Mercado

Ceise pede pressa na reforma de usinas

O aumento no preço do álcool e a possibilidade, pela primeira vez na última década, de desabastecimento do mercado nacional faz com que instituições ligadas ao setor posicionem-se publicamente para tentar evitar mais danos à credibilidade da cadeia alcooleira do Brasil. O Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e de Biocombustíveis (Ceise Br), entidade sediada em Sertãozinho, foi a última delas. Segundo nota divulgada recentemente, a situação é crítica, na visão da entidade, e é preciso um esforço especial para evitar consequências que podem abalar a confiança do consumidor interno no álcool.

“Tendo em vista os baixos estoques de etanol, consequência do significativo aumento da demanda no mercado e das chuvas nas regiões produtoras de todo o País, em nome dos nossos associados que representam as indústrias de máquinas, bens de capital, equipamentos, implementos agrícolas, insumos, serviços e tecnologia da cadeia produtiva (.) conclamamos os nossos associados para que acelerem os serviços de reformas das usinas que ainda não começaram a moagem de cana, minimizando ao máximo a entrega de suas encomendas para que as mesmas possam iniciar no menor prazo de tempo a safra deste ano”, disse o presidente da entidade, Adézio Marques.

O Ceise também “apelou” – termos usados pela entidade – para que as usinas que ainda não iniciaram a moagem antecipem o início desta safra para atender, não apenas a demanda de etanol, mas também para mostrar aos consumidores, autoridades e opinião pública que nosso setor se mantém fiel aos princípios históricos de jamais ter sido responsável e provocado o desabastecimento dos mercados em que atua. “Ao contrário, pois incontáveis vezes para atender aos consumidores, os produtores entregaram cana, açúcar e etanol com margens de prejuízo”, salientou.

Repercussão

Para o professor de Economia An tonio Vicente Golfeto, que há quase 30 anos dedica-se ao estudo do setor sucroalcooleiro regional, declarações como a do Ceise mostram que o setor está preocupado em não perder a boa imagem que conquistou nos últimos anos. Ele lembra que o Proálcool, programa idealizado pelo governo federal nos anos 1970, deixou de ser viável a partir de quando começou a faltar álcool nas bombas. “O desabastecimento fez com que o programa chegasse ao fim. A indústria, como um todo, percebeu que isso é um péssimo negócio e trabalha, nesse momento, para evitar que a história se repita, o que colocaria a perder toda a credibilidade conquistada na última década”, teoriza.

Já o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, a análise de Golfeto está correta e o setor sucroalcooleiro está preparado para enfrentar os problemas que, segundo eles, ref letem uma situação pontual e que será normalizada em breve. “Sabíamos que diversas usinas, presenciando os acontecimentos desta entressafra, já haviam decidido antecipar o início da moagem. Nem todas têm essa condição, pois nem sempre há cana disponível para moer com antecedência. Mas percebemos que está havendo um esforço importante para mobilizar recursos e acrescentar produto ao mercado”, explica o diretor da Unica.

Discussões

O Ceise Br também fez questão de ressaltar que, na opinião da entidade, é essencial que se inicie um processo de discussões das dificuldades que o setor enfrenta, notadamente com excesso de tributação e falta de incentivos para a retomada de investimentos. Outra medida importante na visão dos industriais é que as distribuidoras de combustíveis se alinhem com toda a cadeia produtiva e antecipem seus contratos de compra de etanol.

Outro ponto abordado na nota do Ceise foi a necessidade “mais que urgente” da definição do marco regulatório para os biocombustíveis. “Esse aspecto torna-se o objetivo mais premente de nossa cadeia produtiva, formada por mais de 4 mil empresas, detentoras da mais avançada e da melhor tecnologia de produção de agroenergia, biocombustíveis, bioeletricidade e alcoolquímica e que emprega 2 milhões de brasileiros”, disse Marques.

Biocombustíveis

O Ceise Br afirmou também que o momento que vivemos neste começo de século XXI é especial, já que surgem, a cada dia, novos biocombustíveis, como o diesel renovável e o bioquerosene derivados da cana-de-açúcar. Por isso, ressalta a entidade, “a alcoolquímica ganha novo impulso e é necessário que se tenha em mente a visão de futuro de toda a cadeia produtiva sucroenergética”.

A instituição lançou oficialmente em dezembro de 2010 a Universidade Corporativa do Setor Sucroenergético (Uniceise) em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad) e com o apoio da União da Indústria da Cana-de-Açúcar e da Organizaç ão dos Plantadores de Cana da Região Centro Sul (Orplana), para formar, qualificar e requalificar os talentos humanos do setor. “Ao mesmo tempo, demos primeiro grande passo para formar o futuro Núcleo de Inteligência Competitiva do Setor Sucroenergético”, esclareceu Adézio Marques.

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