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Brasil e Europa sentam à mesa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na noite de ontem à capital sueca, Estocolmo, onde participa hoje da 3ª Cupula Brasil-União Europeia (UE), respondendo a cobranças dos países desenvolvidos sobre a contenção do desmatamento na Amazônia – a mudança climática é ponto central do encontro. “Os países ricos não podem continuar achando que os pobres têm que preservar as florestas enquanto eles continuam crescendo”, disse Lula ao chegar ao Grande Hotel de Estocolmo.

O presidente brasileiro sustentou que a Organização das Nações Unidas (ONU) deve monitorar as emissões de gás carbônico de cada país para que esses dados indiquem o quanto cada um tem que reduzir. “Tem que fazer com todos os países: Brasil, Botswana, Namíbia… Cada um tem que assumir sua responsabilidade.” As conversas sobr! e a mudança do clima estão entre os assuntos que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, aponta como “resultados concretos” das cúpulas de hoje em Estocolmo – à tarde, em encontro bilateral com o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, Lula discutiu a parceria estratégica entre Brasil e Suécia. “Vocês querem alguma coisa mais concreta do que o ar que vocês respiram?”, perguntou o chanceler aos jornalistas. Ainda no terreno ambiental, o ministro citou os planos conjuntos com a UE para programas triangulares de cooperação com países africanos interessados nos biocombustíveis, nos moldes da iniciativa com a Suécia, que importa de Gana etanol produzido com assistência brasileira.

Amorim ressaltou também as discussões sobre a Rodada de Doha, para a liberalização do comércio mundial, e as gestões para retomar negociações sobre um acordo de livre comercio entre a UE e o Mercosul – mas fez questão de frisar que o processo não será oficializado na capital sueca, mesmo porqu! e o Brasil não está exercendo a presidência do Mercosul.

O presidente Lula lamentou que a agenda apertada na Europa – ele passou o fim de semana em visita de Estado a Bélgica – não tenha permitido comemorar demais a escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olimpicos de 2016. “Tomei só uma cerveja”, garantiu aos jornalistas. “Ainda acho que o Brasil tem que conquistar é o Conselho de Seguranca”, prosseguiu, invocando o grande objetivo de seu governo – uma cadeira permanente no centro de decisões das Nações Unidas. “O país está maduro. Vamos democratizar a ONU”, afirmou. “Mas isso tem que ser discutido devagar”, completou.

Compra de caças entra na agenda

Estocolmo – A concorrência pelos 36 caças que o Brasil pretende adquirir entrou de carona na agenda oficial, mas não deixará de ser tratada na reunião de cúpula que selará a parceria estratégica entre o país e a Suécia. Na tarde de hoje, depois da cúpula com a União Europeia, o presidente Lula se reún! e com o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, que não perderá a oportunidade para reafirmar o apoio de seu governo à Saab, fabricante local do Gripen NG. O avião tenta desbancar o favorito Rafale (francês) e o Super Hornet (americano) com a oferta de cooperação total com empresas brasileiras, do desenvolvimento do projeto a comercialização do caça – além de um custo 50% menor que o dos concorrentes.

“O governo sueco apoia firmemente a proposta da Saab”, disse ontem a ministra do Comércio Exterior, Ewa Björling, a um grupo de jornalistas brasileiros. A cooperação no campo da defesa é um dos cinco pontos do plano de ação da parceria estratégica, cujas linhas gerais foram acertadas em Brasília, no primeiro semestre, durante visita da ministra. Ela coordena, no gabinete sueco, os assuntos da associação com o Brasil.

Biocombustíveis Entre os demais temas, Ewa Björling destaca o “encontro natural” entre os dois países na promoção dos biocombustíveis. “O Brasil é o líde! r (do setor) na América Latina, e a Suécia é a líder na Europa”, afirmou. A ministra reiterou a posição a favor da redução ou mesmo eliminação das sobretaxas ao etanol brasileiro na Europa, mas cobrou, em contrapartida, a plena certificação ambiental e trabalhista do produto, segundo os padrões da UE. A pesquisa conjunta no terreno das energias renováveis é o cerne dos projetos da parceria para o desenvolvimento sustentável.

Com mais de 200 empresas radicadas no Brasil, a Suécia quer também intensificar o comércio e os investimentos, colaborar no campo acadêmico e científico, especialmente nas tecnologias de ponta (inclusive a biotecnologia). Como ferramenta fundamental da parceria, os dois países estabelecerão um mecanismo de consultas que tornará mais frequentes os contatos de alto nível entre os dois governos. Desde a viagem oficial do presidente Lula a Estocolmo, em 2007, o Brasil recebeu cerca de 10 visitas ministeriais suecas.

Em discussão

Mudanças climáticas

Brasil e União Europeia compartilham a noção de que a Cúpula de Copenhague, em dezembro, precisa amarrar um acordo concreto sobre redução das emissões de gás carbônico, com metas obrigatórias para países desenvolvidos e para economias emergentes

Biocombustíveis

O Brasil luta para que a Europa se abra para o etanol de cana como opção viável e disponível para que os 27 países da UE possam cumprir a meta (definida pelo próprio bloco) de chegar a 2020 com participação de 20% de biocombustíveis no consumo total de sua frota de veículos

Migração

Embora tenham se reduzido os episódios de deportação sumária de brasileiros, o tema continua causando arestas nas relações com a UE

Comércio

Os dois lados reafirmarão a urgência de retomar e concluir a Rodada de Doha no âmbito global, e indicarão a disposição comum de reabrir as conversações sobre

um acordo de associação entre a UE e o Mercosul

Irã

Embora endosse e encoraje a decisão! do governo brasileiro de receber o presidente iraniano, a UE quer que Lula pressione Ahmadinejad

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