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Cana empurra o boi no interior de São Paulo

Os investimentos estimados em R$ 12,5 bilhões na região oeste do estado de São Paulo para a construção de 27 usinas de álcool e açúcar poderão resultar numa excessiva concentração de atividade e, conseqüentemente, de renda. A tendência é de as novas usinas arrendarem ou comprarem as terras hoje ocupadas pela pecuária, manter a cultura local de verticalização das atividades e empurrar os produtores de carne e leite para as cidades, contribuindo para o seu empobrecimento. Numa tentativa de mudar esse cenário já delineado, o presidente da Organização dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Orplana) e da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), Manoel Ortolan, ensaia uma grande mobilização para que os pecuaristas da região aumentem a eficiência de seus pastos e liberem áreas para que eles mesmos se tornem fornecedores de cana para as novas usinas que deverão entrar em operação até 2010.

A área de cana necessária para atender a essas novas usinas é estimada em 800 mil hectares, que deverá produzir cerca de 60 mil toneladas ao ano. “A ineficiência da pecuária da região faz do oeste e noroeste paulista a maior fronteira agrícola a ser explorada”, diz Ortolan. “Nosso objetivo é despertar o interesse dos produtores em plantar cana atendendo a todas as especificações técnicas e com isso, obter bons resultados financeiros, resistindo às ofertas das usinas, que devem tentar adquirir essas terras”.

A verticalização da produção de açúcar e álcool na região oeste do Estado pode ser explicada pelo fato de as usinas serem relativamente novas. Ao contrário do que ocorreu nas demais regiões canavieiras do estado, em que as usinas foram submetidas a uma legislação destinada a garantir reserva de mercado aos plantadores de cana, no oeste, as usinas surgiram após a liberalização do mercado, o que permitiu que as usinas expandissem seus domínios, explicou Roberto Egreja, da Usina Diana, de Penápolis. “As usinas preferem plantar sua própria cana, para poder dispor de matéria-prima, sem a necessidade de negociação com fornecedores”. Egreja explica que isso é bom para as usinas, mas não é bom para a região, já que impede a distribuição de renda e o desenvolvimento econômico.

Terras baratas

É grande a tentação de as novas usinas adquirem áreas de terras para o plantio de sua própria cana, em vez de buscarem fornecedores, uma vez que as áreas agricultáveis estão entre as mais baratas do estado. Enquanto na região de Ribeirão Preto, um alqueire de terra está valendo em torno de R$ 50,00, em Araçatuba custa R$ 26,00 e, mais adiante na direção do Oeste, na região de Castilho, R$ 13,00. Embora conte com boa infra-estrutura de transportes, a região oeste do estado perde competitividade em relação aos seus concorrentes instalados próximos a Ribeirão Preto ou de Piracicaba no que diz respeito a transportes. Por essa mesma razão que Ortolan, além de convencer os agricultores e pecuaristas locais a plantar cana, pretende ainda incentivar plantadores de cana de outras regiões do estado a comprarem terras para tornarem-se fornecedores das usinas locais.

A ocupação de toda essa área com boas lavouras de cana, porém, demanda investimentos, que nem sempre estão ao alcance dos pecuaristas locais, afirma o presidente da Orplana. Plantar cana utilizando moderna tecnologia depende de apoio financeiro, que Ortolan espera buscar em órgão oficiais. Além dos produtores agrícolas, planeja sensibilizar os dirigentes de órgãos oficiais de que será preciso liberar recursos e assim evitar o desastre social. Cada nova usina representa a criação de pelo menos 1.500 empregos, mas nem sempre de boa qualidade. A manutenção das propriedades e a sua exploração pelos próprios donos são garantia de renda e boa qualidade de vida, diz Ortolan.

Embora os custos de produção no oeste paulista sejam menores do que os das regiões produtoras de cana mais tradicionais, o diretor-superintendente do Grupo Cosan, Pedro Isamu Mizutani, afirma que essa vantagem praticamente se perde, se consideradas as despesas gastas por essas usinas para transportar seus produtos. Enquanto o frete rodoviário de uma tonelada de açúcar, a partir de Araçatuba em direção ao Porto de Santos, custa em torno de R$ 85,50, de Ribeirão Preto custa R$ 70 e de Piracicaba apenas R$ 35. O custo dessa mesma tonelada de cana, se transportada por ferrovia a partir de Araçatuba, custa R$ 77 a tonelada e por hidrovia, R$ 100. O elevado custo do transporte pode ser um obstáculo ao esperado desenvolvimento da região, que também requer investimento oficial em infra-estrutura para o aperfeiçoamento da logística nessa área do estado.

Ortolan e Mizutani participaram ontem da sessão de abertura da Feira de Negócios da Agroindústria Sucro-alcooleira (Feicana), promovida pelas Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop) e que se realiza em Araçatuba. O diretor de Dutos e Terminais da Petrobras Transporte, Marcelino Guedes, que participou do Seminário Político Feicana, garantiu que esse apoio será dado pela Petrobras. A estatal, segundo informou, tem feito investimentos para a adequação do sistema de dutos que permitem uma melhora nos sistemas que inicialmente transportarão 1 bilhão de litros de álcool, numa primeira fase, e posteriormente até 2 bilhões de litros. Os terminais beneficiados são os de Paulínia e de Taubaté. Os investimentos de US$ 4 milhões também deverão beneficiar as exportações por Paranaguá e posteriormente, por São Sebastião.

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