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Culturas pouco exigentes num solo rico

O avanço das culturas de cana-de-açúcar e eucalipto na microrregião de Avaré é vista com preocupação por órgãos de governo e instituições ligadas ao agronegócio. “A monocultura pode aumentar a receita agrícola do município, mas diminui a atividade agrícola e não traz desenvolvimento regional”, avalia José Antonio Quaggio, pesquisador do Centro de Solos e Recursos Agroambientais do Instituto Agronômico (IAC), ligado à Secretaria de Agricultura do Estado.

A região, segundo Quaggio, é ideal para o plantio de grãos e citros, tendo em vista o seu clima temperado e a boa distribuição de chuvas (50 milímetros por mês, em média). A área já foi pólo produtivo de café e pecuário e, nos últimos anos, registrou avanços no plantio de soja, milho e trigo.

Dayse Marinho Righetto, engenheira agrônoma e secretária de Agricultura de Taquarituba, observa que, o plantio da cana empobrece o solo ao longo dos anos. Segundo ela, a queima da palha da colheita destrói nutrientes, como fósforo, potássio, nitrogênio e cálcio, além de insetos que ajudam a oxigenar o solo. “É um desperdício plantar cana e eucalipto em uma área tão boa para outros cultivos”, diz.

A queimada em si já é motivo de preocupação para o produtor José Tadeu Guerra. Sua plantação de eucaliptos, localizada em Itatinga, é ladeada por um pomar de laranjas e uma lavoura de cana. “A região é muito plana e o risco de um incêndio se alastrar para as propriedades vizinhas é alto”, observa.

A resistência de Guerra à cana também tem motivos econômicos. Sua família plantou cana durante muitos anos para fornecer a uma usina em Bernardino de Campos, próximo a Tejupá. Ele conta que a usina arrendou áreas na região e, quando atingiu volume de produção que precisava, deixou de comprar dos antigos fornecedores. “A usina pagava o quanto queria e, do dia para a noite, deixou de comprar dos fornecedores. Fiquei com trauma de usineiros”, diz Guerra.

José Antonio Quaggio, do IAC, observa que a produção de eucalipto também provoca perda de nutrientes no solo. “O eucalipto deixa um passivo que é o toco [raiz]. Quando termina a colheita da madeira, o produtor tem que erradicar o toco, o que custa caro”, diz. O pesquisador afirma que essas culturas também exercem efeito negativo na economia. “Essas indústrias não compram insumos no comércio local e empregam muito pouca gente no campo.”

José Andrade, secretário de Agricultura de Avaré, admite preocupação com o movimento de bóias-frias para a colheita da cana. Ele observa que as usinas geralmente trazem colhedores de outros Estados, que trabalham na lavoura por seis meses e ficam o resto do ano sem emprego. “Hoje, a cidade não tem estrutura para receber uma massa de trabalhadores temporários. Esse movimento pode aumentar os bolsões de pobreza”, avalia.

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