Adequar-se ou restringir-se

A União Européia anunciou este ano um plano de corte de emissões de CO2 na atmosfera até 2020. Neste prazo, a proposta prevê, entre outras medidas, que 10% dos veículos que circulam na UE sejam movidos a etanol. Essa projeção de demanda animou o setor de biocombustíveis

do Brasil, potencial fornecedor. No entanto, as regras para entrada nesse mercado deverão ser rígidas. A especialista em certificação de produtos agrícolas Rita Fróes, gerente da Independent Quality Standards(IQS), alerta os produtores brasileiros de etanol para a necessidade de adequação do biocombustível nacional às exigências do mercado mundial. Em entrevista ao JornalCana ela fala sobre o funcionamento do selo Grün Pass para biocombustíveis e faz ponderações em relação às ações do Governo Federal para garantir a entrada do Brasil nesta competição.

JornalCana – Como as empresas brasileiras devem se preparar para enfrentar o mercado mundial de biocombustíveis?

Rita Fróes – Como fornecedores de biocombustíveis, os produtores brasileiros devem estar aptos a atender às exigências dos mercados mais rígidos do mundo. De forma rápida e eficaz, as usinas devem manter uma efetiva política de responsabilidade social, ser ambientalmente correta e adotar medidas economicamente viáveis. Isso inclui estudos de viabilidade do negócio, processos de produção competitivos e adequação às especificações técnicas mundiais do produto.

O Brasil busca um padrão mundial para biocombustíveis, em parceria com os EUA e a UE. É um trabalho satisfatório?

Os estudos e as negociações conjuntas em torno dos detalhes técnicos, tais como a presença de resinas, octanagem, pureza, etc., são de fundamental importância para que se chegue a um consenso quanto a padrões claros, de modo que o etanol e o biodiesel sejam produzidos

sob as mesmas práticas e normas no Brasil, nos Estados Unidos ou na União Européia. Esse consenso também permitirá maior credibilidade e facilidade de acesso do etanol e do biodiesel em mercados como os

de países asiáticos.

Como você avalia o biocombustível produzido no Brasil?

É de altíssima qualidade e proporciona rendimentos já comprovados nos motores. O Brasil pode atender a qualquer demanda de mercado, pela extensão continental e clima favorável, além do domínio da tecnologia

de produção. Outros países também possuem alta qualidade e bons rendimentos, entretanto as fontes utilizadas nem sempre são as mais viáveis. Além disso, com o crescimento da demanda, certamente não conseguirão atender o mercado.

O que é o selo Grün Pass?

O Grün Pass de biocombustíveis é uma certificação que garante que determinado lote de etanol ou biodiesel foi produzido, industrializado, transportado e comercializado obedecendo a rígidos padrões de qualidade, sob a nova ética dos mercados mais evoluídos, seguindo parâmetros de responsabilidade social, ambiental e econômica. Ele atesta padrões internacionalmente aceitos em todas as etapas do processo, da produção à entrega ao comprador final.

Quais são as vantagens da certificação?

A principal é a certeza de que os produtos atendem às exigências dos principais mercados. Outra vantagem é a mudança da imagem do setor perante o mercado externo, o que permite a abertura de frentes de negócio internacionais, por meio da quebra de barreiras comerciais

normalmente impostas pelos principais centros consumidores, principalmente a União Européia.