Talvez quem ouve falar na República do Sudão, cuja capital é Cartum, situada ao Norte do Continente Africano, a primeira vista, a impressão pode não ser das melhores. Mas quem esteve no país pode ter uma surpresa ao visitar o governo, que admite a intenção de levantar a indústria sucroenergética em um futuro próximo. Flavio Castelar, diretor executivo do Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool), foi um dos brasileiros que visitou o país e voltou com outra ideia. “Fiquei surpreso, vi muita organização. Eles possuem algumas tecnologias brasileiras mas há muito espaço na área de processos para melhorar”, revela Castelar.
Segundo Castelar, muitos equipamentos brasileiros ainda podem chegar ao país, como por exemplo, na área agrícola. “Os sudaneses colhem a cana com carretas que causam grande impacto na cultura, até porque elas não são próprias para isso. Outra prática é a queima de cana para colher mecanicamente. Eles sabem que o Brasil é uma potência sucroenergética, se espelham no nosso modelo e compram nossa tecnologia”, diz.
De acordo com Castelar, o governo sudanês está comandando a expansão do segmento porque a cana é um dos principais pilares econômicos daquele local. “A cana tem um papel importante no Sudão, que possui terra para expansão, clima e água. Eles não precisam passar pela questão da mecanização agrícola, já que antigamente não havia mão de obra e foi preciso mecanizar. As pessoas disponíveis foram inseridas no setor de administração das empresas”, lembra.
Entraves – O país sofre um embargo norte americano, não possui cartão de crédito ou débito, e os Bancos sudaneses não se comunicam com o restante do mundo que segue o modelo financeiro norte americano. Mas um dos principais problemas da atualidade é uma dívida que o Sudão tem com o Brasil, que já tramita no Ministério da Fazenda brasileiro. “Não existe embargo para vender para o Sudão, o entrave é ter acesso a linhas de financiamentos nacionais, mas nada impede que comprem com fundos internacionais. Eles já prometeram pagar a dívida e há um processo em andamento para assinatura de um acordo. Senti que as empresas sudanesas têm interesse de dialogar com o Brasil, temos grandes oportunidades lá já que em 10 anos deverão lançar entre 10 a 15 usinas”, frisa.
Sudaneses buscam tecnologias no Brasil
De 11 a 19 de março, uma delegação do Sudão, formada por diretores da Kenana Sugar Company, maior grupo sucroenergético do país, esteve no Brasil para conhecer a tecnologia brasileira para processamento da cana-de-açúcar. Na ocasião, os representantes participaram de reuniões e visitas comerciais e técnicas em dezenas de empresas da região de Sertãozinho e Piracicaba. Musaad Mohamed Ahmed, Mohamed El Mardi El Tegani, Abdullahi Abu Al Gasim, Nadeem Choudry, Ali Elsyed Mukhtar, Omer Hussein Sharfi , Ali Bakhreiba e Osama Hassan foram recebidos pelo diretor executivo do Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool), Flavio Castelar, que já havia recepcionado uma delegação do governo sudanês em novembro passado.
“Este é um dos primeiros encontros, fruto do acordo de cooperação assinado entre Apla e a Kenana em janeiro de 2013 para desenvolver ações com o objetivo de introduzir tecnologias brasileiras no Sudão e outros países africanos”, diz.
Castelar revela que estes projetos fazem parte de um grande plano de expansão do governo do Sudão para a cultura da cana-de-açúcar, bem como etanol, que desempenham papel importante na economia.
O país possui seis unidades sucroenergéticas entre elas, quatro pertencentes ao governo (Guneid Sugar Factory; New Halfa Sugar Factory; Sennar Sugar Factory e Assalaya Sugar Factory), que processam de 4 a 6 mil toneladas / dia. Já as duas maiores, pertencentes ao Grupo Kenana, a Kenana Sugar Company e a White Nile Sugar Company, que também contam com 35% de participação do governo, possuem produção superior as governamentais. A Kenana Sugar esmaga 26 mil toneladas / dia e a gestão do Grupo segue um modelo profissionalizado. De acordo com o diretor da Kenana, Mohamed El Mardi El Tegani, o plano Kenana Visão 2020, em fase de implementação, incluirá um terminal de exportação no Porto Sudão, uma nova refinaria de açúcar e a criação de novas subsidiárias e oportunidades de investimento. “A Kenana está a frente do “National Grand Sugar Plan”, que fará o Sudão um dos maiores produtores de açúcar e exportadores do mundo”, afirma.
Flavio Castelar explica que os sudaneses querem aumentar a capacidade de moagem de suas unidades, cogerar e comprar novas plantas de etanol. “Temos chances de ajudar nessa expansão, inclusive nesse primeiro semestre o governo pretende implantar a mistura de 10% de etanol na gasolina”, finaliza.