados pelo Brasil subiram, também é irrefutável que os preços de de máquinas agrícolas como as colheitadeiras subiram muito mais. Com isso, a relação de troca entre produtos e equipamentos vem sendo desfavorável ao produtor rural. Ou seja, para comprar a mesma máquina, é necessário um volume maior de cana, café, milho ou soja. É o que mostra levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria da Agricultura de São Paulo.

Celso Luis Rodrigues Vegro, engenheiro agrônomo do IEA e autor do levantamento, aponta que influenciaram a majoração dos preços dos equipamentos a alta nos preços de insumos estratégicos como aço e metais não-ferrosos, tanto em função da maior demanda mundial como da doméstica. Mas, para ele, isso não explica o elevado patamar de aumento observado.

Para Vegro, o Moderfrota, com seus financiamentos a juros mais baixos desde o segundo semestre de 1999, deixou a indústria mais confortável para aumentar seus preços. “Antes do Moderfrota, os preços dos equipamentos vinham caindo. O programa inverteu a curva”. Vegro observa que os recursos destinados ao Moderfrota são operados inclusive pelos bancos das montadoras, que, ao lado das empresas fabricantes de máquinas agrícolas, integram a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Vegro pondera que as indústrias que operam no país ganharam escala, tornaram-se plataforma de exportação e se modernizaram – em resumo, todos os elementos que propiciam barateamento dos custos produtivos. “Mas ocorre justo o contrário”, critica Vegro, sugerindo que o governo bem que poderia convidar a indústria para conversar. Fonte do Ministério da Agricultura informou ao Valor que já houve essa conversa, e que ela não foi das mais amigáveis.

Os números levantados pelo IEA mostram que, entre dezembro de 2003 e junho deste ano, o preço de uma colheitadeira de grãos modelo MF 3640 aumentou 60%. Nos doze meses encerrados em julho último, o IGP-DI da FGV foi de 11,6% e o IPA-DI da FGV, de 13,95%. Em dezembro de 2003, em relação ao mesmo mês do ano anterior, o preço do equipamento já tinha experimentado alta de 81%, em relação a uma inflação anual de 7,5% (IGP-DI). Em dezembro de 2002, novamente em comparação com idêntico mês de 2001, a alta fora de 44%, face a uma inflação de 26%.

Assim, se em dezembro de 2000, um produtor de milho precisava de quase 11 sacas de 60 quilos do grão para comprar uma colheitadeira, em junho de 2004 o número de sacas passou a 18,28. Em reais, comparados os preços cobrados em junho de 2004 e em setembro de 2000, o salto foi de 150%.

No caso do feijão, o número de sacas passou de 42,15 para 73,48; em moeda, a alta foi de 119%. No do algodão, se o agricultor despendia 9,6 sacas de 15 quilos do produto para adquirir um equipamento em dezembro de 2000, em junho de 2004 precisou de 18,86 sacas. Em reais, comparados os preços cobrados em junho de 2004 e setembro de 2000, a despesa aumentou 76,6%, segundo o IEA. Já o sojicultor precisava de 18,83 sacas de 60 quilos em dezembro de 2000 e 40,95 em junho de 2004 – alta, em reais, de 39%.

Vegro diz que o incremento de preços pode ser explicado pela menor oferta de colheitadeiras no mercado interno. “A escala de produção é bem menor que no segmento de tratores, o que pode justificar o reajuste”. As linhas de colheitadeiras também receberam investimentos em modernização tecnológica nos últimos anos, o que ajuda a explicar os aumentos. Procuradas, as maiores fabricantes de colheitadeiras (AGCO, CNH e John Deere) não se pronunciaram.

No segmento de tratores, uma máquina de porte médio, com motor entre 60 e 70 cavalos, subiu em média 121% de julho de 2000 a junho deste ano. A maior alta foi em 2003, durante contingenciamento dos recursos do Moderfrota. No ano passado, o preço médio registrou incremento 33,8%. Neste ano, o valor médio saltou 4,1%. Fontes ligadas à indústria dizem que os preços atingiram o limite pago pelos produtores e que alta acima desses patamares significaria perda de mercado. (Colaborou CB)

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