Alta do petróleo puxa as cotações do açúcar

A trajetória ascendente dos preços do açúcar no mercado internacional não deve ser interrompida no curto prazo. Nos últimos doze meses, os preços da commodity já acumulam valorização de 27%, mas o aumento das cotações da gasolina irão manter elevados os preços do açúcar, segundo análise do Rabobank Group, a maior instituição de crédito rural do mundo.

O etanol, um tipo de álcool destilado a partir do caldo de cana-de-açúcar, compõe 26% da gasolina do Brasil, país que é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. O governo do presidente Luiz In cio Lula da Silva pode elevar a proporção de etanol na gasolina para contornar a alta dos custos do petróleo, disse Brad Hinton, analista do Rabobank em Sidney.

“Se o governo brasileiro considerar que o preço do petróleo vai continuar alto, poder alterar o índice oficial de mistura, o que pode resultar em um salto da produção de etanol”, disse Hinton. A gasolina negociada em Nova York alcançou US$ 1,603 o galão (US$ 0,4235 o litro) ontem, o preço mais elevado de todos os tempos já alcançado pelo contrato mais próximo do vencimento.

Aumento da produção

A expansão brasileira da produção de etanol poder reduzir o volume de cana-de-açúcar destinado à produção de açúcar refinado, após a seca observada na Índia e na Tailândia ter elevado as cotações do produto. O açúcar demerara encerrou o pregão do último dia 14 a 9,23 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Mercados Futuros de Nova York, uma cotação apenas 0,9% inferior à sua alta recorde dos últimos quatro anos. O produto fechou ontem a 8,75 centavos de dólar por libra-peso.

Nos EUA, o segundo maior consumidor de etanol, a maior parte da gasolina misturada vendida nos postos de gasolina tem 10% do álcool. Veículos especialmente projetados para isso podem ser movidos a misturas de 85%, que produzem menos emissões de gases geradores do efeito estufa do que a gasolina, segundo o Departamento de Energia dos EUA.

Mudança de planos

Quase metade da cana-de-açúcar do Brasil será empregada na produção de etanol no período de um ano que se encerra em abril, segundo previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) divulgada em outubro passado. Essa parcela poder subir para um nível próximo a 52% em um momento em que as destilarias de etanol oferecem preços mais elevados pela cana do que os produtores de açúcar, disse Hinton.

O aumento da produção de etanol “poder limitar a produção de açúcar a um nível pelo menos equivalente ao do ano passado”, disse Ian Ballantyne, diretor da Canegrowers, que representa os produtores de cana do estado australiano de Queensland.

A produção brasileira de açúcar poder registrar um salto de 18% este ano, elevando-se para 31,3 milhões de toneladas, disse a analista alemã de commodities F.O. Licht. A principal região brasileira de cultivo de cana poder produzir o volume recorde de 358 milhões de toneladas, que representa um crescimento de 9,3%.

O Brasil exportou 634 milhões de galões (167,50 milhões de litros) de etanol em 2004. A alta dos preços do petróleo pode aumentar a demanda por esse combustível nos Estados Unidos e no Japão, disse Hinton. As vendas de carros movidos a álcool nos Estados Unidos deram um salto de 51% em 2003, quando totalizaram 84.558 unidades, segundo o Usda.