O projeto de expansão do parque nuclear brasileiro, anunciado recentemente pelo governo, é visto com interesse pelo Citibank.
Além da retomada da usina de Angra 3, o banco americano estaria disposto a financiar a construção das outras três plantas de geração nuclear que deverão ser licitadas no prazo de um ano, segundo previsões do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
A informação foi dada ontem pelo diretor global de risco ambiental e social do Citi, Shawn Miller, que conversou com o Valor durante sua primeira visita ao Brasil.
O executivo é um dos criadores dos chamados Princípios do Equador, conjunto de critérios de avaliação socioambiental exigidos por uma série de bancos para a concessão de créditos a projetos de empresas dos mais variados setores.
Por aqui, Miller deu treinamento a executivos da área de crédito do Citi, com o objetivo de fomentar a concessão de créditos no âmbito do programa, que em 2008 completa cinco anos.
Segundo ele, atualmente 61 instituições financeiras são signatárias dos Princípios do Equador e utilizam basicamente os mesmos critérios na avaliação dos projetos postulantes a financiamento.
No entanto, Miller ressaltou que o Citi dispõe de uma política à parte, específica para projetos de usinas nucleares.
“Podemos vir a olhar Angra 3 ou qualquer outra usina, desde que nossas políticas sejam devidamente atendidas”, disse o executivo, que mencionou a necessidade de os projetos receberem sinal verde da Agência Internacional de Energia Atômica para que sejam analisados pelo banco.
Miller citou ainda os setores de mineração e de geração de energia “limpa” como de grande potencial de crescimento, e que poderiam criar oportunidades de financiamento no âmbito dos Princípios do Equador.
No entanto, relatou que o problema do desmatamento ainda gera uma propaganda negativa para o Brasil, e que seria esse um dos principais desafios a serem enfrentados pelo país, considerado por ele o mais desenvolvido entre os Bric quando se fala em concessão de crédito com responsabilidade socioambiental.
No ano passado, o financiamento de projetos no âmbito dos Princípios do Equador somou US$ 52,9 bilhões em todo o mundo, valor que representou 71% do total de recursos destinados às operações de “project finance”.
No caso específico do Citi, a cifra ficou em US$ 19,5 bilhões e respondeu por 100% dos 64 projetos financiados.
Miller, entretanto, não dispunha de valores específicos do Brasil e também não revelou as estimativas do banco para este ano, alegando que dependerá da demanda das empresas.
A concessão de crédito para os projetos depende do cumprimento de uma série de exigências, sendo a mais importante a apresentação de um relatório com os impactos sociais e ambientais do empreendimento.
Segundo o diretor, ocorre de algumas empresas terem o pedido negado, em razão do não atendimento de tais exigências.
“Não é freqüente, mas tem acontecido de o banco declinar de dar financiamento a alguns projetos que não vão ao encontro aos Princípios do Equador”, disse o executivo.
No entanto, ele informou que o banco costuma atuar como parceiro das empresas cujos projetos estão aquém do exigido.
Quando isso acontece, segundo ele, o Citi pode chamar um especialista independente em riscos ambientais e sociais para ver o que está fora do padrão e recomendar ao cliente que faça o necessário para o enquadramento.
Há quatro anos no cargo, Miller assumiu o compromisso de não liberar mais nenhum financiamento que esteja fora dos padrões de sustentabilidade exigidos.
“Quando isso acontece, o primeiro e maior prejuízo é a reputação do banco.
A imagem fica seriamente machucada”, completou o diretor.