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Confira a íntegra da ata da última reunião do Copom

Confira abaixo a íntegra da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que reduziu os juros Selic de 19% para 18,5% ao ano:

Data: 22 e 23/11/2005

Local: Sala de reuniões do 8º andar (22/11) e do 20º andar (23/11) do Edifício-Sede do Banco Central – Brasília – DF

Horário de início: 16h55 (22/11) e 16h30 (23/11)

Horário de término: 19h15 (22/11) e 19h30 (23/11)

Presentes:

Membros do Copom

Henrique de Campos Meirelles – Presidente

Afonso SantAnna Bevilaqua

Alexandre Antonio Tombini

Alexandre Schwartsman

Antonio Gustavo Matos do Vale

João Antônio Fleury Teixeira

Rodrigo Telles da Rocha Azevedo

Paulo Sérgio Cavalheiro

Sérgio Darcy da Silva Alves

Chefes de Departamento (todos presentes no dia 22)

Altamir Lopes – Departamento Econômico

Ivan Luís Gonçalves de Oliveira Lima – Departamento de Operações do Mercado Aberto

José Antonio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos

José Pedro Ramos Fachada – Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores

Marcelo Kfoury Muinhos – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 23)

Renato Jansson Rosek – Departamento de Operações das Reservas Internacionais

Demais participantes (presentes no dia 22)

Alexandre Pinheiro de Moraes Rego – Assessor Especial do Presidente

Alexandre Pundek Rocha – Consultor da Diretoria

Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo – Chefe-Adjunto do Departamento de Estudos e Pesquisas

Flávio Pinheiro de Melo – Consultor da Diretoria

Jocimar Nastari – Assessor de Imprensa

Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fixadas pelo governo para a inflação.

Evolução recente da economia

1. Em outubro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação de 0,75%, superando em 0,40 p.p. o valor registrado em setembro. A exemplo do que ocorrera no mês anterior, a aceleração da inflação resultou, principalmente, da elevação dos preços monitorados, especialmente do grupo transportes, e da forte contribuição do grupo alimentação e bebidas, que no período junho-setembro registrou deflação média de 0,61%, mas em outubro variou 0,27%. Com isso, após quatro meses de relativa estabilidade, os preços livres aumentaram 0,38%. Tanto a elevação dos preços dos combustíveis como a reversão da trajetória de queda dos preços dos alimentos haviam sido amplamente antecipadas, mas a magnitude registrada acabou surpreendendo os analistas. O desvio entre o valor do IPCA observado em outubro e a mediana das expectativas de mercado para o indicador no dia anterior à sua publicação foi o maior em dois anos. Como os impactos advindos da elevação dos preços dos combustíveis devem se esgotar em novembro, antecipa-se um recuo da inflação medida pelo IPCA.

2. Nos dois últimos meses, as medidas de inflação subjacente registraram aceleração, após terem atingido valores historicamente baixos em agosto. A análise, levando em conta um horizonte mais longo, mostra que os núcleos ainda permanecem em patamares inferiores aos observados no início do ano, mas voltaram a registrar valores superiores àqueles consistentes com as metas de inflação. Nos últimos cinco meses, o núcleo por exclusão, o núcleo com suavização de itens preestabelecidos e o núcleo sem suavização variaram em média 0,33%, 0,48% e 0,34%, respectivamente, ante 0,64%, 0,64% e 0,53% nos cinco primeiros meses de 2005. O núcleo calculado pela exclusão de alimentos no domicílio e preços monitorados alcançou 0,38% em outubro, ante 0,36% em junho e 0,37% em julho, quando a variação do IPCA se situou, respectivamente, em -0,02% e 0,25%. Esse comportamento indica que, no passado recente, a variância da inflação medida pelo IPCA tem sido dominada pela variância da inflação associada aos preços monitorados e aos preços dos alimentos. No que diz respeito aos valores acumulados em doze meses, houve continuidade em outubro, por todos os critérios considerados, do processo de redução da inflação subjacente que vem se registrando desde maio de 2005.

3. Em outubro, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) sofreu elevação de 0,63%, após cinco meses em declínio, mas ainda permanece em torno dos níveis observados no início do ano. Tal inversão foi conseqüência da reversão do movimento de queda do Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade Interna (IPA-DI), que aumentou 0,79% em outubro, também após cinco meses em declínio. Por sua vez, o crescimento do IPA-DI deveu-se à variação de 0,32% nos preços bens de consumo – alavancada pelo incremento dos preços dos bens de consumo não duráveis – e de 1,02% nos preços dos bens de capital. Com os resultados de outubro, o IGP-DI acumula variação de apenas 0,82% ao longo do ano e de 2,17% nos últimos doze meses, ao passo que o IPA-DI acumula variação negativa de 1,07% em 2005 e positiva de apenas 0,40% em doze meses.

4. O crescimento dos preços no atacado em outubro resultou da reversão na tendência de queda dos preços agrícolas e de ligeira aceleração dos preços industriais. Houve equilíbrio na contribuição para o crescimento do IPA-DI, entre IPA industrial e IPA agrícola, que variaram, respectivamente, 0,78% e 0,80%. Em doze meses, o IPA agrícola mostra redução de 6,64%, e o IPA industrial, aumento de apenas 2,82%, o menor valor desde janeiro de 2004. Dessa forma, os índices gerais de preços permanecem registrando variações marcadamente inferiores às do IPCA. Dados referentes ao IGP-10 de novembro sinalizam aceleração do IPA agrícola e desaceleração do IPA industrial. De modo geral, entretanto, há evidências de acomodação consistente dos preços no atacado, com potenciais efeitos favoráveis sobre os preços ao consumidor ao longo dos próximos trimestres. Conforme destacado nas Notas de reuniões recentes do Copom, a intensidade de tais efeitos, bem como sua própria continuidade, dependerá das condições prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da inflação.

5. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em setembro, houve redução de 2% na produção industrial, levando-se em conta os efeitos sazonais. Apesar desse resultado desfavorável, a produção industrial ainda registra crescimento de 3,8% em 2005 e de 4,4% no período de doze meses encerrado em setembro. Desde junho, as taxas de crescimento alternam sinais positivos e negativos, mas, de modo geral, a produção industrial vem se mantendo em níveis elevados, mesmo com a queda registrada em setembro. A análise da série de médias móveis trimestrais também indicou redução da produção industrial em setembro. Os indicadores antecedentes e coincidentes da série apontam provável queda da atividade industrial em outubro, tanto na série mensal dessazonalizada, quanto na série de médias móveis trimestrais.

6. Considerando-se a composição da produção industrial, observa-se comportamento diferenciado por parte das principais categorias de uso. A produção de bens de capital apresentou crescimento de 1,1%; a de bens intermediários se manteve relativamente estável, com queda de 0,4%; e a de bens de consumo diminuiu 4,5%, com o setor de duráveis sendo novamente o mais atingido. Na série de médias móveis trimestrais, houve redução da produção nas três grandes categorias. A exemplo do que acontecera em agosto, o setor de bens de consumo duráveis apresentou performance inferior à do setor de semi e não duráveis, sendo que este último acumula expansão de 5,6% em 2005 e de 5,2% nos últimos doze meses, numa trajetória que reflete a maior importância relativa da renda na sustentação do processo de crescimento. Apesar da performance negativa registrada na margem, a produção de bens de consumo duráveis aumentou 13,8% em 2005 e 14,1% no período de doze meses terminado em setembro, com desempenho marcadamente superior à média global da indústria.

7. O resultado da produção industrial no terceiro trimestre, queda de 0,7% em termos dessazonalizados e expansão de 1,5% contra o terceiro trimestre do ano passado, sugere desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nesse período. Ressalte-se, entretanto, que tal comportamento se seguiria a um trimestre de crescimento vigoroso da atividade econômica. Além disso, os indicadores da indústria não evoluíram em compasso com os indicadores de vendas, de emprego e de investimento avaliados nos parágrafos a seguir, o que sugere a importância de um ajuste de estoques no setor industrial na determinação dos resultados recentes. Dessa forma, antecipa-se que a indústria volte a apresentar tendência de crescimento nos próximos meses, com reflexos positivos sobre a atividade econômica.

8. O mercado de trabalho voltou a repetir, em setembro, o desempenho positivo mostrado ao longo do ano, evoluindo em compasso com o ambiente de maior previsibilidade macroeconômica e com os níveis historicamente elevados de atividade. Segundo pesquisa do IBGE, a taxa de desocupação para setembro foi estimada em 9,6%. Em comparação aos números de setembro de 2004, a taxa de desocupação foi 1,3 ponto percentual inferior, e o contingente de ocupados, 2,3% superior. Após três meses em elevação, o poder de compra dos trabalhadores manteve-se estável, sendo o valor estimado para setembro 2% superior ao estimado para setembro de 2004, bem como 4,7% superior ao estimado para maio deste ano, refletindo em parte o efeito positivo das menores taxas de inflação sobre o salário real. Até setembro, o emprego na indústria de transformação acumula crescimento de 5,2% e de 5,6%, respectivamente, em 2005 e em doze meses, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A massa salarial real na indústria de transformação acumula crescimento de 8,8% no ano e de 9,2% nos últimos doze meses. Esses dados evidenciam um processo, recorrente nos últimos meses, que alia aumento da quantidade de vagas à melhoria na qualidade do emprego industrial. O emprego formal, computado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), continua em trajetória de expansão. Com a criação de 118.175 postos de trabalho em outubro, a geração de emprego formal supera 1,5 milhão de novas vagas em 2005.

9. As vendas no comércio varejista se mantiveram estáveis em setembro, segundo dados dessazonalizados do IBGE. Destacam-se os itens cujas vendas são mais sensíveis à renda e ao emprego, que tiveram desempenho positivo e contrabalançaram a performance negativa dos itens cujas vendas são mais sensíveis ao crédito. Nesse sentido, o comércio varejista mostra uma inversão em relação ao comportamento que vinha apresentando há meses. Por sua vez, a média móvel trimestral da série de vendas no comércio varejista também se manteve estável, após cinco meses de expansão, permanecendo no valor máximo registrado historicamente. As vendas acumulam crescimento de 5% em 2005, em comparação ao mesmo período de 2004. Esse desempenho reflete, em grande medida, os desenvolvimentos favoráveis no mercado de trabalho e a expansão contínua do crédito. Os indicadores preliminares disponíveis para outubro sugerem que as vendas permaneceram com tendência de crescimento. As perspectivas favoráveis para o comércio varejista nos próximos meses se apóiam, entre outros fatores, no desempenho do mercado de trabalho e em seus efeitos no crescimento da massa salarial, na expansão do crédito e na recuperação da confiança do consumidor.

10. De acordo com dados da CNI, dessazonalizados pelo Banco Central, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) na indústria de transformação diminuiu em setembro. Dados recentes relativos à produção e à absorção de bens de capital sugerem que a utilização de capacidade pode estar refletindo, em parte, a maturação de investimentos realizados nos últimos anos. Como ressaltado em Notas das reuniões do Copom, a trajetória da inflação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento da demanda. Nesse sentido, o indicador de investimento representado pela absorção de bens de capital acumula, até setembro, expansão de 4,6% em 2005. Para esse resultado, contribuiu fortemente o aumento das importações de bens de capital, que até setembro registraram crescimento de 29,6% em volume, quando comparado ao mesmo período de 2004. Embora continuem se consolidando evidências de crescimento do investimento, o desempenho da oferta agregada nos próximos trimestres permanece sendo importante para a definição da dinâmica prospectiva da inflação.

11. Em relação ao comércio exterior, os dados mais recentes confirmam que, em 2005, o desempenho será superior ao do ano passado. Em outubro, as exportações alcançaram US$114 bilhões para um período de doze meses, com a maior contribuição para o crescimento vindo dos produtos manufaturados. O saldo da balança comercial acumulado em doze meses atingiu a marca dos US$41,9 bilhões, com as importações somando US$72 bilhões. Em valor, as exportações cresceram 24,1%, em relação aos doze meses anteriores, enquanto as importações aumentaram 21,5%. As importações de bens de capital cresceram 26,3% em outubro na comparação com o mesmo mês de 2004, acumulando expansão de 29%, tanto em 2005 quanto em doze meses. Assim, ao longo de 2005, a participação das importações de bens de capital no total de compras no exterior vem aumentando, em detrimento da participação de matérias-primas e intermediários. O bom desempenho dos saldos comerciais no período de doze meses encerrado em outubro proporcionou superávit em transações correntes de US$13,6 bilhões, equivalente a 1,8% do PIB. Embora a contribuição da demanda externa para a expansão da economia se mostre menor do que no passado recente, permanece positiva e superior ao que se antecipava no início deste ano.

12. No âmbito dos mercados financeiros internacionais, a volatilidade permaneceu relativamente elevada, mas houve melhora em relação ao cenário considerado por ocasião da reunião de outubro do Copom. Na última semana de setembro, o prêmio de risco-Brasil chegou bastante próximo dos mínimos históricos, observados em 1997. Esse movimento foi parcialmente revertido, mas desde meados de outubro o prêmio de risco-Brasil vem diminuindo, a despeito de persistirem as preocupações acerca da evolução da inflação nos Estados Unidos. Em uma perspectiva de curto prazo, as condições de liquidez e a estabilidade dos mercados passaram a responder mais de perto à evolução do quadro macroeconômico nos Estados Unidos e à possível resposta da política monetária do Federal Reserve (Fed). De maneira geral, os indicadores recentes sugerem que o Fed provavelmente irá prosseguir com sua política de aumento moderado nas taxas de juros. Na Zona do Euro, após dois anos e meio mantendo a taxa de juros constante em nível historicamente baixo, o Banco Central Europeu (BCE) dá sinais de que pode adotar uma postura mais ativa. Apesar desse quadro, no qual há incertezas relevantes, o Copom permanece atribuindo baixa probabilidade a um cenário de deterioração significativa nos mercados financeiros internacionais.

13. Os preços do petróleo no mercado internacional, após os recordes históricos registrados em agosto, recuaram fortemente e hoje estão em patamares próximos aos que se encontravam no início do ano. A despeito do considerável recuo em relação aos valores máximos, os preços continuam em níveis elevados. Ainda assim, haja vista a elevação dos preços dos combustíveis implementada em setembro, o Copom continua trabalhando com um cenário para a evolução dos preços internos dos combustíveis que não considera alteração adicional dos preços domésticos em 2005. Entretanto, dadas as incertezas que cercam a sua trajetória, os preços do petróleo no mercado internacional continuam a representar fator de risco para o comportamento futuro da inflação. De um lado, porque suas variações se transmitem à economia doméstica por intermédio dos seus efeitos sobre os preços de insumos derivados do petróleo, de outro, porque afetam as expectativas dos agentes econômicos.

Avaliação prospectiva das tendências da inflação

14. Os choques identificados e seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações disponíveis. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:

a) Em comparação aos valores considerados na reunião de outubro, as projeções de reajustes nos preços da gasolina tiveram pequena elevação, passando de 7,5% para 7,6% no acumulado para 2005, ao passo que as projeções de reajustes nos preços do gás de botijão foram aumentadas de -1,2% para -0,9% em 2005;

b) Quanto aos reajustes das tarifas de telefonia fixa, não houve alteração nas projeções, permanecendo em 6,7% para 2005, ao passo que os reajustes projetados para as tarifas de energia elétrica residencial passaram de 7,6% no mês anterior, para 7,8% atualmente;

c) Em relação aos valores dos reajustes, em 2005, para o conjunto de itens administrados por contrato e monitorados, com peso de 30,1% no IPCA de outubro, o Copom elevou a projeção para 8,2%;

d) Em comparação aos valores considerados na reunião de outubro, a projeção de reajustes dos itens administrados por contrato e monitorados para 2006 foi reduzida, passando de 5,1% para 4,9%. Ampliou-se ainda mais o número de itens projetados individualmente, possibilitando maior precisão nas projeções para 2006. Para os demais itens, as projeções permaneceram sendo estimadas pelo modelo de determinação endógena de preços administrados, que considera componentes sazonais, variações da taxa de câmbio, inflação de preços livres e inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP);

e) A projeção para o spread de seis meses sobre a taxa Selic, seguindo especificação de um modelo VAR que utiliza Selic e swap em nível a partir dos valores vigentes nos dias que antecederam a reunião do Copom, parte de uma média de -113 p.b. no quarto trimestre de 2005 e alcança 28 p.b. no último trimestre de 2006.

15. Em relação à política fiscal, supõe-se o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do PIB em 2005 e em 2006. São mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião anterior.

16. Desde a reunião de outubro do Copom, houve elevação na mediana das expectativas coletadas pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) do Banco Central do Brasil para a variação do IPCA em 2005, que passou de 5,24% para 5,52%. A mudança foi resultado da frustração das expectativas de 0,45% para a inflação de outubro, coletada na véspera da reunião do Copom daquele mês, ante um valor efetivo de 0,75%. Para 2006, as expectativas se reduziram ligeiramente, de 4,6% para 4,55%, ficando mais próximas da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), não sendo contaminadas pela surpresa inflacionária de outubro. Como mencionado em Notas de reuniões anteriores do Copom, esses desenvolvimentos sugerem que as decisões de política monetária dos últimos meses, além de conter as pressões inflacionárias de curto prazo, estão contribuindo de forma importante para a consolidação de um ambiente macroeconômico cada vez mais favorável em horizontes mais longos.

17. Para 2005, a projeção de inflação do cenário de referência, que pressupõe a manutenção da taxa Selic em 19% a.a. e da taxa de câmbio em R$2,20 ao longo de todo o horizonte de projeção, está acima de 5,1%, devido à surpresa inflacionária de outubro. A projeção baseada no cenário de mercado, que incorpora as trajetórias da taxa de câmbio e da taxa Selic esperadas pelos participantes de mercado no período imediatamente anterior à reunião do Copom, também se elevou em relação ao mês anterior e se encontra acima do objetivo de 5,1%. Para 2006, a projeção de inflação associada ao cenário de referência permanece abaixo da meta estabelecida pelo CMN, mas se elevou em relação ao mês anterior, haja vista que a inércia da surpresa inflacionária de outubro e o efeito da redução das taxas de juros mais do que compensaram os impactos da apreciação cambial e da menor projeção de reajuste para os preços monitorados e administrados por contrato. No cenário de mercado, a projeção também se elevou pelas mesmas razões apontadas para o cenário de referência, mas em menor intensidade, permanecendo acima da meta de 4,5%.

18. O Copom também considerou as projeções de inflação para horizontes situados entre dezembro de 2005 e dezembro de 2006, como os períodos de doze meses que se encerram em março de 2006, junho de 2006 e setembro de 2006. Trata-se de horizontes cujos resultados são mais sensíveis às decisões correntes de política monetária do que os do ano-calendário de 2005, sendo, ao mesmo tempo, períodos cobertos por projeções de inflação mais confiáveis do que as já disponíveis para o ano-calendário de 2006. As projeções do cenário de referência para os períodos de doze meses que se encerram em março de 2006, junho de 2006 e setembro de 2006 se encontram abaixo dos valores que dizem respeito a esses períodos na trajetória de metas obtida pela interpolação do objetivo de inflação de 5,1% para 2005 e da meta de 4,5% estabelecida pelo CMN para 2006.

Implementação da política monetária

19. O Copom reafirma o diagnóstico, expresso nas Notas das últimas reuniões, de que tanto os resultados recentes da inflação como as projeções de inflação realizadas pelo Banco Central e pelos analistas do setor privado sugerem que, além de conter as pressões inflacionárias de curto prazo, a postura de política monetária adotada desde setembro de 2004 vem contribuindo de maneira importante para a consolidação de um ambiente macroeconômico cada vez mais favorável em horizontes mais longos. A atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão, em ritmo condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação. Além disso, a despeito da volatilidade que continua sendo observada nos mercados financeiros internacionais e do fato de os preços de petróleo ainda continuarem em níveis elevados, o cenário externo permanece favorável, particularmente no que diz respeito às perspectivas de financiamento para a economia brasileira. Assim, continua se configurando um cenário benigno para a evolução da inflação. Tal como na reunião de outubro, o Copom enfatiza que o principal desafio da política monetária nesse contexto é garantir a consolidação dos desenvolvimentos favoráveis que se antecipam para o futuro.

20. O Copom avalia que a elevação da inflação no curto prazo está sendo determinada em grande medida pelos efeitos do reajuste dos preços domésticos dos combustíveis implementado na primeira quinzena de setembro, bem como pela reversão parcial da dinâmica favorável dos preços dos alimentos observada em meses recentes e antecipada nas Notas das últimas reuniões do Comitê. Tendo em vista que esses efeitos ainda não se esgotaram, é provável que continuem sendo captados nos indicadores de inflação a serem divulgados nas próximas semanas. Dada a natureza de tais pressões, espera-se que tenham caráter transitório, apresentando arrefecimento ao longo do tempo, sem que necessariamente observemos contaminação para horizontes mais longos. Cabe ressaltar, entretanto, que, embora a elevação da inflação em si fosse amplamente antecipada, a magnitude em que ocorreu superou em muito as expectativas prevalecentes por ocasião da reunião de setembro do Comitê. Dessa forma, o Copom continuará acompanhando atentamente, nos próximos meses, a evolução da inflação e das diferentes medidas do seu núcleo, discriminando entre reajustes pontuais e reajustes persistentes ou generalizados de preços e adequando prontamente a postura de política monetária às circunstâncias, de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação até o momento sejam permanentes.

21. A convergência ininterrupta da inflação para a trajetória de metas e a resultante consolidação de um cenário de estabilidade macroeconômica duradoura contribuirão para a manutenção do processo de redução progressiva da percepção de risco macroeconômico que vem ocorrendo nos últimos anos. O espaço para que observemos juros reais menores no futuro continuará se consolidando de forma natural como conseqüência dessa melhora de percepção. O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de convergência da inflação para a trajetória de metas. Para que essa maior probabilidade continue se traduzindo em resultados efetivos, entretanto, é preciso que os indicadores prospectivos de inflação sigam apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno que tem se configurado nos últimos meses. Dessa forma, a flexibilização gradual da política monetária não comprometerá as importantes conquistas obtidas no combate à inflação e na preservação do crescimento econômico com geração de empregos e aumento da renda real.

22. Diante disso, o Copom decidiu, por unanimidade, dar prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005, reduzindo a meta para a taxa Selic para 18,50% a.a, sem viés.

23. Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê voltaria a se reunir em 13 de dezembro de 2005, para as apresentações técnicas e, no dia seguinte, para deliberar sobre a política monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 12.631, de 29.10.2004.

SUMÁRIO DOS DADOS ANALISADOS PELO COPOM

Inflação

24. O IPCA cresceu 0,75% em outubro, ante 0,35% em setembro, acumulando elevações de 4,73% no ano e de 6,36% nos últimos doze meses. A maior variação mensal do índice decorreu, principalmente, do aumento de preços de itens monitorados, grupo que registrou variação de 1,62% no período, contribuindo com 0,49 p.p. para o resultado. Destacaram-se as altas dos preços da gasolina e do álcool combustível, 4,17% e 10,48%, respectivamente, que responderam em conjunto por 0,28 p.p. da variação mensal do IPCA. O grupo de preços livres também mostrou aceleração, ao registrar alta de 0,38%, ante 0,1% em setembro, refletindo, sobretudo, a reversão da queda nos preços da alimentação.

25. O IGP-DI aumentou 0,63% em outubro, após cinco meses consecutivos de variação negativa. O indicador acumulou altas de 0,82% no ano e de 2,17% nos últimos doze meses. Considerados os componentes do IGP-DI, o Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-Br) cresceu 0,42% no mês, refletindo taxas maiores em 5 das 7 classes componentes do índice, com destaque para o grupo alimentação. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) cresceu 0,19%, ante 0,24% em setembro. O IPA-DI, componente de maior peso do IGP-DI, aumentou 0,79% em outubro, após cinco meses consecutivos em queda, acumulando variação negativa de 1,07% no ano e aumento de 0,4% em doze meses. O comportamento dos preços no atacado em outubro decorreu da reversão na tendência de queda dos preços agrícolas e de ligeira aceleração dos preços industriais. A taxa mensal do IPA agrícola atingiu 0,8%, sobretudo pela alta dos preços de animais e derivados, em especial bovinos, com variação de 8,1%, refletindo a entressafra. O aumento dos preços industriais passou de 0,67% em setembro para 0,78% em outubro, destacando-se a aceleração dos preços dos produtos das indústrias química, madeira e mobiliário. Ressalte-se que outros segmentos importantes da indústria de transformação, como produtos alimentares e metalúrgica, continuaram com variações negativas de preços. Considerando o IPA-DI segundo os três estágios de processamento, todos os segmentos apresentaram tendência de elevação dos preços. Os preços dos bens intermediários registraram alta de 1,03%, ante a de 0,91% em setembro. Os de bens finais e das matérias-primas brutas passaram de variações negativas de 0,57% e 2,23%, respectivamente, em agosto, para elevações de 0,42% e 0,8%, na mesma ordem, em setembro.

26. As medidas de núcleo do IPCA voltaram a registrar elevação em outubro, comparativamente aos resultados do mês anterior. O núcleo de inflação para o IPCA calculado pelo método das médias aparadas com suavização de itens preestabelecidos situou-se em 0,58%, ante 0,51% no mês anterior, e totalizou 7,13% em doze meses. A mesma medida para o núcleo, calculada sem o procedimento de suavização de itens preestabelecidos, passou de 0,34% em setembro para 0,5% em outubro, com aumento acumulado de 5,72% em doze meses. O núcleo calculado pela exclusão de alimentos no domicílio e preços monitorados atingiu 0,38%, ante 0,3% no mês anterior. Em doze meses, essa medida acumulou variação de 6,25%.

27. O índice de difusão do IPCA registrou elevação da proporção de itens com variações positivas em outubro, 59,2%, confirmando a interrupção da tendência de queda, esboçada em setembro, após declínios consecutivos observados de maio a agosto.

28. O núcleo de inflação para o IPC-Br, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) pelo método das médias aparadas simétricas, atingiu 0,37% em outubro, ante 0,29% em setembro. O indicador acumulou expansões de 4,37% no ano e de 5,3% em doze meses.

29. Para novembro, espera-se recuo das taxas de inflação ao consumidor, pelo arrefecimento do grupo de itens monitorados, sobretudo pelos impactos dos reajustes dos combustíveis. Esse efeito deverá sobrepor-se à maior variação dos preços da alimentação, tendência que se delineia desde a segunda quinzena de outubro.

Atividade econômica

30. Conforme a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, as vendas do comércio varejista ficaram estáveis em setembro, na comparação com as do mês anterior, após ajuste sazonal. Por categorias, apenas as vendas de tecidos, vestuário e calçados registraram elevação mensal, de 4,4%, enquanto o segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com maior peso na composição do indicador geral, registrou estabilidade. Os demais segmentos mostraram recuo do nível de vendas no mês, com destaque para móveis e eletrodomésticos, com variação negativa de 2,6%. No ano, o indicador geral apresentou crescimento de 5% e, em doze meses, de 6,1%.

31. No mercado automobilístico, as vendas das concessionárias também mostraram retração. Os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) evidenciaram quedas mensais de 1,4% em setembro e de 4,1% em outubro, após o ajustamento sazonal. Nos primeiros dez meses do ano, o número de unidades vendidas aumentou 8,8% em relação a igual período de 2004 e, em doze meses findos em outubro, o acréscimo atingiu 8,2%.

32. Em relação aos indicadores de investimento, a produção doméstica de bens de capital e a fabricação de insumos da construção civil aumentaram 1,1% e 0,3%, respectivamente, em setembro, em comparação aos níveis observados no mês anterior, após ajuste sazonal. No ano, até setembro, esses indicadores acumularam expansões respectivas de 3,3% e de 0,7%. As importações de bens de capital também registraram crescimento em setembro, tendo o índice de quantum calculado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) registrado acréscimo de 2,6% em relação a agosto, após ajuste sazonal, e de 29,6% no acumulado do ano. Os financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para investimentos de médio e longo prazos, alcançaram R$31,2 bilhões no período de janeiro a setembro de 2005, superando em 12,3% aqueles desembolsados no mesmo período de 2004.

33. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a produção industrial brasileira recuou 2% em setembro, em relação à do mês anterior, após ajuste sazonal, resultado decorrente da retração de 2,4% na indústria de transformação, enquanto a produção extrativa mineral cresceu 0,6%. No ano, até setembro, a indústria acumulou expansão de 3,8%, resultado dos acréscimos de 3,4% na indústria de transformação e de 10,2% na produção extrativa.

34. A análise desagregada da produção industrial, considerando as séries sazonalmente ajustadas, revelou que 15 das 23 atividad

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