Mercado

Análise do Mercado de Açúcar

NY fechou a semana em queda em comparação com a sexta anterior. As maiores perdas se concentraram em 2009, com o Março caindo 25 pontos. O Março de 2008 teve queda apenas de 5 pontos. Aos poucos o mercado tenta se ajustar ao que parecia ser realidade antes do dilúvio insano da semana passada.

Os fundamentos agora, como ocorrem em fases de pânico, pouco interessam. São os medos e paixões que movem o mercado. As volatilidades implícitas das opções explodiram e, conforme dito aqui exaustivamente, nessas horas é importante vender opções, pois o valor tempo que corrói os prêmios pode compensar eventuais novas subidas da volatilidade, em especial àquelas com vencimento mais curto. No final da semana, como não poderia deixar de ser, as volatilidades caíram. Março 2008, por exemplo, que chegou a negociar a 49% caiu para 36%. O índice da Archer Consulting que mede o volume de hedge no mercado varia de 0 (pouco hedge) a 10 (muito hedge). O índice hoje está em 0,8. Ou seja, pânico inibe hedge.

O mercado de açúcar negociava no dia 16 de janeiro [quarta-feira retrasada] no contrato com vencimento para março de 2008, a 11.34 centavos de dólar por libra-peso, com todas as indicações de que iria trabalhar em níveis mais baixos. De repente, um anúncio foi feito por um funcionário da bolsa lendo um papel sem timbre, no sistema de alto-falantes do pregão. Dizia que todas as ordens de futuros e opções negociadas por uma trading brasileira a partir daquele momento só poderiam ser aceitas através dos respectivos membros de compensação. Qual seria a reação imediata de um operador de pregão num mercado sonolento? Pânico. Volatilidade significa dinheiro. O pânico se instalou e as cotações pularam 60 pontos com um piscar de olhos. Cinco dias antes, dia 11, segundo nota da trading à imprensa, a bolsa comunicou às corretoras que “poderia tomar uma atitude em relação às posições da trading, forçando-a a liquidá-las”. Na segunda-feira, dia 14, ainda segundo a nota, “a bolsa exigiu o pagamento adicional de margem”, o que foi prontamente efetuado pela empresa. No dia 16 veio o aviso de liquidação. Na manhã de 18, a liquidação tinha sido completada.

Do ponto de vista comercial e estratégico, não se vê anormalidade que uma trading espere o ânimo do mercado antes de decidir pela rolagem do hedge combinando sua posição delta [futuros e opções somados] com a disponibilidade que espera ter no mercado físico. O vencimento das opções de março é dia 8 de fevereiro e até lá a trading saberia o que teria de dispor no mercado físico para ajustar seus hedges de acordo com a demanda física da mercadoria. O posicionamento de estar comprado ou vendido é parte do jogo comercial desde o tempo dos fenícios.

Como o mercado futuro de commodities não cria riqueza, ou seja, é um jogo de soma zero, se alguém perde dinheiro numa operação de futuro [não levando em conta a contrapartida no mercado físico] significa que alguém está ganhando. Assim, por sua atitude desaprovada pela maioria dos traders do mercado, a bolsa de NY pode ter prestado um desserviço ao mercado de açúcar. Difícil imaginar, embora sem condições de se fazer aqui juízo de valor, que a antiga New York Board Of Trade teria atitude tão incoerente. Segundo um importante e lúcido trader do mercado, um assunto que poderia ter sido resolvido numa troca de alguns telefonemas, sem alarde e prejuízo para as partes envolvidas e para a saúde do mercado de açúcar, teve como reação intempestiva de uma bolsa sem nenhuma tradição no agronegócio [ela adquiriu a NYBOT em janeiro de 2007] o arremessamento festivo de esterco no ventilador. A volatilidade implícita das opções explodiu para estratosféricos 49%. Agora que a história chega lentamente ao mercado depois que a poeira assentou [?], imagina-se que vamos voltar ao normal em termos de preço. Embora o mercado futuro não crie riqueza, eis aqui uma situação em que todos perdem. Isso, sem contar com o dilúvio de possíveis ações judiciais que vão pulular por aí.

Do outro lado do o Atlântico, o operador francês que causou perdas de US$ 7,2 bilhões ao Société Générale, era um trader de nível básico, que só fazia opções vanilla, ou seja, opções normais, sem nada de especial, com preço de exercício e vencimento padrões, que ganhava um salário mensal de aproximadamente R$ 21.000, abaixo da média de muitos traders do agronegócio brasileiro. Como diria Sir James Michael Goldsmith, empresário e bilionário inglês [mas francês de nascimento] falecido há muitos anos, “if you pay peanuts, you get monkeys” [alguma coisa como baixos salários atraem profissionais de baixa qualidade]. O que dizer da horda de diretores, gerentes, controllers, auditores e gestores e sistemas de risco que não foram capazes de avistar a evaporação de tamanha batelada de dinheiro.

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