Mercado

Com caixa apertado, usinas enfrentam prejuízo na Nybot

Depois de um ano de receita em baixa, as usinas sucroalcooleiras precisam agora enfrentar a principal conseqüência dessa dificuldade: a escassez de dinheiro em caixa. E isso tende a se agravar para quem fixou a safra em até 12 centavos de dólar a libra-peso no mercado futuro da Bolsa de Nova York (Nybot) e, desde então, está precisando fazer ajustes (depósitos) diários na bolsa americana, para cumprir o valor do contrato que fechou a última semana a 14,24 centavos.

Estima-se que, até agora, em torno de US$ 750 milhões tenham saído do caixa das usinas e tradings (ou em empréstimos bancários) para ajustes na Nybot. O cálculo, a grosso modo, considera o ajuste de 15 milhões de toneladas de açúcar fixado (cerca de 60% da próxima safra) a 12 centavos de dólar por libra-peso. É possível que esse valor seja até maior pois os 60% não foram todos fixados a 12 centavos, mas entre 10 e 12 centavos, segundo estimativas do mercado.

Com menos dinheiro em caixa, as usinas estão com receio de os preços subirem mais na Nybot (como aconteceu em 2006 que chegou a 19 centavos), aumentando assim o envio de recurso para ajuste. “Ainda que esse valor de ajuste retorne para a empresa, isso ocorrerá no futuro, na liquidação do contrato. Até lá, o caixa da companhia fica comprometido”, explica Mário Silveira, analista de gerenciamento de risco da FCStone.

Maurílio Biagi, da Usina Moema, afirma que muito dinheiro está sendo direcionado para ajuste. “Tem usina que está com US$ 30 milhões de ajuste, outras com US$ 20 milhões ou US$ 10 milhões”.

E para diminuir esse risco de liquidez, as usinas estão optando por recomprar esses contratos a valores maiores, mesmo tendo que realizar prejuízo. “No caso de um contrato que foi fixado a 11 centavos e que, algum tempo depois tenha subido para 13, a usina ou trading pode optar por recomprar a posição do contrato a 13 centavos e, assim, realizar prejuízo de 2 centavos. Mas resolve-se o problema de risco de liquidez”, pondera Luiz Fernando Abussamra, diretor de agronegócios da RiskOffice. Se o contrato recomprado a 13 centavos, por exemplo, subir para 15, a usina vende a esse valor. Se cair para 11 até a liquidação, perde mais 2 centavos de dólar por libra-peso.

Abussamra estima que do total fixado até agora (em torno de 15 milhões de toneladas de açúcar), cerca de um terço já tenha iniciado esse movimento de recompra. “Trata-se de gerenciar a incerteza. O mercado não sai recomprando toda hora. Tem que haver um forte motivo e os preços estão mostrando tendência que justifica algumas recompras”, avalia Abussamra.

A estratégia, segundo ele, não foi muito utilizada na safra 2006/07, quando a diferença entre o valor fixado pelas usinas atingiu 8 centavos de dólar por libra-peso. “Naquele ano as empresas não conseguiram aproveitar o bom momento de preços por uma fixação prematura”, conta.

O grupo São Martinho, por exemplo, deixou de ganhar R$ 22 milhões (2,5% da receita bruta) na safra 2006/07 pela diferença entre o que foi fixado e o que o mercado fechou na Nybot. “Entre o tempo de fixação e da liquidação do contrato esse ajuste de margem que saiu do caixa do grupo pode ter sido maior, por exemplo de R$ 100 milhões, e depois ter recuado com o retorno dos preços. No balanço da safra, deixamos de ganhar 22 milhões”, explica o gerente de Relações com Investidores da São Martinho, Felipe Vichiatto, que não pôde informar sobre a estratégia atual de hedge do grupo, que tem capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Na época, ele recorda, a empresa estava capitalizada com a Oferta Inicial de Ações (Ipo, sigla em inglês).

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