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Causas do apagões e "apaguinhos"

No fim do ano de 2009, o consumo brasileiro de eletricidade supera o volume registrado antes da crise financeira. Perto de 66 mil MW é o consumo médio, confirmando a tendência de recuperação dos últimos meses, com a predominância do uso nas residências e estabelecimentos comerciais. Um número significativo das moradias brasileiras possui, atualmente, microondas, TV a cabo, ar condicionado, aparelhos de som e liquidificador.

Não obstante, persistem as apreensões, no tocante à possibilidade de novos apagões, sendo que o último, no dia 10 de novembro, deixou sem luz e energia cerca de 90 milhões de brasileiros, em 18 estados do País. No Rio de Janeiro, os cariocas enfrentam miniapagões diários. Várias cidades, igualmente, tiveram os “apaguinhos”, fazendo com que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em meio a uma palestra, quando a escuridão o surpreendeu, reconhecesse: “Um dos grandes desafios do Brasil é o investimento em infraestrutura”.

As justificativas governamentais atribuem as razões às intempéries climáticas, decorrentes de um raio, que provocou um curto circuito, interrompendo a transmissão nas linhas.

Historicamente, os apagões não são explicados pelos gestores do sistema elétrico. Para os especialistas, responsabilizar o clima pela interrupção no fornecimento da energia é temeroso e carece de fundamentação. “É improvável que o curto-circuito simultâneo em três linhas de transmissão de Furnas Centrais Elétricas, estatal transportadora de 40% da energia consumida no Brasil, tenha sido provocado por um raio”, assevera a Universidade Federal de Itajubá. Ao que tudo indica, os equipamentos, linhas de transmissão e isoladores não têm sido mantidos em bom estado de conservação.

Diante dos cenários otimistas de crescimento da economia brasileira, perto de 5% ou mais neste ano, o que implicará no sensível aumento do consumo da eletricidade, haverá necessi! dade do adequado planejamento e estabelecimento de políticas governamentais. É o papel do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, subordinado diretamente ao ministro de Minas e Energia.

Como é sabido, o Brasil possui muitas vantagens em relação a outros países, como é o caso do grande potencial hídrico e de produção de biocombustíveis, lamentavelmente não aproveitados. Tão somente no bagaço sobrante nas indústrias sucroalcooleiras, existem quase duas usinas com a capacidade geradora de Itaipu. A energia assegurada da usina de Itaipu é de 9.000 MW médios.

A fim de não registrarmos novos e inevitáveis apagões, as energias brasileiras necessitam ser complementares. Ademais, poderão ser instaladas redes inteligentes, sistemas capazes de redirecionar a distribuição de energia em momentos de escassez. A primeira providência, a fim de instituir redes inteligentes é a troca dos medidores, passando cada residência a se com! unicar com os aparelhos de uma rede. Em conjunto, serão definidas as prioridades de distribuição de energia.

Outra alternativa ponderável, no sentido de assegurar a qualidade da eletricidade e a sua regularidade no fornecimento, seria a implantação de térmicas movidas a gás natural, menos poluentes que as de carvão mineral, óleo diesel ou óleo combustível. Contudo, estamos ficando na contramão da história, quando optamos pelas térmicas.

Não obstante, o preço do gás natural no Brasil, um dos mais caros do universo, inviabiliza a construção das térmicas. O preço do energético gasoso, vendido no Brasil, é igual ao coreano (US$ 12,46 por milhão de BTU) e superior ao mexicano, chileno, canadense, americano e francês, consoante a Abrace.

Nos próximos 4 anos, 60% de expansão do sistema elétrico virá de térmicas, embora mais caras e ambientalmente incorretas. A Agência Internacional do Petróleo (AIE) projetou o preço do petróleo a US$ 100/barril até 2015 e US$ 190 até ! 2030, alcançando o consumo de 106 milhões de barris por dia.

As margens das distribuidoras, da mesma forma, são consideradas altas e superiores às razoáveis do mundo. Contudo, algumas regiões brasileiras têm permanecido horas no escuro. Nada justifica a precariedade do serviço.

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