Mercado

Alimentos pesam na inflação

Com alta de 1,09%, o grupo de Alimentos e Bebidas foi o grande vilão da inflação em junho, levando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a variar 0,28%, repetindo a taxa de maio, segundo o IBGE. No ano, o índice ficou em 2,08%. E no acumulado de 12 meses, atingiu 3,69%, abaixo da meta de inflação do governo para 2007 (4,5%). No primeiro semestre, o grupo de alimentos subiu 3,93%, avanço mais que três vezes superior ao registrado no setor durante todo 2006: 1,23%.

— Devido ao aumento na demanda do mercado internacional e à escassez no mercado interno, o leite foi o item que mais contribuiu para a inflação no primeiro semestre.

O preço do produto cresceu 24,92% até junho, enquanto em 2006, apresentou crescimento de 3,40% — explicou Eulina Nunes, economista do IBGE, para quem a desvalorização do dólar e a perspectiva de uma safra 15% maior do que a de 2006 ajudaram a conter a inflação dos alimentos.

Além do leite, que chegou a ficar 12,40% mais caro em junho, houve as altas do feijão carioca (15,73%), cujas áreas produtoras sofreram problemas climáticos; e dos ovos (4,93%), devido a entressafra e efeitos do mercado internacional.

— Por outro lado, houve reduções nos preços de, por exemplo, arroz e frutas — disse Eulina.

Mas a inflação foi influenciada por outros reajustes em junho, ressaltou Eulina. É o caso de artigos de vestuário (0,91%) e salários dos empregados domésticos (1,11%).

A variação do IPCA foi contida pelo comportamentos de preços dos combustíveis — em queda de 1,69% em junho. A safra de cana-de-açúcar provocou uma redução de -12,35% nos preços do álcool e, em conseqüência, de 0,77% nos da gasolina.

Consumo de Índia e China pressiona Na avaliação de Solange Srour, economistachefe da Mellon Global Investments Brasil, a alta dos alimentos confirma um cenário de choque de oferta, com um aumento de demanda dos consumidores de China e Índia.

— Para o Brasil, esse cenário é bom a médio prazo. Isso porque o país é o segundo maior exportador de commodities do mundo — disse Solange, que, apesar da alta, projeta uma inflação de 3,7% a 3,8% em 2007.

— Não devemos ter problemas em manter a taxa na meta do governo. Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, o aumento de demanda de China e Índia é positivo para a balança comercial do país.

— Há um problema de inflação no mundo. No caso do Brasil, só devemos ter uma inflação de 4,5% em dois anos — prevê ele.

O economista João Gomes, do Instituto Fecomércio-RJ, por sua vez, projeta um IPCA por volta de 3,5% para o fim do ano.

— As pressões atuais são sazonais, o câmbio está em baixa e a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) indica aumento na capacidade de produção.

Tudo indica que a relação entre oferta e demanda se manterá favorável ao controle da inflação. Além disso, a média dos núcleos (em que são excluídas as maiores variações) apresentou um resultado positivo, uma desaceleração de 0,31% para 0,26%.

Segundo especialistas, os alimentos ainda devem exercer pressão sobre a inflação em julho. O leite, por exemplo, pode ficar mais caro, citou Eulina, do IBGE. Mas há outros fatores que vão pesar na apuração do índice: — A telefonia no Rio, em julho, vai registrar alta de 3,30%. O que é resultado da nova metodologia de cálculo, que precisa se adaptar às mudanças na cobrança, de pulso para minutos.

Eulina acrescenta que, por outro lado, os gastos com energia elétrica cairão em São Paulo — região de maior peso no índice.

— A inflação de julho vai depender do desempenho dos alimentos — concluiu a economista.

Indicador da terceira idade subiu mais A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou ontem o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), que mede a variação da cesta de consumo de famílias compostas majoritariamente por pessoas com mais de 60 anos. No segundo trimestre, o IPC-3i variou 1,18% — acima do IPC-Brasil (0,98%).

No ano, o IPC-3i registra 2,77%.

Foi a habitação que pesou mais no bolso desse consumidor no segundo trimestre. Segundo a FGV, o grupo passou de 0,36% para 1,49%. O que respondeu ao impacto do aumento de empregados domésticos (de 1,16% para 4,31%). O leite, no entanto, foi o item de maior contribuição individual na taxa — com variação de 27,83% no primeiro trimestre.

Efeito etanol torna ovos mais caros

A dúzia de ovos ficou em julho até 20% mais cara para o consumidor. É o efeito etanol — que aumentou as exportações de milho (matéria-prima do combustível) e elevou o preço do produto no atacado. O mesmo milho, aliás, é usado para rações para a granja dos produtores.

E o frio ainda reduziu a produção de ovos, ao mesmo tempo em que a demanda aumentou, tornando o produto menos farto no país.

Nos últimos 30 dias, os ovos ficaram cerca de 30% mais caros no atacado, segundo José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio. A alta já chegou ao varejo.

Segundo levantamento do Instituto Fecomércio-RJ, o preço médio da caixa de ovos subiu de R$ 2,23 (23 de maio) para R$ 2,45 (30 de junho) — numa alta de 9,8% em menos de 30 dias.

No Princesa, por exemplo, nos últimos 30 dias, os ovos sofreram aumento de cerca de 20%. Ao longo da semana, a venda média por loja foi de R$ 2,39 a dúzia, contra R$ 1,99, em média, há 30 dias. No Prezunic, a dúzia de ovos custa, em julho, R$ 2,53 (17,6% acima do preço de janeiro).

— Essa alta já é um reflexo do etanol, que demandou mais milho no mercado internacional.

E isso pode atingir o frango, que também sofre influências da carne — explicou Salomão Quadros, da FGV.

Segundo Cesar de Souza, presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Milho (Abimilho), o etanol fez o preço do grão subir 80% no mercado interno. E, no mercado internacional, a tonelada, que chegou a ser vendida abaixo do US$ 100, é negociada na faixa dos US$ 150.

— Todos os produtos com o milho em sua composição terão uma perspectiva de alta nos próximos meses — disse Cesar de Souza.

A confeiteira Beth Gomes já sentiu o peso do reajuste. Ela prevê aumentos de preço em agosto em sua tabela: — Só ia reajustar no fim do ano. Mas, com alta de ovo e leite, terei que adiantar. (FR)

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