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Biodiesel americano tem tecnologia...

Pesquisador da USP participa de empresa americana junto com o ator Morgan Freeman. O grupo vê agora o seu negócio prosperar graças sobretudo ao surgimento de programas governamentais de incentivos à introdução no mercado de energias alternativas e menos poluentes, em substituição ao diesel derivado do petróleo, geralmente importado.

“A minha missão é transferir todo o meu conhecimento científico para que a Earth Biofuels possa produzir um combustível competitivo e de qualidade”, diz Dabdoub, que não gosta de ser chamado de “pai do biodiesel”, apesar de acumular mais de 15 anos de envolvimento intenso com o combustível, colecionando inúmeros projetos pioneiros de sucesso realizados a partir de testes feitos no campus da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (SP), onde ele é responsável pela coordenação do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologia Limpa (Ladatel).

“Prefiro ser reconhecido como um dos maiores entusiastas do biodiesel no País”, afirma o brasileiro, que é caracterizado no site da Earth Biofuels como “uma autoridade mundial no desenvolvimento do biodiesel”.

Segundo Dabdoub, as primeiras fábricas de biodiesel começam a ser construídas a partir do segundo semestre. Todo o projeto – ou seja, a operação plena das sete unidades produtivas – deve ser finalizado em um prazo máximo de dois anos. Cada unidade fabril de biodiesel consumirá investimentos de US$ 5 milhões a US$ 7 milhões. Esses valores contemplam somente o maquinário para transformação do óleo em biodiesel. É preciso incluir ainda na conta do projeto os gastos com a parte agrícola (compra de matéria-prima e estocagem de produtos) e com a instalação da fábrica de óleo (esmagadora de grãos). Nesse caso, de acordo com o cientista brasileiro, os investimentos sobem para US$ 50 milhões por unidade produtiva, o que, multiplicado por dez, resulta em um negócio total em torno de US$ 500 milhões.

Pelo acordo assinado por Dabdoub, a Earth Biofuels passou a ter o direito de uso exclusivo nos Estados Unidos de toda a tecnologia concebida pela Biodiesel Brasil, empresa criada pelo cientista e que atualmente é conduzida por mais três sócios brasileiros. Em troca, Dadboub tornou-se também um acionista da companhia norte-americana dirigida por Tommy Johnson, ou seja, o trabalho do cientista é remunerado com ações da empresa.

A Earth Biofuels nasceu com a missão de não só produzir o biodiesel em grande escala, mas também de vendê-lo no varejo com marca própria em todo o território norte-americano, começando os investimentos pela região Sul, mais precisamente pela redondeza dos sete estados onde serão construídas as unidades fabris – Texas, Oklahoma, Tennessee, Mississippi, Arkansas, Louisiana e Geórgia.

As fábricas terão capacidade máxima para produzir 10 milhões de galões de biodiesel por ano, o equivalente a 40 milhões de litros/ano. Trata-se de uma fábrica de porte médio, propositadamente concebida para se encaixar dentro do programa de incentivos lançado por alguns estados norte-americanos. “Para incentivar os produtores de biodiesel de menor porte, o governo de lá oferece subsídios aos empresários que optarem por empreendimentos com capacidade de até 10 milhões de galões”, afirma.

Por cada galão do combustível produzido, a Earth Biofuels irá receber US$ 0,20, o que significa que cada uma das instalações da empresa norte-americana receberá uma restituição anual de US$ 2 milhões. Apesar de ser contra a política de subsídios aplicadas pelos EUA em sua agricultura – que tanto prejudica os concorrentes internacionais, incluindo o Brasil -, Dabdoub não vê problemas quando o caso envolve a ajuda ao um mercado ainda em evolução, como é o caso do biodiesel. “Numa primeira etapa, o filho pequeno precisa ser amamentado, para depois crescer e andar sozinho”, compara.

Os primeiros testes comerciais da empresa com o combustível alternativo foram feitos no ano passado, em dois postos da região do Mississipi. Tudo foi acompanhado de perto por Dadboub, que desde aquele período já prestava consultoria tecnológica para companhia norte-americana, sendo responsável pela condução de pequenas fábricas-piloto, com capacidade de produção de 3 milhões de galões de biodiesel por ano (11,1 milhões de litros). “Colocamos o nosso B-20 (como é chamado a mistura de 20% de biodiesel com 80% de diesel mineral) nas bombas de Mississipi e foi um sucesso imediato”, diz Dabdoub. “Hoje em dia há uma consciência muita grande dos consumidores norte-americanos em relação aos problemas ambientais provocados pelos combustíveis convencionais”, completa.

O combustível produzido pela Earth Biofuels é feito a partir da mistura de óleo de soja (ou, em menor escala, de canola) e etanol (o álcool derivado do petróleo). Por questões econômicas, Dabdoub não utilizará nas plantas comerciais da empresa norte-americana o etanol (álcool) – matéria-prima 100% limpa e renovável, adotado pelas fábricas de biodiesel do Brasil, as únicas no mundo a produzir um biodiesel 100% “verde”. Mesmo assim, o cientista brasileiro garante que o produto da Earth Biofuels também traz ganhos significativos ao meio ambiente. “Como no biodiesel o óleo vegetal é responsável por 85% do produto final, o combustível feito à base de metanol também proporciona redução na emissão de poluentes”, explica.

No entanto, embora o apelo ambiental seja importante para o avanço do mercado de biodiesel, na hora de abastecer o veículo, a primeira coisa que vem à cabeça do consumidor ainda é o valor pago pelo litro do combustível. Ou seja, o biodiesel pode apodrecer nas bombas caso seu preço esteja muito acima do valor da gasolina ou do diesel de petróleo.

Segundo Dabdoub, o temor de que o biodiesel emperre nas bombas dos EUA por conta de seu preço menos competitivo levou o governo norte-americano a ampliar para o varejo o seu programa de subsídios ao combustível alternativo. “Existe uma lei federal que determina a concessão de um subsídio de US$ 1 por galão (3,7 litros) para os postos que optarem pela comercialização do biodiesel misturado ao diesel (em qualquer proporção)”, diz.

Além da ajuda governamental e do apelo ecológico, a Earth Biofuels aposta na força da marca escolhida para estampar as bombas dos postos de combustíveis espalhados pelo Sul dos EUA – a “BioWillie”, que pertencente ao sócio ilustre Willie Nelson. Assim, logo de imediato, a empresa texana pretende conquistar os amantes da música country da região, que geralmente escutam seu gênero preferido enquanto dirigem picapes ou carretas movidas a diesel.

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