Mercado

Agronegócio como prioridade

Por Carlo Severino, de Ribeirão Preto

A diretora na região de Ribeirão Preto da Associação Brasileira de Agrobusiness, Mônica Bergamasche, aponta as principais razões para que o novo governo reveja o tratamento reservado para a agroindústria. Defende o setor sucroalcooleiro por suas vantagens sociais, econômicas e ambientalistas e adverte que o agronegócio já é responsável por 37% dos empregos no País.

JC – Qual importância que o agronegócio deve ter no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

Mônica – Para um governo que se elegeu empunhando as bandeiras da melhoria da qualidade de vida, com foco na geração de empregos, na eliminação da fome e na melhor distribuição de renda, é o agronegócio que representa, a curto e médio prazo, a melhor alternativa para o cumprimento destas metas. O setor já é o responsável por 37% dos empregos do país e o que mais gera empregos por unidade investida de capital. O potencial produtivo do país também é extraordinário. Cultivamos cerca de 56 milhões de hectares e existem outros noventa a serem abertos sem tocar nas áreas de florestas, mas vale a ressalva de que a questão da fome no Brasil não está na falta de alimentos, mas na ausência de recursos dos mais carentes para adquirir os produtos produzidos – a desoneração da cesta básica já seria um excelente primeiro passo. A competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional também é um fator que deve ser tratado com atenção pelo novo governo. O agronegócio é o único setor superavitário da balança comercial brasileira. Além de gerar riquezas para o país, alavanca um processo produtivo que gera novos empregos, amplia a arrecadação de impostos e movimenta a indústria, o comércio e o setor de serviços.

JC – Quais as principais distorções que precisam ser corrigidas?

Mônica – A exemplo dos demais setores da economia, o agronegócio também se ressente de uma série de reformas, como a tributária, a monetária, a fiscal, a trabalhista, a previdenciária, mas o sucateamento dos instrumentos de políticas públicas setoriais também comprometem a competitividade dos produtos do agronegócio brasileiro. O crédito rural, caro e insuficiente, a inexistência de seguro rural, a logística ineficiente, a obsolescência da legislação ambiental, a excessiva carga tributária, entre outros pontos, são distorções internas que afetam diretamente o setor. Do ponto de vista externo, o principal problema está no protecionismo praticado pelos países ricos, que demandará pulso e firme posicionamento dos negociadores brasileiros nos fóruns internacionais.

JC – No caso do setor sucroalcoleiro que papel ele deve desempenhar?

Mônica – Além do açúcar e do álcool combustível, o setor representa uma fabulosa potencialidade na co-geração de energia a partir do bagaço, mas, para tanto, investimentos em tecnologia são necessários. Como a matriz energética brasileira não inclui nem o álcool, nem a energia de co-geração, estes investimentos são de certa forma inibidos face à incerteza dos mecanismos de comercialização dos produtos produzidos. O novo governo deveria reavaliar esta situação.

JC – Como essa matriz energética deve ser encarada pelo governo?

Mônica – Deve ser encarada como uma questão estratégica. A energia é um fator condicionante do crescimento econômico. O álcool combustível, além de ser renovável e não poluente, diminui a necessidade de importação de petróleo, gera empregos e impostos ao longo de toda a cadeia produtiva da cana. Quanto à energia elétrica, os maiores riscos de racionamento coincidem com o período da safra da cana-de-açúcar. A tecnologia de co-geração está desenvolvida, o prazo para instalação do projeto é relativamente curto e o custo da energia produzida é mais baixo.

JC – A senhora defende que tipo de presença do governo no setor?

Mônica – Não apenas no segmento sucroalcooleiro, mas em todos os outros segmentos do agronegócio, o que se espera é que o governo trabalhe em parceria com o setor privado, a academia e o legislativo. O delineamento de uma política consistente para o agronegócio, certamente levará à ampliação dos investimentos e ao aumento da competitividade dos produtos brasileiros. A nomeação de Roberto Rodrigues, produtor rural, profundo conhecedor da dinâmica do agronegócio, grade conciliador e líder cooperativista, para comandar o Ministério da Agricultura foi recebida com muito entusiasmo, sinal de que o diálogo será a tônica desta nova gestão.

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