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Com apoio da LDC, Santelisa Vale vai iniciar safra de cana

Graças à venda de uma participação acionária para a Louis Dreyfus Commodities (LDC), a Santelisa Vale dá início à safra canavieira em suas cinco unidades sucroalcooleiras paulistas. Nos últimos dias, sob a gestão do grupo francês, executivos da Santelisa Vale reuniram-se com fornecedores de cana, que não recebem desde dezembro e prometeram a retomada dos pagamentos até o fim de abril.

A Usina Continental, de Colômbia, começou o processamento dia 6 de abril último. Na próxima segunda-feira, será a vez da Vale do Rosário, de Morro Agudo. Dia 20 de abril, a MB, também de Morro Agudo, iniciará o processamento de cana. E, no dia 25 deste mês, a Santa Elisa, de Sertãozinho, e a Jardest, de Jardinópolis, darão início à safra 2009/2010.

Embora a venda de ações tenha sido aprovada e o acordo entre as partes assinado, o negócio ainda não foi concluído. “A operação envolve outras etapas que deverão ser resolvidas em até 90 dias”, afirmou a Santelisa Vale.

É compreensível que haja alguma demora num negócio que envolve dois gigantes do setor sucroalcooleiro: a Santelisa Vale, com cinco usinas, e a LDC, com oito uni-dades no Brasil, com capacidade para processar 40 milhões de toneladas de cana. Com dívidas de R$ 3 bilhões e mais de uma centena de pequenos acionistas, a Santelisa Vale e seu futuro sócio precisam equacionar passivos trabalhistas, questões societárias e patrimoniais.

Segundo fontes próximas da Santelisa Vale, os principais acionistas da companhia, membros das famílias Biagi e Junqueira, ficarão com fatia de 35% a 40% da empresa, percentual semelhante ou pouco inferior ao que caberá à LDC.

A BNDESPar, que já tem 7% da companhia desde janeiro de 2008, deverá realizar novo aporte de capital, provavelmente por meio de subscrição de debêntures conversíveis em ações. Se isso ocorrer, o BNDESPar ficará com cerca de 20% da Santelisa Vale, que tem como sócios o Goldman Sachs e minoritários.

A Crystalsev, com 72% das ações em poder da Santelisa Vale, deverá ser fundida com as operações comerciais e de logística da Louis Dreyfus. Também poderá haver troca de ações entre a Santelisa Vale e a LDC. “São detalhes importantes que serão resolvidos nos próximos meses”, afirmou a assessoria.

A crise do grupo com sede em Sertãozinho teve origem em 2006, quando Rubens Ometto, controlador da Cosan, fez uma oferta hostil de compra da Vale do Rosário. As famílias Biagi e Junqueira – com o apoio do Bradesco – exerceram direito de compra das ações, adquiriram a Vale do Rosário e depois a fundiram com a Santa Elisa, processo no qual participaram outras usinas. Era previsto um lançamento de ações em bolsa da nova companhia, para levantar recursos para o pagamento de dívidas e investimentos em novas destilarias. O mau desempenho do mercado de açúcar e álcool em 2007 levou os controladores a adiarem o IPO. Mas veio a crise financeira internacional e pegou o grupo desprevenido.”Ao contrário do que se comenta no mercado, os Biagi e Junqueira não compraram a Vale do Rosário por questão de vaidade ou para proteger a região de Ribeirão Preto da agressividade de Rubens Ometto”, disse o analista. “São famílias tradicionais do setor sucroalcooleiro que entendem que o negócio precisa ter escala para ser lucrativo”. Segundo o analista, a Vale do Rosário, além de ser a maior unidade da Santelisa Vale, possui localização central e estratégica para o grupo.

“As famílias Biagi e Junqueira podem ter perdido dinheiro no processo, mas terão, além de assentos no conselho de administração, uma participação relevante num negócio grande e promissor, com escala de produção que garantirá, a médio e longo prazos, ganhos de produtividade e alto índice de lucratividade”, disse o analista.

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