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Crise atrasa projetos de usinas de álcool

A maioria dos projetos do setor sucroalcooleiro do Paraná foi adiada em razão dos efeitos da crise econômica internacional. De acordo com a consultoria paulista Procana, antes da crise havia a perspectiva de que sete usinas de açúcar e álcool começassem a funcionar no estado em 2010. Mas, em função da escassez de crédito, a instalação de quatro delas foi atrasada em pelo menos um ano – ou seja, devem produzir a partir de 2011 ou ainda mais tarde. “Esses números incluem apenas empreendimentos considerados viáveis. Ou seja, aqueles com local definido, áreas adquiridas, licenciamento ambiental encaminhado e demais processos legais em andamento. E, mesmo nesses casos, já vemos adiamentos”, diz Josias Messias, diretor da Procana.

O vice-presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), José Moraes Neto, confirma que, no Paraná, o segmento de energias alternativas – como álcool e biomassa – foi o mais afetado pela turbulência financeira. “Antes da crise, notávamos uma procura muito grande por parte de empresários interessados em investir em bioenergia. Eram projetos de biomassa, álcool, cana-de-açúcar. Mas essa procura acabou não se revertendo em linhas de crédito. As contratações de empréstimos não estão ocorrendo como o esperado”, diz o executivo. “Mas investimentos nessa área terão de ser feitos cedo ou tarde. Passada a crise, os projetos devem ser retomados.”

Messias e Moraes Neto não informam que empresas teriam postergado seus empreendimentos. Mas ao menos duas cooperativas – a Corol, de Rolândia (Norte do estado), e a Coopcana, de São Carlos do Ivaí (Noroeste) – confirmam que atrasaram para 2010 a construção de usinas de álcool que pretendiam erguer no ano que vem.

“Temos um projeto de uma usina para moer 1,5 milhão de toneladas. Iríamos começar em 2009, mas preferimos aguardar. Precisamos de condições mais tranqüilas para tocar o projeto”, conta Anísio Tormena, diretor-secretário da Coopcana e presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar).

Em entrevista à “Folha de S.Paulo”, o presidente da Corol, Eliseu de Paula, informou que a cooperativa ficou temerosa em levar adiante um empreendimento de R$ 250 milhões, uma vez que até mesmo os bancos internacionais consultados pela Corol recomendaram cautela.

A Usaciga, de Cidade Gaúcha (Noroeste), ainda não bateu o martelo, mas provavelmente vai atrasar a inauguração de uma nova unidade em Santa Mônica, na mesma região, prevista para 2010. “O plano está mantido, mas, com essa escassez de recursos, é difícil ter certeza se vamos viabilizá-lo nesse prazo”, conta o diretor-superintendente da empresa, Cláudio Belodi.

A situação do Paraná, segundo maior produtor de cana-de-açúcar do país, se repete nos demais estados. Segundo levantamento da Procana, metade das 90 usinas previstas para entrar em funcionamento no Brasil entre 2009 e 2012 teve o início da operação atrasado em, no mínimo, um ano.

Pé no freio

Ao avaliar o conjunto dos clientes do BRDE, Moraes Neto diz que, independentemente do setor econômico, a crise desacelerou o ritmo de novos investimentos no Paraná. Segundo ele, projetos que já estavam em implantação mantêm a velocidade, mas a captação de recursos para novos projetos ficou mais lenta. “Não houve impacto sobre projetos em andamento, nem mudou o índice de inadimplência, que segue bastante baixo, pouco acima de 2%. O que houve é que o número de novas contratações caiu um pouco”, revela o executivo. “Os empresários adotaram o compasso de espera, até que os contornos da crise fiquem mais nítidos.”

De acordo com o vice-presidente do BRDE, o segmento que inspira mais cuidados é o madeireiro, que passa por dificuldades há alguns anos e não deve ter boas notícias tão cedo, dada a retração do mercado imobiliário norte-americano, seu principal cliente. Em setembro, antes mesmo do agravamento da crise, o número de empregados dessa indústria já era 18% inferior ao do mesmo mês de 2007, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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