Mercado

Crise no campo prejudica também empresas do setor

A crise que atinge a agricultura chegou forte também às empresas que atuam na revenda de produtos agrícolas. A queda no faturamento das instituições ligadas a esse setor foi de 39% no ano passado.

Os dados são da Consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), que pesquisou o desempenho de 50 empresas ligadas à revenda de produtos agrícolas, como sementes e defensivos agrícolas. A pesquisa se estendeu por 32 importantes microrregiões de sete Estados.

Leonardo Sologuren, responsável pela pesquisa da Céleres, diz que não existe um comportamento padrão de como a crise afetou essas revendas e que é não é possível uma generalização por Estados.

Em algumas regiões, alguns canais de revenda foram mais afetadas pelo mau desempenho da agricultura do que em outras áreas. Os Estados pesquisados foram Paraná, Mato Grosso, Bahia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

A pesquisa da Céleres apurou que a crise que afetou o bolso dos produtores foi repassada para a margem de lucro das empresas, que recuou 33% no ano passado. As empresas tiveram ainda de conviver com um atraso de 24% nos pagamentos das dívidas dos produtores e com uma inadimplência de 18%.

Entre os sete Estados acompanhados pela Céleres, as empresas de Goiás foram as que apresentaram os piores números do período. Do outro lado, os paranaenses foram os que menos sentiram os reflexos da crise, embora também tenham sido afetados.

Mato Grosso, apesar da forte crise ocorrida na soja, uma das principais culturas do Estado, foi o segundo melhor na lista dos sete Estados, com resultados positivos superados apenas pelos do Paraná.

Ciclos

A agricultura brasileira vinha mostrando forte expansão até 2004, principalmente na elevação de produtividade.

Sologuren diz, no entanto, que a crise dos últimos anos deixou um recado para os produtores. A partir de agora, eles devem cuidar mais da gestão financeira do que da expansão.

Os produtores não se preparam para essa crise, na visão de Sologuren. Nos anos de expansão do setor, eles compraram terras e máquinas, mas descuidaram da gestão financeira.

Os dados da pesquisa se referem a 2005, mas os reflexos da crise persistem neste ano e poderão ir para os próximos. Para este ano, as empresas ainda prevêem queda de 28,4% no faturamento.

Essas revendas agrícolas, representantes de indústrias de defensivos, adubos e outros insumos fizeram investimentos e são responsáveis também pelo fornecimento de crédito aos produtores. Com a crise agrícola, vão pisar no freio e devem reduzir a oferta de crédito em pelo menos 19% neste ano.

Origem na seca

A origem da crise agrícola brasileira começou na ocorrência da maior seca dos últimos 40 anos nas principais regiões produtoras do Sul do país.

Os produtores do Sul tiveram dois anos seguidos de secas, o que comprometeu sua renda. O rendimento foi ainda bastante prejudicado pelo descasamento dos custos de produção com os resultados obtidos com a comercialização do produto.

No início do segundo semestre de 2004, quando os agricultores se preparavam para o início do plantio, o dólar estava cotado a R$ 3,10, elevando os custos de produção.

Na hora da comercialização, em abril do ano seguinte, o dólar recuou para R$ 2,60, o que deu um descasamento entre custos e renda, já que grande parte da produção brasileira é exportada.

Em 2005, o plantio foi feito a um dólar próximo de R$ 2,40, mas a comercialização do ano seguinte -abril deste ano- foi a um dólar próximo de R$ 2,13.

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