Mercado

Bioeletricidade: novo mecanismo de segurança no setor elétrico

img5488
Onório Kitayama foi premiado no BestBIO 2012

O cenário atual lembra muito o verificado no ano 2000, quando os níveis dos reservatórios começavam a demonstrar riscos de segurança no abastecimento elétrico. Em 2001/02 acabou acontecendo o racionamento, motivando o desenvolvimento de um novo modelo do setor elétrico, com medidas de alerta e de segurança para se evitar a repetição do problema.

A medida de segurança para o abastecimento mais importante foi a introdução do mecanismo hidrotérmico, num setor cuja cultura era totalmente hidrelétrica. Na prática, quando o problema da estiagem é leve, o acionamento das térmicas é muito eficaz. Quando a estiagem é severa, o mecanismo se mostra importante, porém, aparece um custo adicional que impacta a tarifa para os consumidores, porque as térmicas de reserva têm um custo alto de operação e principalmente se acionados por períodos prolongados.

Há quem afirme que o acionamento dessas térmicas em 2012, deve resultar em aumento de aproximadamente 5% nas tarifas de energia elétrica em 2013, justo no momento em que a nossa Presidente anuncia a redução das tarifas de energia elétrica para os consumidores brasileiros.

Essa medida tomada pelo governo permite duas maneiras de interpretação: a primeira, que a modicidade tarifária é importante e causa impacto quando acontece no relógio do consumidor, sendo assim, não faz sentido continuar praticando-a no momento da compra da energia nos leilões de energia nova.

Em recente artigo, ao analisar os preços da energia hidrelétrica, Edvaldo Santana, da Aneel, fez o seguinte comentário: “Os contratos de energia das usinas hidrelétricas Santo Antonio e Jirau possuem preço médio de R$ 105,00/MWh. Porém, essas duas usinas entregam energia em uma subestação que fica em Araraquara, SP, a 2.500 Km do local onde foram construídas. A linha de transmissão necessária para isso tem um custo razoável. Só para o consumidor o custo é de mais de R$ 30,00/MWh, o que equivale um custo direto de R$ 135,00/MWh, ou, U$ 65,00/MWh”.

Portanto, no leilão de novas energias o custo é de R$ 105,00/MWh, e no relógio do consumidor o custo é de no mínimo R$ 135,00/MWh.

Acrescente-se a isto, que essas usinas localizadas na região amazônica foram implantadas a fio d’água, sem reservatórios. Ou seja, gerarão muito no período úmido e pouco no período seco, o que exigirá energia complementar para o abastecimento o ano todo.

Essa complementariedade pode ser obtida dentro do conceito hidrotérmico por diversas fontes, até mesmo parcialmente pela própria hidreletricidade pelo mecanismo da MRE, mas principalmente, pelas térmicas a óleos, gás natural e carvão, que são caras e sujas, como também pela bioeletricidade e eólicas, mais baratas, limpas e renováveis.

A complementariedade da energia, com as térmicas caras, impacta o custo das tarifas dos consumidores, além de serem gerações sujas ambientalmente. As gerações com bioeletricidade e eólica, além de mais baratas, limpas e renováveis, se enquadram como a segunda maneira por introduzir no modelo do setor elétrico a possibilidade de economia de água dos reservatórios.

Na época do desenvolvimento do modelo, ainda era desconhecida a informação de que a cada 1.000 MWm de bioeletricidade, se podia conseguir uma economia de água da ordem de 4% nos reservatórios.

No momento em que essa avaliação foi constatada pelo NOS — Operador Nacional do Sistema, os responsáveis pelo setor elétrico deveriam ter colocado um objetivo de se buscar um determinado percentual de capacidade de economia de água, devidamente calculado para se alcançar a mitigação do risco de desabastecimento.

Por exemplo, com 5.000 MWm já seria possível assegurar 20% de capacidade de economia de água nos reservatórios. Nessa condição, com as precipitações ocorridas nos últimos três anos, não haveria necessidade de acionamento das térmicas caras e poluentes, portanto não estariam impactando as tarifas dos consumidores neste ano.

Mas, paralelamente, nos últimos anos, o mundo assistiu a evolução significativa da tecnologia da geração eólica, com um aumento de competitividade significativa, fazendo com que no critério de modicidade tarifária praticada no momento da compra, essa energia dominasse quase que totalmente o preenchimento da necessidade de energias novas.

Entretanto, considerando a análise feita por Edvaldo Santana, também aplicada à geração eólica, que ocorre, predominantemente, da Bahia até o Ceará, essa energia se consumida no submercado sudeste/centro-oeste, teria que acrescentar para o consumidor o custo da transmissão.

Poderiam afirmar que por se tratar de energia incentivada, esse custo seria menor. Porém, havendo potencial de geração da bioeletricidade junto a região de consumo, não haveria necessidade de se usar esse incentivo de desconto de 50% no uso do fio. Portanto, chegamos a uma conclusão: no relógio do consumidor, hidreletricidade da Amazônia, bioeletricidade e eólica competem igualmente para a busca da modicidade tarifária.

Uma ressalva é que ainda não se sabe qual o impacto da geração eólica na contribuição de economia de água no sistema de reservatórios, se são 4%, ou mais ou menos. Pelas características da variabilidade dos ventos durante o dia e a noite, durante as estações do ano e a necessidade desse tipo de energia ser transmitida para uma grande distância, muitos acham que ela teria necessidade de “backup”.

Portanto, a contribuição líquida para a economia de água seria menor que a da bioeletricidade, mas mesmo assim seria positiva, principalmente próxima da geração. Como o país tem uma predominância de geração a base de hidreletricidade, antes de se usar as térmicas caras e poluentes, poderia se criar esse mecanismo de aumento da eficiência nas usinas hidrelétricas, que seria a capacidade de se economizar a água dos reservatórios.

O potencial de geração da bioeletricidade é grande e principalmente, próximo a maior demanda de energia do país, que são os sub-mercados Sudeste e Centro-Oeste. Portanto, repetindo, desde a criação do novo modelo, surgiram duas fontes com predicados muito interessantes para se constituírem em uma nova alternativa de segurança para o sistema de abastecimento elétrico do país. Geram a um custo menor do que as outras térmicas, são fontes limpas e renováveis e são complementares às gerações hidrelétricas, podendo além da economia de água nos reservatórios, serem complementares às novas gerações de usinas hidrelétricas a fio d’água.

Feita essa reflexão, do valor da capacidade de economia de água nos reservatórios, cabe para o futuro um planejamento integrado, buscando racionalmente uma efetiva modicidade tarifária equivalente ao consumidor brasileiro.

*Onório Kitayama (Nascom Agroenergia e BBE –Brazil Biomass Energy)

Banner Revistas Mobile