Mercado

Brasil e EUA querem padrão mundial para etanol

Denize Bacoccina, De Brasília

Brasil e Estados Unidos estão negociando um padrão técnico para o etanol, o primeiro passo para a transformação do álcool combustível em uma commodity internacional, que seria negociada em bolsas de mercadorias como o petróleo ou a soja.

O assunto será discutido em uma reunião ainda neste mês entre os seis parceiros interessados no desenvolvimento do etanol – Brasil, Estados Unidos, União Européia, China, Índia e África do Sul.

A afirmação foi feita pelo novo embaixador brasileiro nos EUA, Antonio Patriota, depois de reunião nesta quarta-feira com o subscretário de Estado americano Nicholas Burns e o chanceler Celso Amorim no Itamaraty.

Juntos, Brasil e Estados Unidos respondem por 70% da produção e consumo mundial do etanol.

“Cooperação”

“O debate avançará neste ano”, disse Patriota.

No Ministério do Desenvolvimento, a expectativa também é de um acordo entre Brasil e Estados Unidos para o estabelecimento de um padrão comum ainda neste ano.

O raciocínio é que, se os dois maiores produtores mundiais concordarem com uma padronização, são grandes as chances de que ele seja adotado também pelos outros produtores e aceito pelos consumidores.

“Nós queremos uma cooperação com o Brasil. Queremos estar com o Brasil no mercado mundial”, disse Burns a jornalistas, ao ser questionado sobre as barreiras ao álcool brasileiro, que hoje paga sobretaxa de US$ 0,54 por galão (R$ 0,30 por litro) para entrar no mercado americano.

Os Estados Unidos, reforçou ele, produzem hoje etanol de milho – com subsídios aos produtores do Meio Oeste – mas estão pesquisando outras fontes para produzir o combustível.

Não estão previstas, pelo menos por enquanto, a produção de etanol de cana-de-açúcar ou mesmo a importação do Brasil.

Oriente Médio e Haiti

O Haiti, pelo relato de Amorim, Burns e Patriota, foi o principal assunto de política internacional tratado entre os diplomatas dos dois países. O Brasil lidera a missão das forças de paz da ONU no país e é sempre elogiado pelo governo americano pelo papel.

“Falamos mais do Haiti do que da Venezuela”, afirmou o chanceler brasileiros aos jornalistas que queriam saber se os dois haviam conversado sobre o país andino, que atualmente tem uma difícil relação diplomática com Washington.

Amorim descartou uma intermediação brasileira entre os dois. “O Brasil não passa recado de ninguém. Eles têm embaixador lá”, afirmou.

Os diplomatas americanos também teriam, no relato de Patriota, elogiado o interesse do governo brasileiro pela questão do Oriente Médio, e reafirmado a intenção do presidente George W. Bush de apoiar a criação de um Estado palestino.

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, deve visitar o Brasil nos próximos meses, mas o Itamaraty não informou se a viagem vai acontecer antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington.

A visita de Lula também não tem data confirmada, e deve acontecer entre fins de março e início de abril. Rice teria manifestado interesse em conhecer Salvador, por causa da cultura afrobrasileira.

Outros encontros

Nicholas Burns também se encontraria ainda nesta quarta-feira com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e com o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. À noite, se encontra com parlamentares brasileiros num jantar na residência do embaixador americano em Brasília.

Nesta quinta-feira, Burns se reúne com os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e de Minas Gerais, Aécio Neves, antes de embarcar para Buenos Aires.

O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzales, também estará em Brasília nesta quinta-feira. Ele se encontra com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos e com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

De acordo com o Ministério, os dois vão discutir lavagem de dinheiro, crimes cibernéticos, tráfico de entorpecentes, trabalho escravo e extradição.

Os dois secretários estão discutindo com os ministros brasileiros as decisões e acordos que serão anunciados no encontro dos dois presidentes.

http://oglobo.globo.com/economia/mat/2007/02/07/294483128.asp

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