Mercado

Campo dá sinais de recuperação após três anos de crise

O campo começa a respirar depois de três anos consecutivos de crise na agricultura de grãos. A produção e a receita previstas para 2007 ainda serão acanhadas, porém com melhor equilíbrio entre custos e preços, especialmente para os produtores dos Estados do sul, que têm menos problemas com a infra-estrutura para escoamento da safra.

Para o consumidor, as perspectivas não são tão favoráveis por causa da queda na oferta de grãos. Com isso, há previsões de um risco maior de inflação dos preços agrícolas para o ano que vem. Outros afirmam que deflação dos alimentos registrada em vários meses deste ano será coisa do passado em 2007.

A estimativa é de que a safra de grãos, que começa a ser plantada neste mês no centro-sul do País e será colhida a partir de março de 2007, fique em 112,3 milhões de toneladas. É a menor produção desde 2002 e terá um recuo de 5,2% em relação à safra de arroz, feijão, milho, soja, algodão e trigo deste ano.

A receita, no entanto, deve aumentar 7,2% em relação à última safra por causa da oferta menor, principalmente de soja, uma vez que o Brasil tem influência na formação dos preços no mercado internacional.

A receita com grãos em 2007 poderá somar R$ 49,2 bilhões, segundo cálculos da RC Consultores, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A cifra projetada para o ano que vem está muito aquém do pico de faturamento do setor, de R$ 70,9 bilhões, alcançado em 2004, mas dá sinais de recuperação.

“A sangria estancou. A agricultura vai parar de apanhar”, diz o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. Mas ele pondera que o desempenho da próxima safra ainda será medíocre. Os agricultores, depois de três anos de descapitalização, têm dívidas pendentes, o que funciona como uma espécie de trava para a plena recuperação do setor.

A dívida dos agricultores com a indústria de defensivos agrícolas, por exemplo, atingiu R$ 5 bilhões no primeiro semestre deste ano, segundo o presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Cristiano Walter Simon. Com isso, as vendas de defensivos de janeiro a julho caíram 35% em reais na comparação com igual período do ano passado.

Soja – A expectativa para a soja, que continua sendo a estrela da safra de verão mas agora com menos brilho, é de queda de cerca de 10% na produção e na área plantada. Com isso, a safra deve somar 47,4 milhões de toneladas, o menor volume desde 2002. No caso do milho, a retração é menor, cerca de 4% na produção ante a última safra.

O maior recuo na área plantada com soja deve ocorrer nos Estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso (-20%) e Goiás (15%). No Sul, a retração será menor (10%). O superintendente técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Ricardo Cotta, diz que os produtores dos Estados com maiores problemas de infra-estrutura de transporte são os que estão reduzindo a área plantada com soja.

“Quando o real se valorizou em relação ao dólar, os problemas de infra-estrutura afloraram nas regiões mais deficientes, como o Centro-Oeste”, diz Cotta. “O frete não baixou e os custos em dólar também não”, diz o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia. A Comigo reúne 4 mil produtores.

Segundo ele, a situação é mais crítica no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, onde o frete é mais caro do que em Goiás. “Eu não acredito que o pior já tenha passado para a agricultura de grãos.” Chavaglia diz que falta liquidez para o agricultor da sua região. Escaldadas com a inadimplência, as empresas que vendem insumos estão exigindo neste ano mais garantias reais antes de liberar o crédito para os produtores.

No sul, a situação é mais favorável. José Aroldo Galassini, presidente da Coamo Agroindustrial Cooperativa, que engloba 53 municípios do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, diz que, pela primeira vez em três anos, voltou a ter casamento entre os custos e as receitas em dólar. É essa combinação que está animando os produtores para a próxima safra.

Em 2005, os produtores compraram insumos com dólar cotado por R$ 3,20 e venderam a safra de soja com o câmbio a R$ 2,60. Neste ano, os custos seguiram o dólar de R$ 2,60 e receita da commodity teve um câmbio de R$ 2,05. Para a safra de 2007, os custos e as receitas voltaram para o mesmo nível, com o câmbio a R$ 2,20.

Banner Revistas Mobile