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Açúcar caminha para quinto superávit global

Porto de Santos: plano de  prorrogação da Rumo em avaliação
Porto de Santos: plano de prorrogação da Rumo em avaliação

Prevista inicialmente para acontecer em 2014/15, a transição de um longo ciclo de superávits globais de açúcar para o início da curva de déficits pode demorar um pouco mais para se concretizar. Algumas políticas de subsídios em países açucareiros estão impedindo que o sinal dado pelo preços baixos contenha a produção.

Assim, as estimativas divulgadas até agora sobre a temporada que se encerrará em 30 de setembro, trazem diferenças que chegam a 4 milhões de toneladas ­ vão desde um déficit de 2 milhões a um superávit de 2 milhões de toneladas. Mas pesa cada vez mais no mercado a percepção de que, pelo quinto ano seguido, vai sobrar mais açúcar no mundo.

Desde que os superávits começaram, em 2010/11, as cotações da commodity caem sistematicamente. Em outubro de 2010, estavam em 25 centavos de dólar por libra­peso na bolsa de Nova York. Nas últimas semanas, vêm sendo negociadas abaixo de 13 centavos.

Estimulados por subsídios na produção de cana e na venda externa do açúcar, os principais exportadores da commodity depois do Brasil Índia e Tailândia ­ não estão reduzindo suas ofertas, apesar de as cotações atuais estarem bem abaixo dos custos de produção, na casa dos 18 a 20 centavos por libra­peso, diz o especialista da FCStone, Bruno Lima. Para a Índia, a previsão da consultoria é de produção de 28,7 milhões de toneladas.

“No mercado já há rumores de que pode chegar a 30 milhões até junho deste ano, quando termina a colheita do país”, afirma. No fim do ano passado, o setor açucareiro do Brasil questionou a Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC), via governo brasileiro, sobre subsídios supostamente distorcivos dados a seus produtores de cana, em vigência há cerca de cinco anos. A cana naquele país tem preço fixo que é reajustado à taxa de 10% ao ano, enquanto os preços do açúcar recuam há pelo menos cinco anos, diz um especialista do setor.

Para completar, no mês passado, pelo segundo ano seguido, o governo indiano anunciou um subsídio de 5 mil rúpias por tonelada ­ equivalente a US$ 80 ou 30% por tonelada ­ para a exportação da commodity. Neste ano, o governo brasileiro, a pedido das usinas, também questionou a Tailândia na OMC, a respeito de alegados subsídios distorcivos.

“A mensagem ‘preços baixos’ não está chegando ao produtor. Por isso, os estoques estão tão grandes”, diz o estrategista de açúcar e etanol do banco holandês Rabobank no Brasil, Andy Duff. Os estoques equivalem hoje a 20% do consumo mundial, bem acima do nível de 5% a 10% que tende a levar o mercado para um equilíbrio.

Mas, para as usinas brasileiras, que são responsáveis por 50% do que se exporta de açúcar no mundo, a notícia ruim pode não se limitar a um possível superávit elevado em 2014/15, ao redor de 2 milhões de toneladas ­ entre as tradings que mais se aproximam desse número está a inglesa Czarnikow, que projeta sobra de 1,6 milhão de toneladas da commodity no ciclo.

A onda negativa pode se estender se for confirmada a percepção de que a safra que vem, a 2015/16, pode ser “apenas” de equilíbrio entre produção e consumo, e não de déficit. Além de Índia e Tailândia ­ cujos produtores de cana não vislumbram melhor rentabilidade com outras culturas no momento­, no Brasil a safra 2015/16, que começou oficialmente neste mês, tende a ser maior.

Os analistas de mercado que, no início do verão ventilavam uma repetição da moagem de 570 milhões de toneladas, já falam em número mais próximo das 590 milhões, após as chuvas nos canaviais terem ocorrido a contento no primeiro trimestre. Nesta semana, a trading Czarnikow revisou para cima sua projeção para a moagem de cana no Centro-­Sul.

Conforme a analista Ana Carolina Ferraz, o clima favorável fez a empresa elevar de 580 milhões para 595 milhões de toneladas a estimativa de moagem. Na visão do sócio da consultoria FG Agro, Willian Hernandes, apesar da tentativa das usinas de maximizar a produção de etanol, é possível que a produção de açúcar também cresça no Centro­Sul em 2015/16.

“A recuperação da produtividade neste ano na comparação com a do ano passado se dará, principalmente, em São Paulo, que tem um perfil mais açucareiro que a média da região”, explica Hernandes. Nas estimativas da FG Agro, 43% do caldo da cana deve ser direcionado para o açúcar, assim como no ciclo 2014/1. No entanto, a disponibilidade de cana será maior, de 587 milhões de toneladas, ante as 571 milhões de 2014/15.

Pesa ainda o fato de que, apesar de terem despencado em dólar, os preços do açúcar em reais ficaram relativamente estáveis, devido à desvalorização cambial. Conforme o Valor Data, em 2015, os contratos (de segunda posição) do açúcar caíram 14,54% na bolsa de Nova York, enquanto o dólar (Ptax) subiu 14,70%.

No Brasil, afirma Duff, do Rabobank, a remuneração para as usinas está estável no patamar de R$ 900 por tonelada. “Nos outros países produtores a desvalorização cambial não foi tão intensa. O que pesa são as intervenções governamentais”, observa ele.

Fonte: (Valor Econômico)

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