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Biocombustível é pouco corrosivo

O primeiro passo da professora Milene Luciano foi separar o combustível, colocá-lo em contato com um aço de baixa qualidade e levá-lo a condições extremas: temperatura de 100oC e alta pressão de oxigênio. %u201CO resultado foi uma alteração de rugosidade e cor na superfície da lâmina, porém, em escala micrométrica%u201D, diz.

Os tanques de armazenamento de biodiesel estão a salvo por pelo menos um ano. Em linhas gerais, esta foi a conclusão da pesquisa desenvolvida pela professora do curso de gestão ambiental do Centro Universitário UNA, de Belo Horizonte, Milene Adriane Luciano, durante o curso de mestrado em engenharia metalúrgica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Habituada a lidar com combustíveis, Mil ene resolveu estudar os efeitos corrosivos do biodiesel –de soja e de macaúba – nos tanques de armazenamento das distribuidoras, normalmente feitos de aço carbono, o tipo mais pobre que existe. O resultado surpreendeu devido à descoberta de que o efeito corrosivo existe, mas é muito pequeno e lento, não chegando a prejudicar o uso do biodiesel.

“Queria avaliar o efeito corrosivo do biodiesel em metais e o foco foi o aço carbono, mais usado nos reservatórios de combustíveis. É o aço mais simples que há e, portanto, se esse aço resistisse, seria sinal de que os demais tipos também resistiriam”, explica Milene. Além de escolher o tipo de aço mais simples, Milene realizou a pesquisa em condições extremas: de alta temperatura, 100°C, e alta pressão de oxigênio, 720Kpa (quilo pascal), que corresponde a mais do triplo da quantidade de oxigênio presente na atmosfera. “Dei todas as condições para que houvesse corrosão”, conta. O resultado foi uma alteração de rugosidade e cor na superfície das lâminas de aço usadas, porém, em escala micrométrica. “Estamos falando da sexta casa decimal depois da vírgula”, ressalta. “Além disso, é importante afirmar que não houve formação de ferrugem, nem variação de massa, nem perfuração”, enfatiza.

A soja e a macaúba foram as plantas escolhidas por motivos distintos: a soja, por ser o tipo de biodiesel mais produzido em escala comercial; a macaúba, porque tem sido uma das espécies nativas bastante estudadas por não concorrer com a produção de alimentos. A macaúba tem, ainda, grande teor de óleo – em torno de 30% por hectare de seu plantio há entre 4 mil e 6 mil quilos de óleo –, além de favorecer pequenos produtores.

ENSAIO Os testes foram feitos usando-se uma lâmina de aço carbono de 40mm por 20mm, mergulhada parcialmente em 30ml de combustível ou óleo puro. Para cada tipo de planta – soja e macaúba –, foram montadas quatro amostras: diesel puro, B5 (5% de biodiesel/95% de diesel), B100 (100% de biodiesel) e óleo puro. “A lâmina ficou parcialmente submersa para haver interface da parte em contato com o líquido com a parte de fora. E também para simular o uso no reservatório, que nem sempre está cheio de combustível”, ressalta Milene. Prontas as amostras, foram guardadas em autoclave e colocadas individualmente dentro do equipamento, que mantém a temperatura e a pressão de oxigênio desejados, onde permaneceram por 168 horas (ou sete dias). Como a experiência foi realizada em condições extremas de temperatura e oxigênio, os resultados obtidos em uma semana, por analogia, equivalem a pelo menos um ano em condições normais de temperatura e pressão de oxigênio, ou seja, a situação normal de armazenamento nos reservatórios de combustível.

A co-orientadora do trabalho e coordenadora do laboratório de combustíveis da UFMG, Vânya Pasa, explica que, em se tratando de combustíveis, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), cada seis horas de envelhecimento da amostra, nas condições realizadas, equivalem a três meses de estocagem em condições normais. Como os ensaios permaneceram em teste por 168 horas, isso equivaleria a mais ou menos sete anos. Porém, como se trata de uma analogia, a professora prefere ser cautelosa e garantir os resultados em um ano de estocagem. “O que já é suficiente, pois nenhum combustível fica estocado nem por esse tempo”, observa Vânya.

RESULTADOS O grau de corrosão encontrado – alteração de rugosidade e cor –foi maior nas amostras realizadas com a macaúba, quando comparadas com a soja, e na seguinte ordem: o óleo puro é mais corrosivo que o B100, por sua vez mais corrosivo que o B5, que é mais corrosivo que o diesel. O que não foi nenhuma surpresa tendo em vista a característica de acidez mais alta da macaúba. No caso da soja, praticamente não houve diferença de resultados entre o óleo puro e o B100, ambos mais corrosivos que a amostra de B5, também mais corrosiva que o diesel. “Tudo isso em escala micrométrica . O que significa que não há risco de degradação acelerada. Aliás, é um risco muito menor do que o álcool”, compara Milene.

“Para os pesquisadores o resultado é muito bom. Inclusive porque foi feito com aço pouco nobre e o ataque químico foi desprezível, mesmo no caso da macaúba, que é uma oleaginosa muito ácida”, afirma Vânya Pasa. “E isso é excelente para os pequenos produtores do camp

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