Mercado

Chega de penalizar a produção!

Até parece que ainda estamos nos tempos da inflação desgovernada: no Brasil que luta para aumentar a produtividade, quem fica com a melhor parte é o sistema financeiro. O desequilíbrio continua no governo atual. Estudo da consultoria Austin Asis, divulgado na semana passada, mostra que, no primeiro semestre deste ano, o rendimento sobre o patrimônio de 15 grandes empresas de capital aberto ficou em 12,3%. No entanto, 11 bancos analisados apresentaram crescimento de 24,9% – mais que o dobro.

De acordo com a consultoria, o resultado das empresas foi mais favorável do que o verificado em igual período de 2002, quando o rendimento foi de 5,9%. O crescimento das companhias deveu-se, principalmente, ao aumento das receitas líquidas, da ordem de 28,8%, puxadas pelas exportações; e pela queda das despesas financeiras, causada pelo ligeiro recuo do dólar no período. Os juros altos, no entanto, continuam a maltratar o setor produtivo.

O que é ruim para uns costuma ser bom para outros – e este é justamente o caso dos juros altos, que chegam aos bancos muitas vezes sob a forma de receitas com títulos públicos, com taxa básica de 24,5% ao ano. A ligeira queda dos juros este ano chegou a se refletir no sistema bancário, que viu seu rendimento passar dos 27,4%, no primeiro semestre do ano passado, para os 24,9% atuais. Um recuo longe de ser um dos mais significativos.

Se as grandes empresas dependem em parte de juros menores para apresentar rendimento maior, as menores precisam de quedas significativas das taxas para tirar a corda do pescoço.

Se alguém ainda duvida que o momento econômico no Brasil é de recessão, os dados divulgados recentemente pela CNI – Confederação Nacional da Indústria servem para confirmar o estrago. Na tentativa de reduzir a produção ao patamar do consumo, o número de horas trabalhadas nas fábricas caiu 0,43%, em junho, em relação a maio. A má notícia foi que a demanda, no mesmo período, caiu ainda mais: 1,47%.

Não é à toa que a inflação chegou a recuar, virando deflação, segundo alguns indicadores – o consumidor não mais consome, só olha as mercadorias. Enquanto as vendas das fábricas de aparelhos eletrônicos para as lojas caíram 5%, das lojas para o consumidor o tombo foi da ordem de 20%. O que ocorre no setor de eletrônicos também acontece, em escala diferente, nos demais segmentos da economia, das indústrias automobilísticas aos supermercados. Para as empresas, uma das conseqüências mais visíveis é o aumento dos estoques.

A mensagem dos dados de junho da CNI é clara: a demanda está retraída. Tal mensagem torna-se mais amarga quando se busca sua causa. Pela primeira vez em 2003, a CNI registrou queda, de 0,14%, na taxa do emprego industrial.

Com esse quadro, esperar uma alta da inflação é ilusão ou má-fé de quem quer continuar a beneficiar o sistema financeiro. Que os bancos cumpram a sua parte – emprestar dinheiro para que o País produza mais e cresça de forma sustentada. E que o governo tire do discurso e passe para a prática a promessa de estimular o desenvolvimento da economia para melhorar a vida da população.

Arnaldo Jardim é deputado estadual – [email protected]

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