Mercado

Açúcar planeja expansão no exterior

O Brasil deve ganhar espaço dos fornecedores europeus no mercado mundial de açúcar a curto prazo, o que torna o desejo de muitos países importadores do produto de se tornarem auto-suficientes menos preocupante para os exportadores brasileiros.

Segundo divulgação recente da F.O.Licht, Rússia, Indonésia, Egito e Tailândia trabalham para chegar à auto-suficiência a médio prazo, sendo o mercado russo o principal destino das exportações brasileiras. Há estimativas, de acordo com a Sucres et Denrées S.A. (Sucden, empresa francesa de comercialização e produção de açúcar que atua em Moscou), que apontam a que os russos pretendem importar bem menos neste ano: 1,7 milhão de toneladas, ante os 3,2 milhões de toneladas importadas em 2007.

Segundo o analista da Safras & Mercados Miguel Biegai, a participação dos exportadores europeus de açúcar nas exportações mundiais já caiu nos últimos dois anos. “Brasil e Índia já vêm preenchendo esse espaço e o Brasil é o principal beneficiário”, opina Biegai.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) estabeleceu redução de produção de açúcar na União Européia, em 2005, segundo o analista, porque, na avaliação do órgão, a exportação do produto subsidiado prejudica o desempenho das exportações de países emergentes. “A União Européia exportava entre 5 e 6 milhões de toneladas por ano de açúcar e agora tem quota-limite de vendas externas. O bloco só pode vender 1,37 milhão de toneladas por ano de açúcar ao mundo”, diz Biegai.

O nicho que está se abrindo deve ser disputado por Brasil e Índia. Entre os mercados onde o Brasil pode ampliar cada vez mais sua participação estão os países da Ásia e do Oriente Médio – entre eles, China, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Argélia.

“O Brasil pode ganhar espaço dos europeus, mas indiretamente. Isso porque a União Européia exporta açúcar refinado”, lembra Arnaldo Luiz Corrêa, diretor da Archer Consulting. O especialista atenta para o fato de que os brasileiros exportam, em maior volume, o açúcar bruto, já que muitas usinas não possuem refinarias e, muitas vezes, o preço final não compensa suficientemente o custo de refinar o produto.

“Mas há a chances indiretas de ampliar participação, porque alguns países que importavam da Europa investiram na construção de refinarias de açúcar nestes últimos anos. Nigéria e Argélia são exemplos”, conta Corrêa.

Produção européia

O bloco produzia 18 milhões de toneladas ao ano de açúcar até 2005 e terá de reduzir esse número em 4,8 milhões de toneladas, segundo estabeleceu a OMC. Os países europeus vão produzir o suficiente para atender seu consumo interno mais a quota autorizada para exportação. Já na safra 2006/07, houve redução de 2,2 milhões de toneladas na produção de açúcar e está prevista nova redução, de pouco mais de 2,5 milhões de toneladas, para a safra 2008/09, segundo consultores.

Atualmente, a participação brasileira no mercado mundial de açúcar (exportações e importações) é de 40% de um volume comercializado de cerca de 47 a 50 milhões de toneladas por ano. O Brasil vem aumentando participação principalmente por ganhar mercados, segundo os analistas. Em 2002, o País tinha fatia de 28% do mercado mundial.

Auto-suficiência

Para o diretor estratégico da ETH Bioenergia-empresa da Organização Odebrecht que atua na produção de açúcar, etanol e energia elétrica- Eduardo Pereira de Carvalho, a Rússia não deve alcançar auto-suficiência na produção de açúcar, uma vez que os custos para a produção do açúcar à base de beterraba são maiores do que os do obtido a partir da cana-de-açúcar. “Eles fazem um excelente marketing do seu produto e de seu potencial dizendo isso, mas não deve se concretizar. A Rússia continuará dependente do mercado externo”, afirma.

Carvalho concorda com os analistas e diz que, mesmo que o Brasil perca parte do mercado russo de açúcar, poderá compensar essa redução com embarques para países emergentes e grandes consumidores, como, por exemplo, a China.

“Não podemos descartar o mercado norte-americano, que é muito restrito, mas pode vir a se abrir para o Brasil”, diz.

No ano passado, as vendas brasileiras ao mercado russo chegaram a US$ 1 bilhão, contra US$ 1,2 bilhões exportados em 2006, segundo dados do governo.

A Rússia produz açúcar a partir da beterraba. O país possui 79 usinas em operação e a produção alcançou 3,2 milhões de toneladas em 2007. O país é o maior importador mundial. Em sete anos, a produção praticamente dobrou, passando de 1,72 milhão de toneladas em 2000 para 3,5 milhões de toneladas em 2007, segundo dados da F.O. Licht.

Além do aumento de produção, as previsões são de consumo estável. Não se espera nenhuma grande alteração, e o consumo deve se manter abaixo das 6 milhões de toneladas por ano, segundo a Sucden.

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