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Desembarque de grupos brasileiros vai continuar´

O desembarque de empresas brasileiras na Argentina, iniciado em grande escala em 2002, quando a AmBev adquiriu a Quinsa, produtora da tradicional cerveja Quilmes, está longe de cessar. A afirmação é do economista e ex-secretário de Comércio Raúl Ochoa, que considera que o avanço brasileiro na Argentina tende a continuar por longo tempo.

O desembarque de empresas brasileiras na Argentina ainda está em seu início ou está acabando?

Acho que continuará por muito tempo, principalmente porque há um processo de internacionalização das empresas brasileiras. E as empresas argentinas têm papel importante nisso, nesse processo de globalização dos grandes conglomerados brasileiros. É o caso do interesse pelos frigoríficos argentinos, que existe independentemente da conjuntura negativa em relação à carne no país (o governo Néstor Kirchner aplica uma série de obstáculos para as exportações desse produto). As empresas brasileiras estão pensando no futuro, em um bloco poderoso formado por Brasil e Argentina para exportar carne para o resto do mundo. Se elas pensassem na atual conjuntura, iriam embora, como fizeram empresas americanas e européias.

Que outros setores argentinos poderiam ser interessantes?

O setor agroindustrial, o de biocombustíveis e também o financeiro. Esse setor atraiu, nos anos 90, o Itaú, por exemplo. Mas, com a crise de 2001-2002, espantou os investidores. No entanto, a partir de 2006 teve bom desenvolvimento e apresenta interessantes possibilidades. Empresas brasileiras podem cobrir o atraso argentino na área de informática do sistema financeiro. Outro setor sedutor é o energético. A entrada brasileira, imagino, não se restringirá à compra da Pérez Companc pela Petrobrás. Na área têxtil, o cenário é mais complexo. Há várias empresas brasileiras já instaladas. Poderiam chegar outras, para atuar na área de denin.

Em meados dos anos 90 houve um fluxo considerável de investimentos argentinos no Brasil. Várias empresas participaram de licitações no País. Mas essa tendência parece estar atenuada hoje. Qual é o motivo?

O fluxo argentino em direção ao Brasil está complicado. É mais fácil o fluxo contrário. E também há uma questão de valorização de ativos no Brasil medida em dólares.

O desembarque ostensivo de empresas brasileiras teve algum impacto psicológico na população?

Em absoluto. O Brasil comprou empresas emblemáticas.

Mas o impacto verdadeiro aconteceu nos anos 90, quando ocorreram as privatizações de grandes ícones das empresas locais, como a YPF e a Aerolíneas Argentinas. No entanto, a venda de empresas privadas para outras empresas privadas não teve impacto.

O governo Kirchner foi um pouco áspero com os capitais brasileiros que desembarcaram na Argentina, que não encontraram exatamente um mar de rosas.

O governo é áspero com todos.

Na realidade, a atual administração não é muito partidária da compra de empresas por estrangeiros, independentemente de que sejam brasileiros ou de outros países. É uma questão de atitude do governo. Os problemas para as empresas ocorreram, mas não foram tantos. O governo preferirá claramente uma empresa brasileira em vez de capitais americanos ou europeus. ?

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