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Agrinvest produz com mentalidade de trading

Típica representante do novo perfil de empresa agrícola que emergiu no país na segunda metade da década passada (o de companhias com larga escala de produção, gestão profissional e acesso ao mercado de capitais), a Agrinvest do Brasil prevê colher 270 mil toneladas de grãos nesta safra 2012/13 e ultrapassar, pela primeira vez, a barreira dos R$ 200 milhões em receita.

No ano passado, a companhia com sede em Ribeirão Preto (SP) e unidades de produção em Mato Grosso e no Cerrado Nordestino faturou R$ 194,8 milhões, 52% a mais do que em 2011, e obteve um lucro líquido de R$ 4,32 milhões – revertendo o prejuízo de R$ 6,9 milhões do exercício anterior.

A expectativa é que o faturamento cresça 10% neste ano, impulsionado pelo aumento na produção de sua principal commodity – a colheita de soja deve somar 220 mil toneladas nesta temporada, ante 200 mil na anterior. Cerca de 90% dessa produção já foi comercializada.

Em compensação, a produção de milho deve cair, de 60 mil para 50 mil toneladas, reflexo da redução da área. “Optamos por reduzir o plantio porque o cenário atual indica que os preços do milho dificilmente vão se sustentar neste ano”, justificou Roberto Martins, sócio-administrador da companhia.

Criada em 2005 com recursos do fundo americano Ridgefield Capital, a Agrinvest investiu cerca de US$ 100 milhões desde o início de suas atividades. Nesta safra, a companhia cultivou 77 mil hectares – cerca de 72 mil no Maranhão e 5 mil em Mato Grosso. Segundo Martins, o objetivo é adicionar mais 5,8 mil hectares de área plantada neste ano. “Ao todo, ainda temos 22 mil hectares para expandir entre Maranhão e Piauí”, afirma ele.

Apesar da grande área plantada, a Agrinvest mantém pouco capital imobilizado em terras. Dos quase 100 mil hectares que administra, apenas 12,6 mil são de sua propriedade. O restante é explorado por meio de contratos de arrendamento, com duração média de 12 anos. Os seis blocos de fazenda controlados pela empresa são gerenciados a partir da sede, em Ribeirão Preto.

O executivo garante que a Agrinvest não trabalha com metas em relação ao tamanho da área de cultivo e que a empresa já alcançou uma escala suficientemente grande para que consiga obter economias na compra de insumos e na venda de seus produtos. “Não vamos crescer por crescer. O objetivo é ser eficiente e lucrativo. Se o mercado de terras mantiver a tendência de alta, talvez não faça mesmo sentido expandir”, diz Martins.

Ele afirma que os preços da terra no Maranhão subiram “dramaticamente” desde 2007, quando a companhia fincou os pés na região, o que estimulou a corrida para áreas baratas no vizinho Piauí. “Os preços subiram muito também no Piauí, mas, após duas quebras seguidas de safra, é possível que tenhamos algum arrefecimento”, especula.

A Agrinvest também limita seus investimentos em máquinas. Embora seja proprietária de 95% dos equipamentos usados no plantio, toda a atividade de pulverização e colheita é tocada por terceiros. “Há boa disponibilidade de prestadores de serviço com mais competência do que a gente para gerenciar colheitadeiras. Nosso foco é comercializar bem”, afirma.

Em 2012, a Ridgefield Capital vendeu sua participação na Agrinvest para um grupo de investidores brasileiros, do qual Martins faz parte. “São todos nomes com experiência no mercado físico de commodities”, afirma. Ele próprio atuou por anos como trader de açúcar e álcool em multinacionais como Sucden e Louis Dreyfus. “Nosso objetivo é construir uma empresa de operação agrícola com foco em gestão de risco, com mentalidade de trader e não de produtor”, afirma. Martins não revela o valor de aquisição da participação da Ridgefield.

Uma eventual abertura de capital – caminho seguido pela SLC Agrícola, Vanguarda Agro e Brasilagro, empresas de perfil semelhante – ainda não está no horizonte da Agrinvest. “Acreditamos que abrir capital no Brasil é coisa para empresas de porte maior. Se formos ao mercado, é interessante que tenhamos um histórico de bons resultados para mostrar”, diz Martins.

A Agrinvest ganhou destaque em 2010 após realizar uma operação financeira considerada pioneira no setor. Ainda sob controle da Ridgefield, a companhia captou US$ 26 milhões para capital de giro por meio de uma colocação privada de títulos para investidores superqualificados na Euroclear, uma câmara internacional de compensação – semelhante à Cetip, no Brasil.

Martins explica que a empresa está negociando a rolagem dessa dívida, que venceria neste ano, para 2015, com juro de 11,5% ao ano, ante 12% na emissão original. Ele avalia que os investidores estrangeiros continuam com apetite para financiar empresas brasileiras ligadas ao agronegócio, embora estejam bem menos dispostos a participar como investidores em meio ao imbróglio envolvendo a participação de estrangeiros na compra de terras no país.

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