Mercado

Analistas recomendam ações do setor

As recomendações dos analistas que acompanham as ações das empresas do setor de etanol na Bolsa de Valores não são unânimes. De modo geral, são neutras ou favoráveis às companhias de capital aberto – Cosan (Raízen), São Martinho e Tereos (Guarani). As avaliações levam em conta o caráter cíclico e volátil do setor e também as perspectivas macroeconômicas, como a demanda promissora para o álcool e os preços atraentes para o açúcar em época de câmbio favorável, mesmo com as dificuldades que o mercado vem enfrentando em relação à baixa produtividade dos canaviais envelhecidos e ao regime meteorológico conturbado dos últimos anos.

No caso do mercado de etanol, “o setor está exposto à quebra, mas a longo prazo tem perspectiva promissora”, diz o analista da CLW, Erick Scott. Por enquanto, no entanto, a barreira do preço atrelado à gasolina não permite tanto otimismo nesta área. Para Ricardo Corrêa, da Ativa Corretora, a política oficial de preços da gasolina provoca a perda de atratividade de investimentos no setor. “A recomendação é neutra. Mas uma queda forte nos preços pode abrir uma oportunidade de longo prazo”, avalia.

A situação do açúcar é mais favorável neste momento. Está mantendo preço entre 20 e 22 centavos a libra peso, bem acima da média histórica em torno de 12 centavos. Como o Brasil é responsável por metade das exportações mundiais do produto – e não prevê expansão significativa -, enquanto o atraso das monções fez a Índia reduzir sua previsão para a safra que começa em outubro de 26 milhões para 25 milhões de toneladas e há perspectivas de migração de cana-de-açúcar para arroz na Tailândia, tudo indica que os preços permanecerão elevados.

“No mercado internacional de açúcar, a expectativa é de superávit entre 8 milhões e 10 milhões de toneladas nesta safra”, registram os analisas Rodrigo Fernandes e Hering Shen, da Fator Corretora. “O preço do açúcar já mostrou sinais de recuperação após a forte queda no início de junho”, dizem os analistas.

No ano passado, os papéis do setor acompanharam o desempenho negativo da Bolsa de Valores. A Cosan perdeu 0,1%, a São Martinho, 36% e a Tereos caiu 13%. Este ano o quadro melhorou, principalmente para a as ações da São Martinho, que avançaram 22,6% até o dia 9 de julho. No mesmo período, os papéis da Cosan registraram variação positiva de 15,5%. A exceção ficou por conta das ações da Tereos, com variação negativa de 4,83%. No mesmo período, o Ibovespa caiu 2,4%. “Todas estão com comportamento volátil em 2012. O mercado está sem tendência este ano”, afirma William Castro Alves, analista da XP.

A concordância dos analistas em relação às tendências do mercado é menor quando entram em cena análises específicas para as empresas, graças aos movimentos particulares de cada uma delas. A Cosan é a preferida do HSBC, cujo analista Pedro Herrera observa também o baixo preço da ação da Tereos. São Martinho tem a simpatia do Itaú BBA. Alessandro Baldoni, executivo do Deutsche Bank, também coloca o papel como primeira indicação, seguida por Tereos e Cosan. Correia, da Ativa Corretora, lembra que a ação da Tereos está barata – embora seja indicada só para quem não busca liquidez.

A diversificação da Cosan para áreas além do açúcar e do etanol gera pontos de vista opostos. A empresa é a maior do setor e tem as ações mais líquidas. A estratégia de diversificar permite maior estabilidade, mas ainda não tem sinergia reconhecida no mercado e aumenta muito a alavancagem da empresa, que ainda espera a aprovação de sua oferta de quase R$ 900 milhões por 49% de participação no bloco de controle da ALL e quer absorver a Comgás por R$ 1,8 bilhão. “A aquisição vai resultar em uma estrutura de capital mais eficiente. Nenhum segmento da Cosan vai apresentar mais de 35% a 40% do fluxo de caixa”, escreveu Herrera em relatório no final de junho.

“A empresa neste momento virou mais holding do que empresa operacional. Holding tem desconto”, diz Baldoni, que mudou sua indicação para o papel de “comprar” para “manter”. Ele lembra que apesar do resultado favorável em 2012, o comportamento ficou estável a partir da oferta pela ALL e caiu em torno de 6% desde o anúncio do interesse na Comgás, em maio – com a aprovação do negócio, açúcar e álcool devem passar a compor 21% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia. “O mercado só paga quando vê o valor aparecendo. As iniciativas anteriores em distribuição tinham sinergia. Agora é só ativo diversificado e o investidor diversifica melhor que a empresa”, afirma.

A Raízen cortou em 20% seu projeto de chegar a uma capacidade de moagem de 100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em 2016. “A indústria de forma geral está sofrendo com baixo uso de capacidade, canaviais velhos e queda no rendimento agrícola, com menor diluição de custo”, diz Giovana Araújo, do Itaú BBA. “As mais alavancadas são mais impactadas”, diz. Segundo ela, as que sofrem menos com o canavial entregam melhor – o que coloca a São Martinho, com terra própria, na posição de benchmark do setor, graças também ao fato de ser menos alavancada, estar gerando caixa e ter capacidade de entregar resultado, o que levou a analista a indicar a compra do papel em maio.

“Quando chamei a atenção para quão barata a empresa estava em fim de maio, seu valor era de 57 dólares por tonelada. Hoje está em 72 dólares”, destaca Giovana. Única a manter-se só no negócio de açúcar e álcool, melhorou sua flexibilidade de transitar entre a produção de um e outro com a aquisição de 32% da Santa Cruz, cuja opção de aumento para 88% deve ser exercida agora. A sinergia será advinda principalmente do canavial – a usina é próxima da São Martinho, que está no Centro-Sul de São Paulo e sofreu menos com a seca, mais concentrada no Norte do Estado. A analista observa, porém, a questão da liquidez. “A companhia tem 50% na mão da família. O float de 34,8% é interessante, mas não efetivo”, afirma.

A falta de liquidez também compromete a Tereos. Com a recente reestruturação de capital promovida para adequação aos critérios do Novo Mercado, as cooperativas de cereais que antes detinham 23,2% da Tereos Agro-Industrie (TAI) passaram a deter 19,7% das ações da Tereos Internacional. “A tendência é de as cooperativas não negociarem”, diz Baldoni, do Deutsche Bank.

Operacionalmente o horizonte é favorável. A companhia promoveu aumento de capital para obter até R$ 369 milhões, caso todos os acionistas subscrevam os papéis no valor de R$ 2,60. A empresa se mantém capitalizada graças aos R$ 1,6 bilhão em investimentos da Petrobras, dos quais metade já foi efetivada.

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