Mercado

Com biocombustíveis, países buscam menor uso de petróleo

Com o nível de preço do petróleo superior a 50 dólares por barril sendo visto cada vez mais como regra e não como exceção, grandes consumidores em todo mundo estão buscando elevar o uso dos chamados biocombustíveis, como o etanol feito de milho ou de cana-de-açúcar (chamado simplesmente de álcool no Brasil) ou o biodiesel feito a partir de óleos vegetais diversos.

Lavouras produzidas localmente oferecem às nações consumidoras a oportunidade de reduzir os grandes gastos na importação de petróleo, diminuir as emissões de gases do efeito estufa e ainda revitalizar o setor agrícola. Elas também poderão ajudar a atender o crescente consumo de combustível em todo mundo, devido à expansão do número de motores, o que levou a indústria do petróleo ao limite da capacidade e impulsionou os preços mundiais do produto.

Mas os biocombustíveis ainda têm um longo caminho antes de conquistarem os mercados mundiais. No ano passado, o mundo produziu cerca de 30 bilhões de litros de etanol combustível a partir da fermentação e da destilação de açúcar ou de milho. Em termos de petróleo, foram cerca de 500 mil barris por dia, ou 2 por cento do uso mundial de gasolina. “Embora o biocombustível esteja decolando em muitas áreas, em termos de volumes absolutos ele ainda é relativamente pequeno”, disse Jeff Brown, analista de demanda de petróleo da Agência Internacional de Energia (AIE). “O potencial real está no longo prazo.”

Sob o cenário mais otimista, o álcool poderia corresponder a 10 por cento do consumo de combustível do mundo em meados de 2025, apontaram as estimativas da AIE.

Para isso acontecer, a bioenergia terá de superar uma série de barreiras –altos custos de produção (geralmente), redução da disponibilidade de terra e de água e políticas diferentes em várias regiões, para citar algumas. Mas os resultados poderão compensar.

Considerando um crescimento anual de 1,5 por cento na demanda por gasolina até 2025, o consumo de álcool combustível poderá crescer para 3,4 milhões de barris, estimaram analistas. “Ao substituir por álcool até 10 por cento do consumo mundial, você poderá descartar um país da OPEP de médio porte, como o Irã”, disse o consultor de petróleo, Geoff Pyne, em Londres. Estima-se que até 10 por cento de biocombustível pode ser misturado em combustíveis à base de petróleo sem que haja a necessidade de conversões mais caras nos motores.

Objetivos

Os preços elevados do petróleo renovaram o interesse internacional pelo biocombustível e outras fontes de energia, como a solar e a eólica, assim como combustível líquido produzido do gás e do carvão — tipos que desviam a demanda do petróleo. Enquanto muitos países deram algum incentivo para estimular o desenvolvimento de biocombustíveis, em grande parte para atender aos objetivos do Protocolo de Kyoto sobre as emissões de poluentes, apenas alguns estabeleceram níveis obrigatórios de uso que ajudariam os combustíveis de matéria orgânica a conquistarem uma parte significativa do mercado.

No ano passado, a União Européia estabeleceu um objetivo de 5,75 por cento de mistura voluntária de biocombustível até 2010, mas não deverá nem alcançar a meta bem mais modesta de 2 por cento este ano. O Japão permite o uso de até 3 por cento de álcool na gasolina, mas não é obrigatório. Os EUA, maior consumidor de petróleo e segundo produtor de biocombustível do mundo, está tomando grandes medidas, já que considera as safras domésticas como um caminho para diminuir a dependência crescente do petróleo internacional.

O Brasil, maior produtor de álcool do mundo e responsável por quase metade da produção global, já mistura em sua gasolina 25 por cento de álcool e está observando os mercados dos EUA, Japão e Índia para duplicar as exportações nos próximos anos. Além disso o país possui carros que podem rodar 100 por cento com álcool, que conta com ampla rede de distribuição. No Sudeste da Ásia, produtores de óleo de palma e de açúcar esperam impulsionar o rendimento das safras vendendo aos produtores de biocombustível.

Obstáculos

Os preços do petróleo, que estiveram, em média, ao redor dos 50 dólares o barril nos últimos seis meses, ajudaram a superar um dos maiores obstáculos para o álcool, seu custo, que era geralmente mais alto em relação aos produtos de petróleo refinado. Mas enquanto o Brasil pode fazer álcool a partir da cana interna por cerca de 50 dólares o barril, os preços internacionais precisam atingir 70 dólares o barril para que o álcool derivado de grãos, produzido na Europa, seja competitivo sem grandes subsídios, dizem analistas.

Além da economia, especialistas ainda debatem a segurança ambiental de encorajar o uso de biocombustíveis, especialmente se têm de ser embarcados para mercados mais distantes. “Há uma grande incerteza sobre o volume de terra que realmente estará disponível para cultivar safras destinadas à bioenergia no futuro”, disse o especialista em transporte de energia da AIE, Lew Fulton. Para estimular o uso e o comércio de biocombustíveis, a AIE convocou todo o mundo para a suspensão das tarifas de importação de biocombustíveis.

Os EUA lançaram contratos futuros de álcool na bolsa de Chicago. Axel Friederich, que dirige o departamento de transporte na Agência Federal de Meio Ambiente da Alemanha, diz que os biocombustíveis apenas consomem mais e mais terras e encorajam a agricultura intensiva, que ele considera ruim. “O melhor combustível alternativo é aquele que não é utilizado”, afirmou, indicando que o planeta deveria se preocupar mais com a redução dos níveis de consumo de energia.

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