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Álcool combustível sobe 6% e gasolina já é vantajosa em alguns postos do Rio

Os preços do álcool combustível continuam em alta em todo o país. Entre os dias 19 de setembro e 16 de outubro, o valor do litro do combustível nas bombas subiu 6,10% na média nacional, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). A entressafra, que começou no fim de setembro, e a instabilidade climática que afetou as lavouras de cana-de-açúcar na última safra (seca durante o plantio e chuva na colheita) foram as causas apontadas pelos produtores para a elevação dos preços.

No Rio e em São Paulo, estados que concentram boa parte da frota de veículos biocombustíveis, os aumentos foram de 3,48% e 10,32%, respectivamente, nas últimas quatro semanas.

Nos postos fluminenses, a média de preço por litro passou de R$ 1,71, no dia 19 de setembro, para R$ 1,812, em 16 de outubro. Se continuar essa tendência, em breve o álcool pode deixar de ser vantajoso no Rio. Como o álcool rende menos nos veículos flex, seu preço deve chegar a, no máximo, 70% do valor da gasolina para valer a pena. Hoje, o preço médio do litro da gasolina no Estado do Rio está em R$ 2,616 — ou seja, o custo do etanol equivale a 69% do valor da gasolina.

Produtores de cana dizem que precisam recuperar perdas

Já o etanol vendido em São Paulo foi reajustado de R$ 1,425 para R$ 1,572 o litro entre 19 de setembro e 16 de outubro. Para o presidente do Simcopetro (sindicato que reúne os proprietários de postos de combustíveis), José Alberto Gouveia, a alta nos preços do etanol deve continuar, podendo atingir R$ 1,90 por litro até o fim do ano: — Acho difícil chegar a R$ 2, como já tem gente dizendo, mas R$ 1,90 é bem provável.

Segundo ele, os usineiros alegam que a última safra rendeu menos que o esperado e, com o preço do açúcar favorável no mercado internacional, a alta do álcool combustível deve se estender até março de 2011. Apesar do cenário negativo, Gouveia afirma que não deverá faltar etanol nos postos.

— Os estoques estão baixos, mas não vai faltar álcool. Em março, o valor do litro deverá voltar para o mesmo patamar de junho, em torno de R$ 1,29 por litro — disse ele.

O diretor-técnico da Única (entidade que reúne as usinas de álcool e açúcar no país), Antonio de Pádua Rodrigues, lembra que o que vai definir o preço do etanol depois da entressafra será o tamanho da oferta, que deverá ser de 26 bilhões a 27 bilhões de litros. Esse volume, segundo ele, seria suficiente para atender a 60% da frota de veículos que utilizam álcool.

Pádua afirma que o setor vem de um período de dois anos de perdas e de forte expansão da produção para atender a demanda dos carros flex e do mercado externo. Agora, diz ele, as usinas vão querer recuperar prejuízos, agravados com a crise financeira internacional, que deixou muitas empresas em dificuldades com a redução do crédito.

— Com a falta de crédito, o produtor deixou de investir na lavoura e a quantidade de etanol não cresceu na mesma proporção do consumo. Isso acabou gerando um descompasso entre oferta e demanda.

O executivo da Única disse ainda que o preço do etanol deve se estabilizar em um patamar mais alto depois da entressafra.

Postos do Rio alegam que só repassam alta de distribuidor

Insatisfeito com o valor do etanol, o escrevente Carlos Henrique dos Santos, de 47 anos, avalia a possibilidade de começar a abastecer o seu Punto 1.4 Flex com gasolina a partir de agora. Ontem ele encheu o tanque no Posto Maquiné, da BR, que fica em frente ao Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio. O etanol custava R$ 1,899 e a gasolina R$ 2,697 — uma relação de 70,41%, que dá vantagem à gasolina.

— O álcool está muito caro.

Há alguns meses em pagava menos de R$ 1,50 pelo litro. A variação está me custando cerca de R$ 70 por mês — afirmou.

No Posto Catedral, localizado na Lapa e de bandeira Shell, o corretor de seguros Jaguaraci de Lima, de 51 anos, também reclamou do valor do etanol: — Meu carro é a gás e a álcool.

Mesmo abastecendo muito pouco com etanol, já sinto no bolso seu alto preço. Só não entendo o motivo, já que plantamos tanta cana-de-açúcar.

Segundo o presidente do sindicato dos postos de gasolina do estado do Rio (SindestadoRJ), Ricardo Lisboa Vianna, as bombas só repassam o aumento dos distribuidores: — O aumento do álcool é muito ruim para os postos, que apenas repassam a variação.

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