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Desertificação ameaça 43% do território alagoano

O risco de desertificação em território alagoano chega a atingir 43% da área total do Estado. A afirmação é do secretário Nacional de Recursos Hídricos e representante do governo brasileiro na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, João Bosco Senra. Ele está em Maceió participando do 2º Encontro de Pontos Focais Estaduais para o Combate à Desertificação, que reúne representantes dos governos e ONGs dos nove estados do Nordeste, de Minas Gerais e Espírito Santo, iniciado ontem.

Esse processo, segundo Senra, significa muito mais do que perda do solo por sua capacidade produtiva, avançando para o êxodo rural, o agravamento da pobreza, redução de empregos, renda e quedas drásticas na economia do Estado. O pior, segundo ele, é que isso não seja uma projeção a longo prazo. “Já existem perdas graves e as previsões de desertificação são para os próximos cinco ou 10 anos, dependendo da região”. O secretário afirma que em regiões do Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba a situação já é gravíssima.

As primeiras teses sobre a desertificação do Nordeste brasileiro, segundo João Bosco Senra, têm mais de 20 anos. Em 1994, o Brasil assumiu – com a Convenção da ONU – o compromisso de elaborar o Programa Nacional de Combate à Desertificação, mas o assunto esfriou e só foi reaquecido a partir do ano passado, já no governo Lula. “Estamos muito atrasados. O Brasil é o único grande país da América Latina que não elaborou o seu plano”. Ele citou Argentina, México, Chile, Nicarágua e Cuba entre os países que avançaram nessa questão. “O México chegou a perder 25% do seu PIB por causa da desertificação. No Brasil, 18% do território está vulnerável”, observa, destacando que pela primeira vez o governo colocou a questão no orçamento da União (2004).

Segundo João Bosco, o caminho adotado pelo governo federal é investir na Convenção, que pela primeira vez vai se realizar no Brasil, em junho. Até lá, o plano brasileiro deve ficar pronto.

“É a única convenção da ONU que vincula a solução de problemas da pobreza ao tratamento de questões ambientais”, salienta. O plano, que está sendo discutido em Maceió até o fim da tarde de hoje, deve tratar, necessariamente, de programas de investimento em capacitação, além de medidas concretas de recuperação e prevenção em áreas mais vulneráveis.

Perdas sociais

De acordo com o embaixador da Organização das Nações Unidas para a Convenção de Combate à Desertificação, o cubano Oscar Oramas, há uma relação muito clara entre os baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) de determinadas áreas e o avanço do processo de desertificação, o que significa que a pobreza é uma grave conseqüência social desse fenômeno que alia condições climáticas à ação humana de degradação do meio ambiente.

Ele vê com grande alegria o interesse do atual governo brasileiro em colocar a questão na ordem do dia. “O assunto começou a ser trabalhado há 10 anos, mas tinha sido esquecido. Felizmente, percebe-se uma atenção particular à questão da desertificação junto com as questões de combate à fome, desde o ano passado, em ações que se traduzem na organização deste encontro (de Maceió), onde há a troca de informações, planejamento e discussão da política nacional”, destaca o embaixador.

Oscar Oramas classifica como urgente a necessidade de mobilização nacional, alertando que o País está atingindo um processo de erosão muito forte, especialmente no Nordeste. Na opinião dele, o calendário está bem apertado, mas há metas a serem atingidas até junho, quando o Brasil sedia as comemorações aos 10 anos da Convenção Mundial da ONU de Combate à Desertificação.

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