Mercado

Acordo para o etanol

A idéia do governador do Estado americano da Flórida, Jeb Bush, de criar uma instituição internacional, com a participação de produtores brasileiros, para promover o uso do etanol em todo o hemisfério começa a sair do papel com a assinatura do acordo para a criação da Comissão Interamericana do Etanol. Da parte brasileira, o principal patrocinador desse acordo é o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que preside o Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp.

O entendimento entre autoridades e empresários do Brasil e dos EUA é inédito. É o primeiro acordo bilateral a respeito do etanol. A gestão caberá à iniciativa privada, mas do acordo participa uma instituição multilateral, o BID. É também a primeira iniciativa internacional destinada a construir estratégias de longo prazo para o desenvolvimento de mercados, realização de pesquisas e estímulo às relações comerciais no campo da agroenergia.

A idéia começou a ser discutida no ano passado, quando Rodrigues ainda integrava o Ministério do governo Lula.

Como ele não tem mais funções públicas e o governador Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush, deixará o cargo em janeiro, decidiu-se que a comissão, de âmbito continental, seria criada sem representantes governamentais, mas, por sugestão de Rodrigues, com a participação do BID.

Brasil e EUA são, hoje, os maiores produtores mundiais de etanol, considerado o combustível líquido renovável de maior sucesso. A produção somada dos dois países é de 34 bilhões de litros por ano, mas pode ser dobrada em dez anos, se houver demanda para isso.

Caberá à Comissão Interamericana do Etanol, como informou Rodrigues ao repórter Agnaldo Brito, do Estado, estudar a demanda potencial do combustível no mundo, analisar a capacidade de produção, discutir meios de estimular pesquisas de novas matériasprimas, além de propor meios para transformar o etanol em commodity e formas de ampliar seu comércio no mundo.

Os Estados Unidos consomem 530 bilhões de litros de gasolina por ano. Legislação aprovada em 2005 exige que, a cada ano, e até 2012, 28 bilhões de litros de combustíveis renováveis sejam colocados no mercado. É enorme, assim, o mercado potencial para o etanol.

Em carta que encaminhou em maio último ao presidente George W. Bush, o governador Jeb Bush disse que os Estados Unidos estavam diante de uma oportunidade única para “colocar em prática uma política energética que fortaleça nossa segurança, estimule o desenvolvimento econômico, aumente a proteção aos recursos naturais e promova o livre-comércio em nosso hemisfério”.

Essa política, disse o governador da Flórida, deve basear-se no aumento da produção local e da importação de etanol, especialmente do Brasil, o que reduziria a dependência dos EUA do petróleo importado, melhoraria as relações entre os países americanos e reduziria a emissão de poluentes pelos automóveis.

Embora os Estados americanos consumidores de etanol defendam a importação, os produtores do MeioOeste, que se dedicam à cultura do milho, com o qual se produz o álcool combustível nos EUA, resistem à idéia e conseguiram, por meio de pressões sobre o Congresso, prorrogar até janeiro de 2009 a tarifa equivalente a US$ 0,54 por galão importado que se extinguiria em outubro de 2007.

Mesmo assim, são muito boas as possibilidades de negócios para o Brasil. Eles não devem, como observou Roberto Rodrigues, se limitar às exportações de etanol. “Podemos exportar inteligência, uma usina completa, a gestão de açúcar e de álcool”, exemplificou. “Quero exportar a gestão de logística, o carro flexfuel. É uma ação que pretende agregar valor às exportações brasileiras.” Mas problemas podem surgir se, em algum momento, houver necessidade de ação do governo brasileiro para impulsionar o acordo.

Como lembrou Rodrigues, hoje nada menos que oito Ministérios atuam na área de agroenergia, e não existe ainda uma política unificada para todos eles. E, se e quando houver uma política dessas, será necessário avaliar como ela se articulará com as ações já desenvolvidas pela iniciativa privada.

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