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BID e IFC voltam a financiar empresas do agronegócio

Depois de um hiato de dois anos sem conceder empréstimos ao agronegócio brasileiro, os bancos de desenvolvimento se reaproximam do setor. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está avaliando um aporte de R$ 104 milhões para uma usina de cana-de-açúcar no Brasil e o IFC – braço de investimentos para o setor privado do Banco Mundial – analisa projetos em cana, soja, lácteos e pecuária que devem demandar este ano até US$ 150 milhões.

Para este ano, a meta do IFC é aplicar no agronegócio da América Latina em torno de US$ 250 milhões. “Para o Brasil não temos uma meta específica, mas esperamos fazer entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões por ano em novos negócios em dívida e investimento em participações nesse setor, incluindo os setores de frango, soja, açúcar e etanol, carne bovina, lácteos e bebidas não alcoólicas”, disse Luiz Daniel de Campos, diretor para investimentos do IFC. “Temos feito consistente desenvolvimento de novos negócios no setor, e estamos buscando no longo prazo aumentar a nossa presença”.

De acordo com ele, dos cinco contratos no “pipeline” com usinas brasileiras, dois não foram para frente. “As usinas não estão fazendo tanto investimento nesse momento”, disse o executivo. As outras três ainda estão em processo de análise, sendo que um dos empréstimos deve ser aprovado ainda no exercício fiscal de 2013, que se encerra no meio do ano.

O BID também ensaia retomar o financiamento a projetos de açúcar e álcool no Brasil, depois de ficar fora do setor por quatro anos. A instituição avalia um aporte de R$ 104 milhões para a Usina Batatais, um dos grupos mais tradicionais do setor com duas usinas no Estado de São Paulo. A companhia pretende renovar aproximadamente 48,6 mil hectares de área de cana-de-açúcar, investir em melhorias tecnológicas na indústria para aumentar a produção de açúcar cristal e de etanol anidro.

O projeto da Usina Batatais, que tem assessoria em financiamento de projetos da consultoria FG/AGRO, está orçado em R$ 588,66 milhões e também deve ter a complementaridade de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que avalia o financiamento de R$ 154 milhões ao grupo.

As usinas do Brasil estão ampliando a adoção de práticas sustentáveis na produção de etanol, disse o diretor de investimentos do BID, Sergio Rivera-Zeballos, mas para entrar de cabeça no setor falta à instituição explorar mais o mercado local. Até o fim de março, o executivo desembarcará no Brasil para reuniões com outros grupos sucroalcooleiros e instituições ligadas ao segmento.

Em 2007, o BID chegou a anunciar que destinaria US$ 997 milhões a cinco usinas no Brasil, entre elas a Companhia Nacional de Açúcar e Álcool (CNAA), comprada em 2011 pela petroleira britânica BP (ex-British Petroleum) e a Usina Moema, vendida em 2010 para a multinacional americana Bunge.

Rivera-Zeballos não se recorda do montante total de recursos liberado ao setor na época. À Moema, foram US$ 120 milhões para refinanciar dívidas. Para a CNAA, o projeto era destinar US$ 269 milhões para construção de três usinas, no entanto, recursos a apenas duas delas foram liberados, uma vez que a escassez de crédito na época inviabilizou à CNAA captar a outra parte do capital necessário para concluir o projeto, contou Rivera-Zeballos. “O BID nunca deixou o setor. Mas com a retração da indústria de etanol e açúcar as oportunidades se contraíram significantemente”, recorda.

Já o IFC ficou dois exercícios fiscais (2010 e 2011) sem assinar contratos agropecuários. O hiato foi consequência de uma revisão de critérios e análise mais cuidadosa de contratos após escândalos que o braço do Banco Mundial sofreu em alguns países, incluindo o rompimento de um contrato de US$ 90 milhões com o Bertin, posteriormente adquirido pela JBS, acusado pelas autoridades brasileiras de ser corresponsável pelo desmatamento na Amazônia.

Desde então, o IFC preferiu envolver-se em regiões onde as lavouras estão consolidadas – sobretudo no Sul e Sudeste. O tempo de avaliação dos contratos estendeu-se para até um ano e meio. O número de reuniões aumentou e elas passaram a envolver diretores de diferentes áreas do banco com a empresa tomadora de empréstimo.

As análises do agronegócio costumam levar um pouco mais de tempo também, já que boa parte dos casos se enquadra na chamada “categoria A” – de alto risco para o emprestador.

“O nosso foco é sempre buscar relacionamentos com empresas onde possamos ter um importante impacto em desenvolvimento, seja por meio da criação de novos empregos, melhoria de práticas socioambientais e de governança corporativa”.

No caso do BID, a atuação em agronegócios vem sendo muito mais ativa em outros países da América Latina. “O Brasil tem uma maior disponibilidade de crédito comercial do que os outros países do continente”, disse Rivera-Zeballos. Desde 2007, o banco de desenvolvimento oferece suporte a investidores e companhias das áreas de grãos, leite, soja, frutas na Argentina, Chile, Uruguai, Nicarágua e Peru.

No deserto peruano, o banco financiou, juntamente com outros quatro bancos, um projeto de produção de etanol a partir de cana-de-açúcar irrigada por gotejamento. O grupo apoiado, o Maple Energy, implantou capacidade para produzir 132 milhões de litros de etanol e 37 megawatt de energia a partir do bagaço da cana.

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